O mercado está uma loucura! Fortes emoções para todos os lados, e isso se reflete nos indicadores econômicos, como o Ibovespa e as taxas de câmbio.
Na última quarta-feira (13), o Ibovespa, por exemplo, chegou perto da casa dos 100 mil pontos, recorde histórico da bolsa brasileira. Boa parte do desempenho da bolsa é reflexo de movimentos internos.
Por outro lado, o Real segue uma trajetória de desvalorização no curto prazo, especialmente em relação ao dólar. Tal movimento ocorre muito mais por fatores externos, dada a contrapartida de valorização dos pares do Real.
Além disso, há muita volatilidade em jogo, especialmente pelas polêmicas ainda presentes a cada pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro. O mercado parece ignorar a maioria das polêmicas, mas há uma preocupação com o impacto sobre o capital político do presidente.
Envolver-se gratuitamente em polêmicas pode minar a percepção de investidores e empresários na governabilidade do presidente Bolsonaro. O congresso pode notar essa mudança e utilizar isso a seu favor para barganhar ainda mais apoio para aprovação das reformas, bandeiras da campanha de Bolsonaro.
Acompanhe os movimentos das principais moedas.
Real x Dólar
Em linha com a tendência da semana passada, a situação local tem agido de forma a depreciar o valor do Real frente ao dólar.
A cotação da moeda estadunidense saiu do patamar de R$ 3,77 no início da semana de carnaval e oscila no patamar de R$ 3,83~3,85. Trata-se de uma variação de pouco mais de 2%. Dia 7 de março alcançamos o maior patamar de 2019 na cotação intraday, R$ 3,90.
Dois grandes vetores impactam na cotação das moedas. Internamente, o desempenho do governo Bolsonaro, com atenção especial a aprovação das reformas. No exterior, as tratativas em torno do acordo comercial China-EUA.
No que diz respeito aos movimentos internos, os mercados parecem se animar com a instalação das comissões que discutirão a proposta da Nova Previdência. Por outro lado, o possível adiamento do encontro para o mês de abril entre os presidentes Donald Trump, dos EUA, e Xi Jinping, da China, colocou uma “pedra no meio do caminho” de investidores.
O Real, em relação ao dólar, portanto, segue uma trajetória de desvalorização, oscilando ocasionamento ancorado nas expectativas da reforma da previdência e da guerra comercial.
Real x Euro
O Euro segue movimento similar ao Dólar. O Real mantém sua trajetória de desvalorização com relação à moeda europeia. O Euro começou a semana no patamar de R$ 4,30 e até o momento desta análise, orbitava a casa dos R$ 4,33.
Além das forças internas exercendo pressão do lado do Real, a moeda europeia está fortemente ancorada nas expectativas com o desempenho do Brexit e o destino do bloco da União Europeia.
Para além do Brexit, dados das principais economias europeias têm pressionado o Euro. O desemprego na Itália, por exemplo, veio superior às expectativas do mercado. Por outro lado, a produção industrial alemã teve um repique em janeiro, revertendo o fraco desempenho de dezembro.
Essa correlação de forças coloca pressão sobre o Euro, dando volatilidade a cotação da moeda.
Real x Libra Esterlina
No que diz respeito à Libra Esterlina, seguimos com a novela do Brexit.
Na terça-feira (12/3), o Parlamento Britânico votou contra o acordo elaborado pela Primeira-Ministra Theresa May. Isso gerou um caos total nos mercados, especialmente os britânicos.
As expectativas há muito seguem pessimistas, mas o choque de realidade sempre causa fervor. O prazo final para o fechamento do acordo é dia 29 de março, contudo, dada a atual conjuntura, há sinais de que tal prazo poderá ser estendido.
Por um lado, esta informação parece alegrar alguns analistas, que reconhecem a dificuldade política de viabilizar a saída do Reino Unido do bloco europeu. Contudo, sob uma ótica econômica, a extensão dessa novela reforça as incertezas sobre os caminhos do acordo, inviabiliza negócios entre empresas da região e se reflete em indicadores econômicos mais fracos.
Há um elemento importante em jogo: May parece cada vez mais desejar um novo referendo para consultar a população britânica acerca da possibilidade de abandonar o Brexit. Esta ideia não agrada o parlamento britânico, tampouco o parlamento europeu.
Em meio a tudo isto, a Libra Esterlina segue caminho bastante volátil, mas no que diz respeito ao Real, segue uma trajetória desvalorizada.
Perspectivas
O movimento de desvalorização visto em fevereiro se mantém claramente em março.
Mesmo após uma semana de carnaval aqui no Brasil, os mercados mantiveram-se atentos e conectados aos movimentos do governo, às polêmicas do presidente Jair Bolsonaro e às expectativas com a votação da Nova Previdência.
O mercado parece ignorar boa parte das polêmicas nas quais o governo se envolve, contudo, há preocupação sobre como isso pode se refletir nas negociações no Congresso. Seus reflexos no câmbio, por outro lado, não devem trazer impactos de longo prazo para o Real.
Os problemas pontuais atribuídos ao governo são passageiros, mas a votação da Nova Previdência será distendida e isso deve trazer um movimento de alta gradual do valor do Dólar frente ao Real.
Isso posto, o viés de desvalorização do Real permanece inalterado.
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André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.