Visão geral
O mercado esteve especialmente atento ao movimento do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Desde o final do ano que o Fed mudou sua posição acerca das taxas de juros em 2019.
De uma expectativa de três elevações dos juros ao longo de 2019, passaram para duas e, enfim, para nenhuma. Isso mexeu profundamente com investidores, que não esperavam tal mudança.
O câmbio se encontra, basicamente, “andando de lado”, com oscilações de curto prazo acompanhando especialmente questões locais, como a Reforma da Previdência no Brasil, Guerra Comercial entre EUA e China, o Brexit na Europa, além da eminente desaceleração da economia do bloco europeu.
Real x Dólar
Em meio à relatos de que os EUA e a China começaram a delinear um acordo para encerrar sua prolongada guerra comercial, mercados começaram a responder positivamente.
Autoridades de ambos os países se reuniram para mais uma rodada de negociações nesta quinta (21) e na sexta-feira (22). Os EUA e a China estão tentando resolver suas diferenças sobre o comércio antes do prazo de 1o de março – prazo este no qual o presidente Donald Trump definiu que elevará as tarifas de importação de 10% para 25%.
Os investidores também digeriram as atas da última reunião de política monetária do Federal Reserve. O banco central destacou riscos negativos para a economia norte-americana, dentre eles:
- “as possibilidades de uma desaceleração mais acentuada do que o esperado no crescimento econômico global”,
- um “rápido declínio dos estímulos da política fiscal”,
- e um “maior aperto das condições do mercado financeiro”.
Real x Euro
As bolsas de valores europeias operam entre altas e baixas até quinta-feira (21/2), em meio à um sentimento cauteloso. As duas maiores economias do mundo podem em breve finalizar um acordo comercial para acabar com uma disputa prolongada que envolveu também o bloco europeu.
Não obstante, a maior influência continua sendo a preocupação com a desaceleração econômica do bloco. Está cada vez mais evidente que o bloco europeu entrará em uma forte recessão e o Euro caminha “de lado” acompanhando as expectativas sobre os resultados econômicos.
Real x Libra Esterlina
A primeira-ministra britânica, Theresa May, se encontrou com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, na noite de quarta-feira (20/2), gerando especulações de progressos com as negociações do Brexit.
Espera-se que a próxima reunião seja na cúpula da Liga UE-Árabe neste final de semana no Egito. O prazo para o Brexit está cada vez mais apertado (pouco mais de um mês), portanto, um acordo é essencial.
Emergentes
A moeda brasileira perdia valor frente às principais moedas emergentes no meio desta semana. Essa condição trouxe novo aumento no nosso índice de câmbio, ou seja, de modo geral, o Real vale menos agora que no final do mês de janeiro.
Com exceção do Peso argentino e do Rand Sul-Africano, o real perdia valor frente às moedas mais importantes do mundo emergente.
Esse movimento não deve ser duradouro no curto prazo e é provável que o Real recupere parte da desvalorização vista nesta semana, no entanto, no longo prazo as perspectivas são outras.
Perspectivas
Como pode ser visto nos gráficos acima, o Real ganhou força frente às moedas britânica, norte-americana e da eurozona. O movimento reflete as boas expectativas que rondavam a apresentação da reforma da previdência em âmbito nacional.
No entanto, o que se viu a partir do meio desta semana foi uma desvalorização do Real frente às principais moedas dos países desenvolvidos e dos emergentes.
Isso acontece por diversos motivos, entre os quais podemos destacar o desgaste político envolvendo o ex-ministro da Secretaria-geral da República, Gustavo Bebianno e o presidente Jair Bolsonaro.
É importante destacar também o movimento de longo prazo. Aqui, cabe lembrete acerca do que já foi dito na seção do dólar, a movimentação do Banco Central dos Estados Unidos.
Se os juros nos Estados Unidos permanecerão inalterados então, o que se espera da moeda brasileira é uma valorização de curto e médio prazo, certo? Errado!
A queda da inflação a partir de junho de 2019, deve abrir espaço para a diminuição da taxa básica de juro brasileira (Selic) ainda em 2019, além disso, a política monetária mais frouxa por parte do Banco Central dos Estados Unidos e uma possível desaceleração da economia global agem pela desvalorização do Real frente ao Dólar no médio e longo prazo.
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André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.