Câmbio sinaliza incertezas sobre recessão global

A semana foi marcada por bastante volatilidade no mercado cambial, tanto no segmento a vista quanto no segmento futuro. Parte significativa desse movimento advém da aversão ao risco que se instalou com a expectativa cada vez maior de recessão, liderada especialmente pelos desdobramentos da Guerra Comercial sino-americana. Acompanhe. 

Real x Dólar

A semana iniciou com o presidente Donald Trump alertando aos mercados que os Estados Unidos “não estão prontos” para concluir um acordo comercial com a China.

As constantes declarações de Trump reforçam o ambiente de incerteza e volatilidade. Mas, para além dos sentimentos que permeiam o mercado, há reflexos cada vez mais claros e reais.

A China, que passa por um processo de desaceleração nos últimos anos, registrou um desempenho preocupante de sua produção industrial: alta de 4,8% ano em julho, ante 6,3% em junho.

O dado representa o ritmo mais fraco em 17 anos. Isso pode se desdobrar em mais flexibilização das políticas fiscais, monetárias e cambiais, em grande medida, ações que estimulem o crescimento.

Por outro lado, a economia estadunidense continua dando sinais ambíguos. Um dos dados mais aguardados da semana foi as vendas do varejo nos Estados Unidos. Em meio a tantas perspectivas negativas e notícias complexas, o dado do varejo estadunidense registrou alta de 0,7% em julho, em comparação aos 0,3% do mês anterior. 

Cabe notar que, apesar do resultado, os fundamentos do consumo ainda parecem sólidos, acompanhando o crescente nível de emprego, crescimento sólido dos salários reais e elevada confiança dos consumidores. As dúvidas permanecem acerca da sustentabilidade desses resultados em meio aos conflitos comerciais.

Como reflexo dessa incerteza, desde a segunda-feira (12/8), a moeda americana saiu de R$ 3,9393  e abriu o pregão de sexta-feira negociada na casa dos R$ 3,9914, após ter atingido a máxima de R$ 4,0539 durante o pregão de quarta-feira (14). 

Real x Euro

As notícias vindas da Europa, por outro lado, não são tão ambíguas. O Índice ZEW, que mede a percepção econômica e a confiança de investidores institucionais, como bancos e fundos, na economia alemã praticamente afundou na terça-feira (13). 

A expectativa do mercado era de uma queda de aproximadamente 6 pontos, contudo, a queda foi de quase 20 pontos. O dado é autoexplicativo: a confiança dos investidores com relação à economia alemã está se deteriorando rapidamente. 

É relevante observar que essa performance tem reflexos significativos sobre toda a Zona do Euro, uma vez que a Alemanha é a maior economia do bloco.

A prévia do PIB do 2o semestre da Zona do Euro, por sua vez, manteve-se estável em 0,2%. O dado trouxe algum alívio, mas reforça a perspectiva de uma economia sem pujança, sem drivers de crescimento.

Essa leitura das perspectivas para a Zona do Euro também alimenta as expectativas acerca de novas rodadas de flexibilização monetária na região por parte do Banco Central Europeu. O objetivo é conseguir dar tração para a economia, por meio do consumo e investimentos para, assim, retomar o crescimento.

O Euro abriu a semana cotado a R$ 4,4157 e ganhou força frente ao Real, chegando a ser cotado a R$ 4,5211 no pregão de quinta-feira (15). Na abertura do pregão desta sexta-feira, o Euro era cotado a R$ 4,4353, uma variação semanal de aproximadamente +0,44%.

Real x Libra Esterlina

Três pontos se destacam nesta semana no cenário da Libra Esterlina. Em primeiro lugar, os dados britânicos alimentaram ainda mais a perspectiva de uma eventual recessão no horizonte de análise.

Felizmente, os dados acerca do desemprego, das vendas no varejo e o nível de preços garantiram um bom respiro para os britânicos nesta semana. Mas outros elementos alimentam as incertezas.

Em segundo lugar, ganha força a ideia de uma Brexit sem acordo. A preocupação com um Hard Brexit é tão grande que parlamentares que defendem o Remain (permanência) discutem um plano para impedir que o primeiro-ministro Boris Johnson tire o Reino Unido da UE sem acordo. Os próximos meses estão cheios de risco para o primeiro-ministro e para o Reino Unido.

Em terceiro lugar, em meio a tudo isso, a aliança entre o PM britânico e o presidente estadunidense se fortalece. Os EUA prometeram acordos comerciais rápidos com a Grã-Bretanha e apoiam saída sem acordo. “Estamos com você”, disse John Bolton, assessor da Casa Branca, após conhecer Boris Johnson.

Mas, obviamente, não sem alguma contrapartida. Os EUA pressionam o Premier Britânico para entrar em linha em questões como o acordo nuclear com o Irã e o envolvimento da Huawei na rede 5G, algo que a ex-PM Theresa May estava relutante.

Nesse contexto, a Libra abriu a semana cotada a R$ 4,7421, mas se recuperou e ganhou força em relação ao Real, alcançando o patamar de R$ 4,8261 na abertura do pregão de sexta-feira (16/8).

Perspectivas

A semana reforçou eixos políticos importantes como geradores de maiores incertezas e, por conseguinte, de uma recessão próxima. É o caso da Guerra Comercial e do Brexit, que permanecem no radar há meses. 

O ponto fundamental é que esses eventos políticos já impactam diretamente os dados econômicos de forma mais intensa, especialmente como foi possível observar pelo desempenho da indústria chinesa.

Por fim, há um movimento de aversão ao risco por parte de investidores institucionais que impacta diretamente a cotação do Dólar comercial, encarecendo a moeda americana em relação às demais moedas.

Não obstante, parece evidente que o movimento está pautado em incertezas políticas. Devemos enxergar as moedas emergentes – incluindo aí o Real -,  mais fracas no curto prazo.

Este é um cenário interessante para quem precisa receber dinheiro do exterior. Com o valor das moedas em alta, quem precisa trazer recursos de fora pode receber mais em reais.

Seguimos de olho.

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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