Para quem investe em bolsa de valores, a flipagem é uma excelente estratégia. Entenda tudo sobre ela neste artigo.
Entre as estratégias de especulação financeira, a flipagem se destaca pela possibilidade de rendimentos com o lançamento de uma ação na bolsa de valores. Nela, o investidor busca uma valorização acima do preço de reserva do ativo, realizando a venda no primeiro dia de negociações.
Os investidores devem entender essa estratégia se quiserem tomar decisões informadas, ainda que usem outras abordagens para as carteiras. Afinal, ao participar de uma oferta pública inicial, possivelmente haverá pessoas posicionadas para realizar a flipagem. Nesse caso, todos precisam ficar atentos aos movimentos dos acionistas.
Neste conteúdo, vamos esclarecer as dúvidas sobre o tema e apontaremos os riscos e vantagens de buscar essa remuneração de curto prazo. Continue a leitura e entenda mais um conceito importante do mercado financeiro!
O que é flipagem?
Flipagem é a venda de uma ação em seu dia de lançamento na bolsa de valores quando praticada por quem realizou a reserva do papel. Seu objetivo é lucrar com a diferença antes e depois do início das operações no pregão.
Na maioria das vezes, essa estratégia é feita na initial public offering (IPO). Isto é, os investidores reservam ações que serão lançadas em oferta pública inicial (a abertura de capital da empresa). Depois, vendem no primeiro dia de negociação, buscando um momento de alta dos ativos.
Também é um procedimento realizado no follow on. Aqui, uma empresa que já tem ações emite novos papéis, possibilitando igualmente a venda logo após a liberação para operações na bolsa. Portanto, possibilita o lucro com as oscilações de mercado.
Mais recentemente, a flipagem tem sido utilizada em outros contextos, como os fundos imobiliários. Nesse caso, o que muda é a aquisição antecipada da cota, revendendo assim que os ativos são abertos para o público.
Como a flipagem funciona na prática?
Quando uma ação vai ingressar na bolsa de valores ou serão emitidas mais cotas, os investidores podem indicar o desejo de comprar os ativos. Essa manifestação é utilizada, entre outras coisas, para precificar a ação.
Nem sempre a precificação na reserva corresponde ao valor de negociação já no primeiro dia de pregão da bolsa. A oferta e demanda pode deixá-la dentro, além ou aquém do previsto.
Quem realiza a flipagem (flipper) tem tolerância a esse risco e tenta uma remuneração de curto prazo. Isto é, procura vender a ação poucos meses após a compra no IPO ou Follow On, em vez de segurar o ativo. Por isso, seu comportamento pode ser considerado um tipo de trade.
Na prática, o procedimento é dividido em duas etapas, ambas com riscos dos preços esperados não se confirmarem. Em primeiro lugar, o flipper verifica na corretora de valores nacional ou estrangeira quais são as emissões de ação previstas, em que é possível fazer a reserva. A ideia é que o preço pago, nesse momento, seja mais baixo que o esperado no dia de lançamento das ações em bolsa.
Alguns meses depois do período de reserva, existe o dia de lançamento no pregão. A partir de então, quem reservou pode negociar livremente, conforme a oferta e demanda pelos papéis. Aqui, o objetivo é vender por um valor acima do que foi pago.
Uma flipagem bem-sucedida é aquela em que se consegue um valor superior na venda em relação à reserva, bem como o necessário para cobrir os custos. Perceba que é uma ação de risco. Por isso, deve-se analisar muito bem o antes e o depois do ingresso do ativo na bolsa de valores.
Quais são os aspectos analisados na flipagem?
Diversos pontos devem ser analisados antes de realizar a flipagem. Boa parte deles é encontrada no cronograma de lançamento das ações. Ele pode ser obtido junto à corretora de valores em que será realizada a reserva. Outras questões, no entanto, dependem da avaliação do investidor.
Confira, a seguir, os principais aspectos.
1. Período de liquidação
Em primeiro lugar, o investidor deve ficar atento à data de liquidação da compra das ações. Isso porque será preciso ter dinheiro na conta da corretora para pagar os ativos reservados. Caso contrário, o pedido de compra será desconsiderado.
2. Custódia das ações
Outro cuidado é consultar o momento em que as ações estarão sob a sua custódia — já disponíveis na sua conta da corretora para serem vendidas. Essa data precisa ser, ao menos, o dia em que elas serão lançadas na bolsa de valores. Do contrário, pode ser necessário realizar o aluguel de ações.
Em algumas corretoras, pode ser necessário solicitar a liberação para comercialização no primeiro dia. É importante verificar como funciona com antecedência para conseguir negociar sem problemas ou custos adicionais.
3. Cláusula de lock up
A leitura dos termos do IPO ou Follow UP também é relevante para verificar se não existe cláusula de lock up. Esse dispositivo impede a venda dos ativos por um determinado período após a compra em reserva.
4. Rateio das ações
Quando a demanda pelas reservas ultrapassa a quantidade disponível, as corretoras podem dividir as ações entre os interessados. Na prática, o investidor pode ter menos papéis para negociar do que o previsto, mas isso também significa que há muita procura pelas ações.
5. Precificação das ações
Um quesito indispensável é avaliar o preço das ações no momento da compra e projetar a possível valorização no primeiro dia de negociação. Para isso, o investidor deve estudar bastante sobre as empresas que estão abrindo capital, bem como avaliar todos os riscos envolvidos.
Em geral, a flipagem está relacionada a movimentos de curto prazo, que afetam o preço dos papéis. Não é um investimento fundamentalista, em que se avalia buscando ganhos no médio e longo prazos. Inclusive, muitas vezes, as oportunidades surgem a partir de um excesso de otimismo dos compradores no primeiro dia de negociações.
Quando há grande expectativa sobre um IPO, é natural que exista uma procura elevada no primeiro dia, criando oportunidades. Em geral, o flipper está atento a setores e empresas que possam despertar esse efeito coletivo, fazendo as ações se valorizarem.
Não há uma regra de que sempre os papéis vão subir ou descer nos primeiros dias. Por isso, a flipagem é um tema com o qual os investidores precisam ter cautela, sendo considerado um investimento de risco mais elevado.
O grande desafio do IPO é avaliar ações sem um histórico na bolsa de valores, representando riscos e oportunidades. Aliás, mesmo quem não deseja realizar a flipagem deve ficar atento à possibilidade de a valorização no primeiro dia das ações não se confirmar no longo prazo.
Quais são as vantagens da flipagem?
Enquanto estratégia de investimentos, a flipagem terá pontos fortes e fracos, que devem ser conhecidos antes de adotar essa abordagem. Confira algumas características desse investimento.
1. Rápido retorno do investimento
Com a flipagem, o investidor pode obter rapidamente o retorno do investimento, tendo em vista o pouco tempo entre a reserva e a venda. Contudo, isso depende da expectativa no momento da compra se confirmar na prática.
2. Recompra de ações ou cotas do fundo
Também pode ser interessante pensar a flipagem como uma carta na manga do investidor. Se o comprador pagar o que considera adequado na reserva, mas as ações se valorizaram excepcionalmente no primeiro dia, a venda do ativo se torna interessante. Depois, nada impediria o retorno no momento certo, quando os preços voltarem à realidade daquela ação.
Nos fundos imobiliários, existe uma estratégia parecida com a flipagem, que é a arbitragem. Nela, o investidor que tem preferência nas emissões de novas cotas vende as suas atuais e faz a reserva por um preço mais barato. Assim, consegue-se lucrar com a diferença de valores.
3. Não perde todo o investimento
Outra vantagem é que um eventual prejuízo do investidor tende a não abranger o valor total do aporte realizado. Diferentemente de outras estratégias especulativas, não é uma abordagem de tudo ou nada.
Se, por exemplo, houver 10% de desvalorização, o investidor permanece com 90% dos recursos. Também seria viável programar uma ordem para vender a ação, caso ela atinja um patamar mínimo, como forma de mitigar prejuízos.
4. Aplica os recursos com potencial elevado de ganhos
Por fim, assim como outras estratégias de especulação financeira, os possíveis ganhos são equiparáveis aos riscos corridos pelo investidor. Recentemente, por exemplo, ocorreram alguns casos de flipagem bem-sucedida, como as ações da Mosaico SA, Mobly SA e MPM Corporeos SA. As valorizações na estreia foram de “97%”, “17,2%” e “25,7%”, respectivamente, segundo levantamento da InfoMoney.
Quais são os principais riscos da operação de flipagem?
A flipagem é um procedimento com grande potencial, mas os riscos também não são poucos. Por isso, o investidor deve avaliar essa abordagem com cuidado e fazer um bom planejamento financeiro, além de ser mais indicada para quando se tem experiência. Confira os riscos.
1. As previsões não se confirmarem
A tentativa de estimar o preço no primeiro dia de negociações trabalha com incerteza. Há, por exemplo, situações em que o ativo está mais caro que deveria na reserva, desvalorizando quando entra em definitivo na bolsa de valores. Não há garantias de que as projeções vão se confirmar na prática.
2. Não ter liquidez das ações
Outro risco é o papel ter um baixo volume de negociações. Nesse caso, o investidor pode ter de decidir ficar com as ações ou abrir mão de um valor considerável para vender. Em ambos os casos, a estratégia de flipagem estará prejudicada.
3. Arcar com o custo de oportunidade
Com os recursos alocados nas ações até o pregão, o investidor pode perder oportunidades de negociação de outros ativos. Um modelo de comparação são os investimentos de renda fixa. Se o dinheiro ficou retido para fazer a flipagem e a ação se desvalorizou no primeiro dia, também se perdeu os juros do período.
Um segundo exemplo seria o investidor vender ações para realizar a flipagem, e os ativos vendidos se valorizarem mais que o retorno com a estratégia adotada. Enfim, uma decisão precisa deve analisar diversos fatores, inclusive o que se deixa de fazer ao realizar a operação.
4. Sair cedo demais
Um risco menos relevante é a ação continuar sua valorização no médio e longo prazo. Nesse caso, a venda no primeiro dia não realizaria todo o potencial do ativo. Entretanto, não chega a ser um problema, tendo em vista que o investidor teve seu lucro.
Como fazer uma flipagem?
A flipagem depende de uma oportunidade de investimentos: o acesso a ações ou cotas de fundo antes das negociações com o público. Ao fazer essa reserva, o investidor pode especular com o preço no início das negociações.
Veja como realizar uma flipagem!
1. Abra uma conta na corretora de investimentos
O primeiro passo é escolher uma corretora de valores que possibilite esse tipo de operação. Atualmente, esse procedimento costuma ser online, com a reserva feita via plataforma de investimentos.
2. Selecione os IPOs que deseja participar
Nas prateleiras virtuais da corretora, o interessado precisa analisar as ofertas disponíveis e fazer a reserva. Atente-se ao cronograma do IPO, em que será definido o prazo de liquidação do investimento.
3. Verifique o momento da custódia das ações
Também será o momento de verificar se as ações estarão disponíveis para venda no primeiro dia de negociações. Pode ser necessário entrar em contato com a corretora para ter a custódia já nesse dia.
4. Transfira dinheiro para sua conta no Brasil ou exterior
No dia de liquidação, é preciso ter saldo disponível em conta. Portanto, é preciso realizar a transferência via TED ou fazer uma remessa internacional, dependendo da origem da corretora. Caso o investimento seja realizado no exterior, as regras podem variar daquelas descritas para o mercado nacional. Por isso, pesquise antes de planejar a flipagem.
5. Venda no momento certo
O último passo para o investidor é definir o momento de saída das ações. É um processo que pode ser feito manualmente ou mediante o envio de uma ordem de venda, constando o valor desejado pelos ativos. Se houver compradores por um preço que compense os custos, a operação foi bem-sucedida.
A flipagem é mais uma opção de estratégia para investidores, especialmente aqueles com maior tolerância a riscos e interesse em rentabilidade no curto prazo. É importante avaliar com cautela e conhecer todos os perigos, estudando bastante as ações antes de adotar essa abordagem.
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Resumindo
A flipagem exige a reserva das ações no período de IPO, com o objetivo de vender na abertura das negociações no pregão da bolsa.
Nos fundos imobiliários, não se deve confundir flipagem com arbitragem. No segundo procedimento, o investidor vende as suas cotas e exerce o direito de preferência, quando é possível pagar mais barato na reserva.
O ponto-chave da flipagem é obter lucro a partir da diferença entre o preço pago na reserva e a venda na abertura das negociações.
O perfil flipper é de um investidor com maior tolerância a riscos e busca por rentabilidade no curto prazo.