As idas e vindas das commodities

Visão geral

O conflito armado entre Rússia e Ucrânia têm produzido forte volatilidade no mercado de commodities com destaque para o aumento nos preços do petróleo, trigo e níquel.

Resta saber os impactos das mudanças econômicas promovidas pela guerra sobre o Brasil. Benefícios aos exportadores? Mais inflação? Aumento de juros? E do dólar, afinal?

Quer saber mais sobre os temas acima? Acompanhe nossa análise a seguir.

A guerra e as commodities

Além das atrocidades contra vidas humanas, sem sombra de dúvidas o maior problema do conflito armado em solo ucraniano, a guerra no leste europeu tem trazido graves problemas para a economia global.

Isso porque Rússia e Ucrânia somados detêm controle sobre cerca de 25% da oferta mundial de trigo, o grão mais consumido no mundo. As investidas da OTAN sobre o leste europeu e a desproporcional resposta de Putin devem produzir mais que aumentos impressionantes nos preços das commodities, que devem agravar a situação de insegurança alimentar no mundo.

Além disso, como se o problema com o trigo não bastasse, a guerra tem produzido intenso processo de valorização dos preços do petróleo e do gás natural. 

A Rússia é o segundo maior produtor mundial de petróleo atrás apenas dos Estados Unidos e a possibilidade de sanções contra o setor petrolífero local deve causar uma escassez da commodity tão grave a ponto de causar um colapso nas cadeias produtivas.

Apenas a título de curiosidade, a OPEC (grupo de países exportadores do petróleo), tem enfrentado dificuldade em aumentar a produção diária em 400 mil barris. A Rússia produz cerca de 11 milhões de barris de petróleo todos os dias.

O medo do desabastecimento é tão grande que os Estados Unidos já restabeleceram conversas com os presidentes do Irã e da Venezuela, inimigos da América há poucas semanas.

As commodities na balança comercial brasileira

Alguns analistas estão dizendo que a guerra envolvendo Rússia e Ucrânia pode se traduzir em oportunidade econômica para o Brasil.

Em primeiro lugar, é muito importante dizer que, nenhum esforço, por mais dispendioso que seja, pode resolver a dependência brasileira de fertilizantes no curto prazo. Uma nova estrutura produtiva nacional, capaz de mitigar o estrangulamento do setor em nível global, só seria possível após longos anos.

Outro ponto importante é o aumento dos preços das commodities no mercado internacional. Os aumentos de preços produzidos pela guerra ainda estão muito concentrados em bens que são oferecidos pelos países envolvidos no conflito armado.

O trigo, por exemplo, o mundo viu o preço da commodity aumentar até atingir o nível mais elevado em toda a série histórica disponível. Apesar disso, o cereal representa apenas 3% da safra anual de grãos no Brasil. Apenas a título de comparação, em 2021 o Brasil colheu cerca de 7,7 milhões de toneladas de trigo e 138,2 milhões de toneladas de soja.

Além da produção relativamente pequena de trigo, 2022 tem sido marcado por importantes problemas climáticos que podem comprometer a nossa produção agrícola. Desde o começo do ano, consultorias privadas e órgãos governamentais têm revisado sistematicamente o volume de soja a ser colhido este ano.

É claro que o aumento do preço do trigo deve ajudar no valor exportado pelo Brasil, mas isso não é suficientemente relevante neste momento.

O Brasil exportou cerca de US$438 milhões em trigo no acumulado dos dois primeiros meses deste ano. No mesmo período do ano passado o valor foi de apenas US$110 milhões. Parece bastante, mas entre janeiro e fevereiro deste ano nós já importamos cerca de US$280 milhões do cereal. O aumento nos preços  ajuda de um lado e tira de outro.

E a inflação?

Além do petróleo, do gás natural e do trigo, a disputa geopolítica está produzindo uma avalanche de aumentos sobre outros bens importantes na base da cadeia produtiva.

A bolsa de Londres interrompeu as negociações de Níquel depois que a commodity chegou a ser cotada sete vezes acima do valor registrado antes do começo da pandemia.

Paládio, platina e ouro, por exemplo, também estão no rol das commodities com expressiva valorização nos últimos dias.

O aumento dos preços das commodities agrícolas e extrativas representam um sério risco para o mundo neste momento, isso porque nós já estamos com níveis muito elevados de inflação. Nos Estados Unidos a inflação de 7,5% é a mais alta desde 1982, na Europa, os 5,5% é o nível mais elevado de toda a série histórica disponível. E no Brasil, em novembro do ano passado, nos deparamos com a maior inflação anual desde novembro de 2003.

O aumento no preço do trigo deve impactar uma ampla gama de bens que são produzidos a partir dos grãos. O aumento no preço do petróleo deve continuar pressionando os preços dos combustíveis e, de forma indireta, deve produzir aumentos generalizados em muitos outros bens a partir do encarecimento dos fretes, embalagens e de uma eventual escalada do IGP-M, indexador de muitos contratos no país.

Apesar dos esforços em rever a política de preços da Petrobras é pouco provável que a escalada nos preços do petróleo não seja sentida pelos consumidores nos próximos meses.

Se não vier pelos combustíveis virá pelos alimentos ou pelos bens industrializados, afetados pelo aumento das commodities metálicas.

Perspectivas

No primeiro bimestre de 2022 o real ganhou destaque em relação ao dólar norte-americano. Como há muito tempo não se via, a divisa brasileira emplacou uma sequência de alta e foi uma das moedas emergentes com o melhor desempenho no mundo todo.

Uma das principais explicações para essa valorização é o aumento da taxa básica de juros. Com o aumento da Selic, os títulos de renda fixa ficaram muito atrativos ao investidor estrangeiro e isso criou um fluxo de recursos em direção ao nosso país.

Até aqui, tudo bem. O grande problema agora é que os países desenvolvidos já haviam sinalizado a necessidade de aumento das suas taxas de juros em função da escalada da inflação. De lá pra cá muita coisa mudou, principalmente no que diz respeito às expectativas de inflação.

Com os recentes aumentos de preços das commodities espera-se por mais pressões inflacionárias e, consequentemente, aumentos mais contundentes de juros por parte dos bancos centrais dos países desenvolvidos.

Uma política monetária ainda mais restritiva do que se esperava anteriormente deve diminuir a atratividade dos ativos brasileiros e reverter o fluxo de capitais.

Soma-se aos movimentos das autoridades monetárias uma eventual escalada no clima de incerteza, que deve colaborar para a diminuição da liquidez global.

Isto posto, um aumento de inflação associada à desvalorização do real está no nosso radar.

Seguimos de olho!

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