Visão geral
Na última semana, a moeda brasileira se comportou de forma bem menos volátil. Pressões pela desvalorização do Real tiveram seus impactos diminuídos por conta de uma melhora no ambiente político interno.
A despeito de todos os problema do governo – e de alguns pontos da PEC 6/2019 -, o que deu a tônica da semana foi a apresentação da reforma da previdência. Ou seja, ainda que a reforma possa encontrar alguns problemas durante as negociações junto ao Congresso Nacional, o pontapé inicial foi dado.
Além disso, outros acontecimentos ao redor do mundo, como o desenrolar do Brexit, a perspectiva dos juros americanos e as negociações comerciais entre China x EUA condicionaram os movimentos das principais moedas do globo. Acompanhe.
Real x Dólar
O Real se comportou de forma menos errática em relação ao dólar na última semana semana. Com isso, fechou o mês de fevereiro com pequena valorização, condicionada principalmente pela apresentação da reforma da previdência.
A PEC 6/2019, no entanto, carregou alguns pontos que podem gerar dificuldade na tramitação pelas casas parlamentares.
Artigos que tratam da diminuição do benefício de prestação continuada e de mudanças em regras trabalhistas, podem gerar discussões mais duradouras e abrir caminho para que o Congresso tenha ainda mais poder de barganha junto ao Executivo.
Do lado da economia, os indicadores econômicos de 2018 já foram publicados, o PIB brasileiro variou positivamente em 1,1% em 2018 e os dados de janeiro e fevereiro mostram que a economia nacional continua em banho maria.
No cenário externo, a confirmação de que os Estados Unidos farão uma política monetária acomodatícia em 2019 permite que coloquemos no radar a possibilidade de diminuição da taxa de juros a partir das próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
A guerra comercial entre China e Estados Unidos parece ter abrandado novamente e isso exercerá pressões pela valorização do Real no curto prazo. Mas veremos, adiante que a tensão comercial se resolvido nos termos desta sema podem prejudicar o Brasil.
Deste modo, existem pressões pela desvalorização do real. Os termos de um abrandamento das tensões comerciais podem prejudicar o Brasil, a economia em marcha lenta pode obrigar o Banco Central a baixar os juros por aqui e, por fim, o desdobramento da tramitação da reforma da previdência pode decepcionar os mercados.
Real x Euro
De forma análoga ao dólar, o Euro andou de lado nesta última semana. As pressões vindas da falta de acordo do Brexit foram parcialmente anuladas pela apresentação da reforma da previdência.
Agora existe uma possibilidade de nova prorrogação da saída do Reino Unido da União Europeia e, de certa forma, isso acalmou os mercados.
Porém, essa alternativa é temporária. Caso seja aprovado o adiamento da saída, nos próximos dois anos os problemas permanecerão no radar dos mercados.
O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, disse que se o Reino Unido realmente decidir rever o prazo para o divórcio com a União Europeia, eles têm que explicar o motivo, fazendo referência a dificuldades contratuais.
Real x Libra Esterlina
A Libra teve uma das maiores variações dos últimos anos. Seu comportamento em relação ao real é reflexo do seu comportamento frente às principais moedas internacionais.
Esse movimento aconteceu pela possibilidade de um acordo que daria mais prazo para que Reino Unido e União Europeia pudessem chegar a um termo que não transforme o divórcio em um caos total.
A saída do bloco sem um acordo seria catastrófica. Segundo a análise do Banco da Inglaterra, a crise gerada na Ilha seria maior que a de 2008. Nesse sentido, em linha com o movimento do Euro, a Libra Esterlina registrou um forte movimento de valorização na última semana.
Emergentes
Essa semana, a moeda brasileira também ganhou força frente às principais moedas emergentes. Apesar de apresentar desvalorização de cerca de 1,91% frente ao mês de janeiro, o Real ganhou corpo nos últimos dias, em função da apresentação da reforma da previdência.
E apesar deste avanço, no último dia de fevereiro o Real perdia força frente às moedas da China, Rússia, Índia, México, Malásia, Egito, entre outras, por conta da possibilidade de diminuição de negócios com a China.
Segundo informações, o abrandamento das tensões comerciais entre China e Estados Unidos, teria como pano de fundo o aumento do comércio de bens primários entre os dois países.
Em outras palavras, China compraria produtos primários (em especial a soja) dos EUA, deixando o comércio com o Brasil em segundo plano. Isso certamente afetaria o volume de exportações do Brasil à China. Isso desestabilizou os mercados no dia 28.
Perspectivas
Em resumo, na última semana do mês de fevereiro vieram à tona novos problemas políticos que podem impactar o Brasil e o Real.
Primeiramente, um acordo de importação de bens primários costurado entre Estados Unidos e China feriria de morte uma parte importante da economia brasileira. Dados sobre o PIB brasileiro de 2018 mostram que a agropecuária ajudou muito (de novo), a economia nacional.
Em segundo lugar, está a possibilidade de postergação do prazo de divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia.
Em terceiro lugar, a reforma da previdência já foi apresentada, mas desgastes da própria PEC e do governo podem pôr em jogo a aprovação de uma reforma robusta como propõe o Executivo.
Soma-se a isso, a desaceleração do crescimento dos Estados Unidos que apresentou variação de 2,6% no PIB do quarto trimestre de 2018, ante variação de 4,2% e 3,4% nos segundo e terceiro trimestres do ano anterior, respectivamente.
Assim sendo, a tendência de desvalorização do Real frente ao Dólar no curto, médio e longo prazo está mantida.
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André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.