A semana trouxe um alívio relativo para a moeda brasileira, que se valorizou frente às outras divisas do globo , embora os dados econômicos internos indiquem desafios persistentes. No plano internacional, a política econômica dos Estados Unidos, marcada por possíveis medidas expansionistas do governo Trump, deve continuar fortalecendo o dólar e influenciando os mercados globais. Na Europa, a zona do euro enfrenta um panorama desafiador, com a inflação sob controle, mas pressões econômicas limitando o crescimento, enquanto o Reino Unido lida com dados econômicos que sugerem desaceleração e que acentuaram a desvalorização da libra.
Acompanhe as nossas análises a seguir.
Real x dólar
Começamos a semana com o dólar cotado a R$6,1817 na segunda-feira (06/jan), um nível 0,3% inferior à abertura da semana anterior (30/dez). A cotação da moeda estrangeira registrou desvalorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (10/jan) cotado a R$6,0366, patamar 1,9% inferior à abertura da sexta-feira anterior (03/jan). Entre as aberturas desta sexta-feira (10/jan) e da segunda-feira da semana anterior (30/dez), vimos uma valorização do real em relação ao dólar de 2,7%.
A semana trouxe alívio para a moeda brasileira, mas os dados econômicos divulgados apresentaram um cenário mais desafiador.
O PMI Composto de dezembro caiu para 51,5, ante os 53,5 registrados no mês anterior, sinalizando uma desaceleração da economia. Complementando essa perspectiva, a produção industrial e o varejo também mostraram retração, com quedas respectivas de 0,6% e 0,4% no mesmo período.
A inflação, medida pelo IPCA, acelerou para 0,52% em dezembro, levando o índice anual a 4,83%, acima do teto da meta de 4,5%. Este resultado confirma o rompimento da meta e reforça as preocupações sobre o controle inflacionário no país.
Além disso, o fluxo cambial estrangeiro trouxe um alerta: entre 30 de dezembro e 3 de janeiro, o saldo foi negativo em US$5,602 bilhões, fechando o ano com uma saída líquida de US$18 bilhões. Este montante é a terceira maior saída de dólares já registrada na série histórica iniciada em 2008, evidenciando desafios estruturais para a atração de capital estrangeiro.
Por outro lado, houve destaques positivos. A arrecadação tributária em dezembro alcançou R$209,22 bilhões, representando o segundo melhor desempenho histórico para o mês. No comércio exterior, a balança comercial foi superavitária em US$4,8 bilhões, encerrando 2024 com um superávit anual robusto de US$74,5 bilhões.
Por fim, a economia brasileira parece seguir condicionada à necessidade de entendimento entre o governo e o mercado, que segue clamando por corte de gastos. Para além disso, a política econômica dos EUA deve ser determinante para a movimentação das moedas em torno do globo – políticas expansionistas de Trump devem favorecer o dólar.
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Real x euro
O euro abriu o pregão de segunda-feira (06/jan) cotado a R$6,3728. Na abertura desta sexta-feira (10/jan), a cotação foi de R$6,2151. Portanto, houve uma valorização de 2,5% do real frente à moeda europeia, mantendo a tendência de valorização que havia sido observada na semana anterior.
Com relação ao dólar, a moeda europeia ficou relativamente estável, rompendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense ficou estável em 1,0303 na comparação das aberturas entre segunda-feira (06) e sexta-feira (10). Portanto, vimos uma manutenção do euro frente ao dólar (leia-se: a quantidade de dólares para comprar um euro ficou estável entre as aberturas analisadas).
A valorização do real também se estendeu frente ao euro, impulsionada pela maior estabilidade da moeda brasileira e pelos dados econômicos fracos da zona do euro.
O PMI Composto da região ficou em 49,6, indicando uma possível retração da atividade econômica no curto prazo, já que está abaixo dos 50 pontos, o que sinaliza uma contração.
Em relação à inflação, a prévia do índice de preços ao consumidor da zona do euro subiu 0,4% em dezembro, encerrando o ano com uma alta de 2,4%, enquanto o núcleo da inflação foi de 2,7%. Em novembro, o índice foi de 1,6%, mas agora apresenta deflação de -1,2%. Além disso, a taxa de desemprego permaneceu estável em 6,3% em novembro, um nível relativamente elevado para a região.
As vendas no varejo mostraram leve recuperação, crescendo 0,1% em novembro após uma queda de 0,3% no mês anterior, sugerindo que parte da retração foi revertida.
O cenário na zona do euro continua desafiador: embora a inflação esteja sob controle, com pressões isoladas devido ao núcleo elevado, a principal prioridade do bloco será convergir para a meta de 2% de inflação enquanto busca recuperar dinamismo econômico.
Nesse contexto, espera-se que a taxa de juros continue a ser reduzida, com o objetivo de estimular a atividade econômica, especialmente no setor industrial, que tem perdido competitividade frente a outros mercados, como os asiáticos. A política econômica protecionista de Trump deve agravar essa concorrência industrial a nível global.
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Real x libra esterlina
Em relação ao dólar, a moeda inglesa perdeu força no decorrer da semana, mantendo a tendência de desvalorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (10/dez) cotada a US$1,2304 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2422, uma desvalorização de 1% da moeda britânica em relação ao dólar.
A libra esterlina apresentou uma perda significativa de valor frente a outras moedas nesta semana, reflexo direto dos dados frágeis de atividade econômica no Reino Unido e também de uma semana com declarações fortes de Donald Trump quanto à sua política econômica nos EUA.
O PMI Composto de dezembro ficou em 50,4 pontos, ainda indicando expansão, mas confirmando a tendência de desaceleração do crescimento observada nos últimos meses. Adicionalmente, o PMI de Construção, que havia registrado 55,2 pontos na leitura anterior, recuou para 53,3 em dezembro, reforçando os sinais de enfraquecimento econômico no país.
Diante desse cenário, a expectativa é de que o Banco da Inglaterra (BoE) adote uma política de cortes graduais nas taxas de juros, acompanhando de perto as decisões de política econômica dos Estados Unidos. Esse movimento, embora voltado para estimular a atividade econômica, pode pressionar ainda mais a desvalorização da libra em relação a moedas como o dólar e o real.
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Perspectivas
O IPCA de dezembro apresentou alta de 0,52%, abaixo da expectativa de mercado, que era de 0,59%. No entanto, no acumulado do ano, a inflação atingiu 4,83%, superando o teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (4,5%).
Esse resultado reforça a necessidade de uma postura mais contracionista por parte do Banco Central, que pode levar a Selic a alcançar até 16% ao final deste ano. Esse movimento, embora necessário para conter a inflação, deverá resultar em uma desaceleração ainda maior do dinamismo econômico, limitando o crescimento do PIB.
No Brasil, o real parece ter encontrado certa estabilidade, com a cotação oscilando entre R$6,05 e R$6,10, mesmo sem intervenções recentes do Banco Central no mercado cambial. Essa melhora, embora relevante, ainda mantém o câmbio em níveis que pressionam os preços domésticos.
Em relação ao euro e à libra, o real tem potencial para registrar ganhos adicionais, enquanto frente ao dólar, valorizações mais consistentes dependerão de uma combinação de maior liquidez global, menor pressão inflacionária interna e um ambiente de maior confiança entre o mercado e o governo brasileiro.
No cenário internacional, as moedas permanecem em um ambiente de elevada volatilidade, principalmente diante da proximidade da posse de Donald Trump e das incertezas em torno de sua política econômica. As primeiras indicações sugerem que uma política tarifária protecionista poderá fortalecer o dólar em relação à maioria das moedas globais.
Seguimos de olho.