Alessandra Ribeiro, economista com presença expressiva na mídia especializada, é a voz do mercado que analisa os motivos para otimismo e cautela na trajetória econômica brasileira a longo prazo no episódio 21 do De Olho no Câmbio.
Além de membro do Conselho Regional de Economia de São Paulo (CORECON-SP), Alessandra lidera o departamento de Análises em Macroeconomia e Indústria da Tendências Consultoria, responsável por projeções relevantes para os gestores públicos.
Confira o resumo desta entrevista!
Qual era a projeção da Tendências para a inflação e o que veio de diferente nos resultados?
O número projetado pela Tendências Consultoria foi 0,28%, aderente à mediana de expectativas do mercado. A surpresa foi a abertura positiva do IPCA na inflação de alimentos e, em parte, de serviços. Ainda com a desaceleração dos alimentos in natura em agosto, a expectativa é de que esses preços vão acelerar daqui pra frente.
Apesar da surpresa positiva, ainda há motivos para cautela. O Banco Central deve manter o ritmo de 50 pontos em vez de acelerar para 75, porque as expectativas de inflação para os próximos dois anos ainda estão distantes da meta de 3%. As próximas decisões do ciclo ainda não terão aceleração no ritmo de cortes, e chegaremos a 11,25% ao final deste ano e 9,25% no próximo.
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Alessandra respondeu que a economia está com uma performance melhor do que a esperada nesses primeiros oito meses de governo. Em crescimento econômico, por exemplo, a Tendências projeta 2,6% para este ano – uma desaceleração muito pequena em relação aos 2,9% do ano passado.
Uma dessas linhas é a relevância expressiva da centro-direita no congresso. Há também maior reação ao mercado financeiro, às quedas da bolsa e variações cambiais.
Entre as novas institucionalidades, a especialista destaca o arcabouço fiscal, que saiu melhor do que o esperado pelos economistas. Alessandra também reforça a dificuldade para financiar o incremento de gastos permitidos pelo arcabouço, cuja solução seria via aumento de arrecadações.
Outro aspecto destacado é a reforma tributária, apesar da economista não considerar o texto ideal por prever mais exceções do que o desejado e IVA dual. A avaliação permanece positiva porque os pilares principais da reforma foram mantidos, o que, se aprovado, produzirá impactos importantes para a economia brasileira.
O país está maduro reformas, considerando a sintonia entre os poderes legislativo, executivo e judiciário?
Hoje, há maior preocupação com o orçamento público e maturidade nas análises, que guiam para caminhos melhores do que os da década de 1990, por exemplo. Porém, o ritmo é lento.
O posicionamento sobre a atualidade é otimista e Alessandra menciona a atuação do Ministério do Planejamento em um programa chamado Spending Review, que consiste na revisão de gastos sob a perspectiva da eficiência. Embora não acredite na probabilidade de grandes avanços, enxerga como uma iniciativa de maturação.
A exemplo das emendas parlamentares, a convidada analisou o histórico de imaturidade de algumas aplicações mal-sucedidas de recursos públicos no Brasil.
Qual será o impacto no câmbio se a reforma tributária taxar dividendos de aplicações no exterior?
Considerando fatores como a prorrogação da desoneração da folha de dezessete setores, a Tendências considera que o Congresso é muito resistente a essa agenda e está focado em avaliar os impactos da reforma sobre o consumo.
Essa é a parte que tem efeitos importantes para a produtividade e capacidade de crescimento e a especialista afirma que isso precisa ser melhor precificado pelo mercado. Outra justificativa para o viés é que a expectativa financeira das agências de rating incorpora efeitos de curto prazo da reforma ao cenário, fazendo com que a avaliação geral da reforma seja pró-Real.
Há espaço para o Real voltar ao patamar de R$ 4,70 ou os R$ 5 são o novo normal para curto e médio prazo?
A Tendências projeta uma manutenção de R$ 4,95 para o câmbio este ano e R$ 5,05 ao final do ano que vem. Apesar da reforma afetar a expectativa e o viés para a apreciação, há elementos de pressão sobre a variável, como o diferencial de juros, que penaliza o Real, e o cenário de desaceleração global, com reflexo nas commodities agro e metálicas.
A troca de diretor do Banco Central ao final desse ano e a da presidência no fim do ano que vem inspiram cautela, embora os modelos apoiados apenas sobre as variáveis mais relevantes apontem um câmbio mais alto em relação ao atual. O risco do país também foi incorporado à modelagem da projeção, que pondera as inconstâncias do cenário político e a ”luz amarela” que essas datas acendem.
Dólar em torno dos R$5,00 é benéfico ou prejudicial à competitividade da economia brasileira?
Alessandra avalia que a moeda brasileira está em patamar bastante depreciado tanto em relação ao dólar quanto à cesta de demais moedas dos principais parceiros comerciais. Também admite que o câmbio ideal varia de acordo com o ponto de vista, isto é, com a atividade econômica tomada como parâmetro. Portanto, as análises da agência são pautadas pelo preço, que é resultado de diversos elementos.
A busca pela competitividade está em outra seara, o que faz das reforma estruturais uma questão muito importante. A reforma tributária, por exemplo, promete grandes impactos positivos para a indústria, que verá alívio tributário no novo IVA, bem como exoneração de investimento e exportação.
Qual é a projeção da Tendências para o PIB de 2024?
A projeção da Tendências é de 1,5% de crescimento em 2024, o que assinala uma trajetória de desaceleração em relação aos 2,6% projetados para o fim deste ano. Os motivos apresentados são os impactos do cenário global e a defasagem da política monetária brasileira. Outro fator mencionado é a expectativa de menor desempenho do setor agro, que teve forte contribuição no Produto Interno Bruto brasileiro em 2023.
Alessandra prevê que a abertura dos números relativos ao PIB de 2024 tende a se modificar. O agro crescerá mais modestamente ano que vem, mas a Tendências já projeta que a indústria ganhará força para tracionar o crescimento no próximo ano, embalada pelos atuais movimentos de queda de juros.
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De Olho no Câmbio é um conteúdo jornalístico produzido pela Remessa Online e sua transmissão ao vivo acontece semanalmente no canal do YouTube da Remessa Online.
Cada programa tem 1 hora de duração e aborda notícias do mercado de forma descomplicada, além de analisar temas da agenda econômica que podem influenciar as cotações das moedas estrangeiras como dólar, euro e libra esterlina ao longo da semana.
Apresentado pelos jornalistas Sidney Rezende e Rui Gonçalves e com comentários do Economista André Galhardo, o programa tem a participação de convidados renomados no mercado para enriquecer a discussão e está aberto à participação do público pelo chat.
A cada semana, os espectadores têm a oportunidade de compreender mais a fundo sobre o mercado e ficar por dentro de assuntos como câmbio, economia, investimento, Comércio Exterior, turismo e negócios.
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A surpresa foi a abertura positiva do IPCA na inflação de alimentos e, em parte, de serviços. Ainda com a desaceleração dos alimentos in natura em agosto, a expectativa é de que esses preços vão acelerar daqui pra frente.
Há riscos tanto de alta, quanto de baixa. A Tendências incorporou um efeito moderado de El Niño à projeção sobre o preço dos alimentos para o ano que vem, mas entende que é um risco e, portanto, poderá ter efeitos mais pronunciados. Pelo baixista, é possível que essa dinâmica de desaceleração dos serviços persista além do esperado e seja um contraponto maior para a pressão de alimentos, evitando que o número varie muito.
A consultoria prevê que a taxação das aplicações em fundos no exterior tem poucas chances de se materializar, portanto ainda não há clareza sobre seus possíveis efeitos.
A Tendências projeta uma manutenção de R$ 4,95 para o câmbio este ano e R$ 5,05 ao final do ano que vem. A economista explica que o câmbio é sempre complexo para projetar e que a agência se vale de diversos modelos econométricos para a mesma variável.
O De Olho no Câmbio é um programa jornalístico produzido pela Remessa Online para descomplicar notícias do mercado de economia, câmbio, negócios e muito mais.
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