Visão Geral (124)
O Banco Central do Brasil decidirá nesta quarta-feira (04), o novo patamar da taxa de juros no Brasil, a famosa Selic.
A expectativa, de que o banco aumente em 1% a taxa que atualmente está em 4,25%, é consensual entre os agentes de mercado. O que ainda não ganhou unanimidade é por quanto tempo a moeda brasileira irá resistir aos problemas políticos que vão se avolumando à medida em que se aproximam as eleições.
Acompanhe nossa análise a seguir.
O que diz o Banco Central (136)
Já faz algum tempo que o Banco Central tem deixado claro nas atas das reuniões de decisão de política monetária, que sem o avanço das reformas que visam diminuir os gastos do Estado, a taxa básica de juros não poderia prevalecer em patamares que são relativamente baixos para os padrões brasileiros.
O que a autoridade monetária brasileira está tentando dizer, é que deve haver um esforço contínuo para diminuir o endividamento do país em proporção do PIB, e que dessa forma, o prêmio de risco exigido pelos investidores estrangeiros seria menor.
Com a construção de resultados fiscais positivos, o Bacen estaria livre para conduzir uma política monetária que chega a ser estranha ao Brasil, como a que nós vimos durante a maior parte da pandemia, quando a Selic ficou por muitos meses em 2% ao ano.
As amplas discussões sobre o orçamento (240)
Enquanto os membros do Copom enfatizam a importância de uma política fiscal contracionista, o governo parece se esforçar em seguir na direção contrária.
Em primeiro lugar é importante comentar sobre o volume de gastos do Estado e da situação em que nos encontramos.
Estamos tentando sair de um dos eventos mais singulares do nosso tempo e discutir austeridade fiscal neste momento me parece um tanto quanto contraproducente para a retomada da nossa economia. De todo modo, falaremos das visões do Bacen e dos membros do governo.
Voltando então ao problema fiscal, o governo vem atuando em diversas frentes na tentativa de sair da camisa de força imposta pelo teto de gastos.
Os pleitos mais recentes estão ligados ao parcelamento dos precatórios previstos para 2022. Na prática, o governo quer protelar obrigações de curto prazo a fim de abrir um espaço fiscal que lhe permita gastar mais, afinal de contas estamos nos aproximando das eleições.
Outra discussão importante está na tentativa do governo de dar musculatura ao Programa Bolsa Família. Apesar de nobre, tal intento tentaria flagrantemente contra os últimos instrumentos de controle de gastos do governo.
Dito de outra forma, o governo está agindo de modo a institucionalizar o que ficou conhecido como pedalada fiscal durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff.
Esqueça inflação! O problema disso tudo é que agora o caminho está livre para o Bacen agir de forma mais contundente no aumento da taxa de juros.
A desestruturação da política nacional (194)
Como se não bastasse o choque entre as diretrizes da nossa autoridade monetária e as do governo federal, existem outras forças que podem acabar por exigir uma resposta mais aguda no âmbito da política monetária.
A discussão sobre voto impresso e a troca de acusações entre membros dos três poderes alcançou um ponto aparentemente sem volta.
Esse ruído político, somado às questões fiscais, tendem a trazer maior volatilidade para a taxa de câmbio Real x Dólar norte-americano, o que tornará o ciclo de alta de juros ainda mais distendido e importante do que havia sido imaginado anteriormente.
Alegações ainda que meramente retóricas sobre a possibilidade de não haver eleições no ano que vem criam o ambiente perfeito para o fortalecimento da moeda dos Estados unidos sobre a moeda brasileira.
E você sabe o que essa volatilidade cambial pode acarretar? Em mais inflação. E aí, adivinha? Mais aumento de juros e menor a nossa capacidade de deixar essa condição crise imposta pela pandemia.
Está tudo minuciosamente interconectado. Se não encontrarmos um mecanismo que nos ajude a diminuir os ruídos políticos teremos um 2022 duríssimo, ao menos no que diz respeito ao valor do nosso dinheiro.
E o câmbio? Para onde iria? Para onde vai? (216)
Veja você que coisa mais tacanha. Na última terça-feira (03), o mercado apresentava “bom comportamento” depois de uma segunda-feira particularmente difícil e esse movimento de alta não foi transmitido ao principal índice da B3.
Às 11:00, enquanto a maioria das bolsas da Europa e dos Estados Unidos operavam em alta, o Ibovespa recuava cerca de 1,4%.
A despeito dos números que mostram que o Brasil tem saído rapidamente dos efeitos da segunda onda sobre a economia, entre as doze maiores economias emergentes, nenhuma moeda perdeu mais valor em relação ao dólar no último mês.
Não podemos perder de vista que outros fatores também exercem influência negativa sobre a moeda brasileira. A propagação de novas cepas do vírus, indícios de que a economia chinesa esteja perdendo o ímpeto da retomada e até mesmo de que os Estados Unidos estejam diante de uma acomodação da atividade econômica, são movimentos que alimentam o clima de incerteza e que colaboram para a desvalorização do real.
No entanto, apesar dos desafios, os últimos meses foram potencialmente positivos para as moedas emergentes e nós não conseguimos aproveitar esses pequenos episódios de melhora da situação econômica global.
E sabe o porquê o real não se beneficiou em grande medida nos últimos meses? Estamos muito ocupados resolvendo problemas políticos perfeitamente evitáveis.
Veremos.