Confira a análise de câmbio da semana e entenda o comportamento das moedas Dólar, Euro e Libra Esterlina perante o Real.
Duas palavras estão presentes no mercado de câmbio na última semana: política monetária. Talvez, possamos adicionar uma terceira: recessão. A questão central para investidores e policy makers têm sido justamente como atuar com a política monetária com a possível recessão que se aproxima. Acompanhe.
Semana fraca para o Dólar
A semana foi bastante fraca em termos de indicadores econômicos, contudo, dois evento marcaram o mercado de dólar: a divulgação da ata do Fomc referente a reunião realizada nos dias 30 e 31 de julho, e o desfecho do Simpósio de Jackson Hole.
Sobre a ata do Fomc, as leituras acerca da política monetária empreendida pelos Estados Unidos nos próximos meses são ambíguas.
Enquanto alguns analistas encontram elementos de uma política monetária dovish (expansionista, de queda do juros e estímulo da economia) na fala de membros do Fomc, outros acabam apostando em uma política mais moderada (hawkish), tal como visto na opinião do presidente do Federal Reserve (Fed) de Boston, Eric Rosengren, na segunda (19).
Segundo Rosengren, o Fed deve olhar para dentro dos Estados Unidos, postergando a necessidade de novos cortes, uma vez que os dados de emprego e produto estão muito bons.
E, nesse contexto, Jackson Hole ganha uma proporção ainda maior. O mercado está atento aos sinais dos banqueiros centrais para tentar prever efetivamente quais os passos da política monetária nas próximas reuniões. Com a perspectiva de uma recessão a frente, o mercado aposta na queda dos juros.
Olhando no Brasil, além da badalada agenda de privatizações que já divide opiniões, o ponto alto foi a divulgação do IPCA-15.
A prévia do índice oficial de inflação surpreendeu o mercado ao apresentar variação de apenas +0,08% no mês de agosto, perfazendo inflação anualizada de 3,22%, muito abaixo do centro da meta.
A fraca variação de agosto veio mesmo com o aumento provisório das contas de energia elétrica, o que mostra a fragilidade da economia nacional e deixa ainda mais certa a opção do Copom em cortar a taxa básica de juros em 0,5%. Todos os números apontam para uma política monetária expansionista muito mais distendida aqui no Brasil.
Como reflexo dessa incerteza, desde a segunda-feira (19/8), o câmbio da moeda americana saiu de R$ 4,0023 e atingiu R$ 4,0940 ainda nos primeiros minutos do pregão desta sexta. O Real acumula uma depreciação de +1,68% até a abertura dos mercados.
Evolução dos PMIs da Zona do Euro fortalecem a moeda
Com relação a Zona do Euro, a semana foi marcada por dados preliminares de atividade, medidos pelo PMI Markit.
Os PMIs compostos das principais economias da Zona do Euro apresentaram boa evolução no mês de agosto. Apesar de serem dados preliminares, as leituras prévias são um bom termômetro da situação atual. Com os resultados benignos vindos da Alemanha e da França, o resultado agregado da Zona do Euro acompanhou o movimento e recuperou o patamar do mês de junho.
É importante destacar que apesar da melhora, com exceção da França, que parece estar em um processo mais claro de retomada, os dados são apenas marginalmente positivos, ou seja, não descartam problemas econômicos mais sérios vindo do velho continente.
E essa percepção continua alimentando o mercado com incerteza e preocupação. A Alemanha ainda não registrou dados positivos mais consistentes, ao contrário, vem de uma sequência negativa de dados sobre a sua produção industrial e comércio exterior.
Assim, o Euro abriu a semana cotado a R$ 4,4396 e ganhou força frente ao Real, chegando a ser cotado a R$ 4,5227 no pregão de quinta-feira (22). Na abertura do pregão desta sexta, o câmbio do Euro era cotado a R$ 4,5102, uma variação semanal de aproximadamente +1,59%.
Incertezas sobre Brexit impactam Libra Esterlina
Boris Johnson, primeiro ministro da Inglaterra, protagoniza uma série de encontros com líderes europeus na tentativa de conseguir algum acordo para o Brexit.
Johnson, como destacamos em diversos momentos nesta coluna, é um assíduo defensor da saída do Reino Unido do bloco europeu, inclusive sem acordo, o Hard Brexit.
Johnson voltou a Londres animado depois que o presidente Macron disse que um acordo Brexit era possível. Um dia antes, o Premier britânico já havia conseguido o mesmo resultado com Angela Merkel. Os acordos trouxeram algum alívio para a Libra.
Nesse contexto, o câmbio da Libra abriu a semana cotada a R$ 4,8628 e ganhou força em relação ao Real, alcançando o patamar de R$ 4,9853 na abertura do pregão de sexta-feira (23), desvalorização do Real de 2,52%. Na quinta-feira (22), a Libra chegou a ser negociada R$ 5,0015, patamar que não alcançava há semanas.
Perspectivas
A expectativa de uma política monetária prolongadamente expansionista no Brasil tem servido como repelente de divisas estrangeiras, ainda que no resto do mundo a situação seja basicamente a mesma.
Essa saída maciça de capital externo se agrava pelos mesmos motivos das semanas anteriores: intensificação da guerra comercial, problemas com a Argentina e a desaceleração da economia europeia.
O fato novo, no entanto, é o desdobramento da crise ambiental no Brasil. Espera-se que com o agravamento da situação na Amazônia, o problema se estenda as negociações comercial do Brasil com a Europa e Ásia, por exemplo, implicando problema a um dos poucos setores que andam bem no Brasil, o do setor externo.
A despeito do esforço com as reformas e outros encaminhamentos, o mercado não aprovou o pacote de privatizações apresentado pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo analistas, o pacote foi insuficiente e gerou mau humor no mercado financeiro, o que acabou por contribuir para a desvalorização da moeda nacional.
O Banco Central agora vende dólares à vista, mas nem assim, consegue segurar a tendência de valorização do Dólar.
Uma coisa é segurar a desvalorização do Real, outra coisa é tentar impedir um movimento global de valorização do Dólar. Por isso, procure antecipar suas remessas para o exterior.
Seguimos de olho.
André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.