Visão geral
O aumento do preço do petróleo no mercado internacional começa a causar problemas graves na economia brasileira.
Como a resolução do conflito armado deve demorar a acontecer, esperam-se novos aumentos nos preços da gasolina e do diesel aqui no Brasil.
Por enquanto, o Brasil tem um importante trunfo nas mãos, a valorização cambial. O grande risco agora é uma reversão desta tendência no mercado de câmbio, o que poderia intensificar os aumentos nos preços dos combustíveis no mercado doméstico.
Quer saber mais? Acompanhe nossa análise a seguir.
A alta dos preços das commodities
Bem antes do conflito armado no leste europeu vir à tona, a preocupação com o aumentos nos preços das commodities estava na ordem do dia no mercado financeiro.
A pandemia produziu uma importante compressão do nível de atividade econômica e a retomada, por vezes, forte e repentina, como no caso dos Estados Unidos, criou um importante descompasso entre oferta e demanda. Isso tudo em nível global.
No caso do petróleo, o preço da commodity não parava de subir nem mesmo diante das promessas da OPEP em aumentar a produção diária em 400 mil barris. Problemas operacionais na Nigéria, Líbia, Cazaquistão, Malásia e outros membros do cartel acabavam impedindo a equalização entre oferta e demanda.
Portanto, a guerra na Ucrânia acabou intensificando um movimento que já vinha sendo visto desde 2021.
Como a Rússia é o segundo maior produtor de petróleo do mundo e um dos exportadores com maior participação do comércio global da commodity, os preços acabaram disparando e alcançaram o nível mais elevado em cerca de 13 anos.
Embargos econômicos contra os combustíveis russos podem aumentar ainda mais os preços no mercado mundial. Alguns estudos mostram que existe espaço para que o preço do barril de petróleo suba até alcançar a faixa de US$250 ~ US$300 em caso da intensificação da guerra.
Represamento de aumentos causou choque
No Brasil, a surpreendente valorização cambial acabou amortecendo os impactos dos aumentos de petróleo sobre o mercado consumidor. Enquanto o petróleo subiu cerca de 43,5% em dólares, em reais o aumento ficou próximo dos 30%.
Ainda assim, apesar da valorização da moeda brasileira, falava-se em defasagem de cerca de 25% nos preços dos combustíveis domésticos. Isso tudo quando o preço do barril estava próximo dos US$100.
A Petrobras não quis fazer o reajuste de forma gradual, então acabou optando pelo aumento em choques, como o que aconteceu nesta última quinta-feira (09).
No caso da gasolina, o aumento ficou próximo dos 19% e no caso do diesel o reajuste foi de aproximadamente 25%. A Petrobras não realizava reajustes desde o dia 12 de janeiro deste ano. De lá pra cá o preço do barril de petróleo Brent variou cerca de +28%.
Esse “represamento” nos aumentos dos preços dos combustíveis acabou obrigando a petrolífera brasileira a fazer o reajuste de uma só vez.
Agora, o aumento dos preços dos combustíveis deve trazer colocar a inflação acima das expectativas iniciais para o segundo trimestre.
Além da escalada dos preços dos combustíveis, aumentos represados no setor de energia elétrica sacramentaram o não-cumprimento da meta de inflação pelo segundo ano seguido.
E o preço da gasolina no mundo?
Com o aumento anunciado nesta quinta-feira, a expectativa é que o preço médio da gasolina suba para R$7,02 em território nacional. Já o preço médio do diesel deve saltar dos atuais R$5,60 para cerca de R$6,48.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço médio da gasolina antes do aumento anunciado esta semana era de R$6,57. Apesar deste preço, a gasolina brasileira é apenas a 85ª mais cara do planeta.
O grande problema aqui é que o aumento dos preços de produtos básicos como combustíveis e alimentos, somam-se à queda da renda da população brasileira, que vem caindo sistematicamente, apesar de alguma melhora nos números do mercado de trabalho.
Apenas a título de curiosidade, o preço médio do litro da gasolina na Austrália é de R$6,80, mais elevado que no Brasil.
Neste caso, a diferença entre Austrália e Brasil é o nível de renda.
No Brasil, o rendimento médio real da população é de R$2.444 e na Austrália o salário mínimo é de pouco mais de 3.000 dólares australianos. Enquanto no Brasil, os 2.444 reais podem comprar 378 litros de gasolina, na Austrália, o salário mínimo é capaz de comprar cerca de 1.631 litros, já que a gasolina na Austrália custa cerca de 1,83 dólares australianos.
Abaixo o preço médio do litro da gasolina convertido em reais pelo câmbio nominal:
Venezuela: 0,13
Rússia: 1,91
Argentina: 4,99
EUA: 6,02
Índia: 6,82
Brasil: 7,02*
Uruguai: 8,95
Reino Unido: 10,43
Itália: 10,82
Hino Kong: 14,47
*Preço médio estimado depois do anúncio desta quinta-feira.
Perspectivas
O preço do barril de petróleo deve continuar elevado no curto prazo.
Primeiramente porque o conflito armado do leste europeu deve demorar para ser completamente solucionado. Em segundo lugar, porque dificilmente a OPEP conseguirá aumentar a produção total de modo a compensar os embargos contra o setor de petróleo russo.
A OPEP vem tentando, há muitos meses, aumentar a produção global da commodity e, como foi dito anteriormente, têm fracassado por inúmeras dificuldades operacionais. Tentar suprir uma ausência relativa da Rússia agora seria igualmente difícil.
Diante deste cenário, não restarão muitas alternativas ao governo brasileiro além da criação de mecanismos de compensação financeira para as categorias que trabalham com transportes, como a dos caminhoneiros.
É ano de eleição e o que o governo não quer neste momento é o desgaste da sua imagem perante a opinião pública. Por mais que saibamos que o aumento nos preços seja consequência da conjuntura econômica internacional, deve recair sobre a presidência, como de costume, a culpa sobre os reajustes.
Agora é torcer para que o real continue a trajetória de elevação para que novos aumentos do petróleo no mercado internacional sejam revertidos ou suavizados, caso contrário teremos problemas severos na inflação de 2022.
Por enquanto, não restam alternativas para a população além daquela que temos visto, longas filas nos postos a fim de abastecer o carro com o preço antigo.
Seguimos de olho!