Visão Geral
O ano de 2022 pode ser marcado por um importante ponto de virada na nossa economia.
Para isso é importante entender que boa parte dos nossos problemas são estruturais e não poderão ser ajustados com remendos e ações políticas populistas.
E por mais que os desafios econômicos do ano que vem sejam gigantes, nós podemos sair de 2022 mais fortes do que entramos.
Quer saber o que tudo isso tem a ver com o câmbio? Acompanhe nossa análise a seguir.
Prenúncio de um período duríssimo
Tudo parecia bom depois que o Brasil anunciou ao mundo que sua economia tinha crescido 3% em 2013.
O crescimento de 3% foi muito bem recebido depois de a economia brasileira ter sentido os impactos da crise da dívida soberana europeia e avançado “apenas” 1,9% em 2012. Na ocasião, o Brasil ocupava o sétimo lugar no ranking das maiores economias do mundo.
Acontece que em 2014 houve um importante ponto de virada. Dados do IBGE indicaram que a economia brasileira havia se expandido no menor ritmo desde 2009, quando o país ainda sentia os efeitos da crise do subprime. No último ano do primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff conseguimos uma expansão suada de 0,5%.
Os investimentos, que de 2004 a 2013 haviam se expandido a uma taxa anual média de 7,1%, caíram 4,2% em 2014, 13,9% em 2015 e mais incríveis 12,1% em 2016.
Já o consumo das famílias, que se expandia a uma taxa média de 5% entre 2004 e 2013, caiu cerca de 7%, somando os percentuais de 2015 e 2016.
A situação era crítica e mesmo assim alguns economistas e políticos insistiam que um bom remendo poria de pé o imenso castelo de cartas que havia se transformado a economia brasileira.
A falsa euforia
Diante da falência econômica brasileira, Dilma Rousseff se apressou em indicar um nome mais afeito ao mercado para o Ministério da Fazenda.
Executivo do Banco Bradesco, Joaquim Levy prometia trazer responsabilidade fiscal, diminuição da dívida bruta em proporção do PIB, manutenção dos programas sociais e crescimento econômico. Tudo isso, “muito rápido” ipsis litteris.
Levy, levado pelo calor do momento, disse que o governo produziria resultado primário positivo (gastos do governo menores que arrecadação) de 1,2% do PIB já no ano de 2015. Mais que isso, o novo ministro disse que não aceitaria um resultado primário positivo menor que 2% do PIB em 2016.
Essas projeções extremamente otimistas – e descabidas – se depararam com a frieza dos números e em menos de um ano Levy já não estava no comando do Ministério.
A economia não só não cresceu em 2015 como caiu cerca de 3,5%. No ano seguinte, outra queda, quase tão importante quanto a primeira, 3,3%.
Governo fazendo poupança? Nunca mais se viu desde então.
Mas o otimismo trazido pela chegada do ex-ministro permaneceu elevado por outros motivos.
À época, o possível afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff deu oxigênio aos indicadores de confiança.
Comércio, serviços, indústria, construção civil e consumidores estavam confiantes de que Michel Temer pudesse dar novo rumo à economia brasileira.
O resto da história você já sabe, mas mesmo assim vou contar.
A economia simplesmente não anda
Assim que assumiu o poder, o ex-presidente Michel Temer deixou claro que estava extremamente confiante na retomada econômica do Brasil.
Seu diagnóstico? O problema estava na condução das políticas econômicas. Então, bastaria fazer diferente que tudo saíra como o planejado.
Reformas trabalhistas, teto de gastos, liberação de FGTS e bom desempenho da agropecuária e da indústria exportadora de minerais pelo intenso processo de desvalorização cambial, não foram suficientes para dar a energia necessária para a economia nacional.
De modo geral, alguns dos elementos listados acima não produziram, nem na melhor das hipóteses, crescimento econômico, mas a equipe econômica do ex-presidente não era capaz de perceber.
A economia brasileira cresceu míseros 1,3% em 2017 e 1,8% em 2018. E antes que você se pergunte: não é melhor crescer pouco do que cair? É importante levar em consideração que estes percentuais são extremamente frustrantes se levarmos em conta o esforço feito para que ele acontecesse e pelas promessas feitas por Temer.
O que é bastante curioso nesta passagem é que apesar de querer a alcunha de presidente reformista e de ter atuado em diversas frentes que eram demandadas pelo mercado e pelo empresariado brasileiro, o que se viu foi ainda mais degradação.
O combate à corrupção parece ter sido pura retórica, se lembramos dos grampos e de escândalos que marcaram os movimentos do mercado de câmbio e de capitais.
Veja, esse não é um texto para apontar problemas morais de qualquer que seja o partido político ou seus representantes, mas escândalos recorrentes trouxeram profundas quedas do Ibovespa e fortes desvalorizações cambiais.
Chega a ser irônica a desvalorização de 11,3% da moeda brasileira em relação ao dólar ao mesmo tempo em que o governo era agraciado pela criação do teto de gastos.
A pandemia apenas intensificou os problemas econômicos
Você já deve ter percebido que o nosso problema não é a pandemia, certo?
Eu jamais negaria os óbvios impactos da pandemia sobre os macroindicadores brasileiros, mas também não posso negar que, na verdade, a pandemia apenas colocou mais combustível nos problemas que já eram latentes na nossa economia.
A taxa de desemprego, que atingiu níveis alarmantes em 2020, já era alta em março do mesmo ano, quando as primeiras medidas de distanciamento social foram adotadas por aqui.
Segundo o IBGE, o Brasil encerrou o primeiro trimestre do ano passado com cerca de 12,1% de pessoas desocupadas. Em janeiro e fevereiro de 2020 já havia uma clara tendência de alta neste indicador.
No câmbio, só em 2020, ano que sentimos os piores impactos da pandemia sobre nossas vidas, a taxa de câmbio aumentou cerca de 29%. Mas antes disso, em 2019 já havíamos registrado 3,6% de desvalorização da nossa moeda e em 2018 o impacto havia sido mais intenso, 17,2%.
Nas contas públicas, os resultados anuais foram todos deficitários desde 2014 como já foi dito, mas apesar de negativos, os resultados vinham “melhorando” nos anos que antecederam a pandemia.
O grande problema dessa melhora nas contas públicas é que ela ocorreu majoritariamente por eventos extraordinários, ou seja, acontecimentos não recorrentes que não são capazes de sustentar uma melhora de longo prazo.
O cenário básico da Instituição Fiscal Independente mostra que o governo só deve fechar as contas no azul em 2025.
Como chegamos em 2022
Se você tiver curiosidade de olhar o Boletim Focus do Banco Central terá uma má impressão sobre as expectativas para 2022.
É claro que nenhuma das muitas dezenas de empresas que postam suas projeções à autoridade monetária brasileira, tem bola de cristal, portanto, podem estar erradas acerca do que nos espera para o ano que vem.
Mas é inegável que houve importante deterioração das estimativas nas últimas semanas.
Para começar, espera-se que haja novo descumprimento da meta de inflação. A meta do ano que vem é de 3,5%, podendo variar 1,5% para mais ou para menos. A estimativa do mercado é de que a inflação ultrapasse ligeiramente os 5%.
Com relação ao câmbio, a expectativa é de que a moeda norte-americana termine o ano cotada a R$ 5,60.
Para além do Boletim Focus, também é importante registrar que o rendimento médio real do brasileiro continua em compressão, ou seja, as pessoas estão ganhando menos e o volume de recursos disponíveis para consumo teima em permanecer em patamar muito baixo.
E o pior de tudo isso é que 2022 é ano de eleição, o que pode ser potencialmente danoso para o câmbio e, consequentemente, para a inflação.
Diante disso, o mercado já projeta crescimento meramente marginal da economia para o ano que vem. No último Boletim Focus (24/12) a estimativa para o PIB do ano que vem foi de +0,42%.
Além dos desafios domésticos, ainda estamos enfrentando os problemas econômicos trazidos pela pandemia em curso.
Perspectivas para o câmbio
A moeda brasileira deve continuar perdendo campo para a moeda norte-americana à medida em que se aproxima o pleito eleitoral do ano que vem.
Esse movimento pode ser ainda mais agudo a partir de maio, quando as pesquisas de intenção de voto devem começar a entregar cenários mais consistentes para o mercado.
A nossa autoridade monetária poderá, como já tem feito, atuar no mercado à vista ou intensificar as intervenções via swap cambial para impedir movimentos bruscos no câmbio.
O grande problema nessas intervenções é que um esforço maior para conter a desvalorização da moeda brasileira já tem sido feito nas últimas semanas e os resultados não têm sido nada animadores.
O Bacen passou a ofertar lotes adicionais de swap cambial depois que os bancos comerciais desfizeram suas posições estratégicas de câmbio chamadas de overhedge. E mesmo com esse dinheiro adicional, a moeda brasileira continuou perdendo força em relação ao dólar, o que é um mau sinal para 2022.
A ver o desenrolar das pesquisas de intenção de votos, a pandemia, a desancoragem fiscal e os desdobramentos políticos domésticos.
A boa notícia é que nenhuma tempestade dura para sempre.
Seguimos de olho.