O mundo está cada dia mais sensível. Há vários fatores interferindo ao mesmo tempo – guerra cambial, crise argentina, inversão da curva de juros nos Estados Unidos – e isso torna o cenário econômico global cada vez mais instável.
Na segunda-feira (12), o índice Merval, que acompanha as ações argentinas caiu 37,9%, a segunda maior queda mundial já registrada em apenas um dia. Tudo isso devido a grande chance de um governo país ganhar as próximas eleições em outubro. Ficou atrás do tombo de 61% da Bolsa de Colombo no Sri Lanka, quando o país passava por uma guerra civil.
A guerra comercial entre os EUA e a China não dão trégua. Cada dia temos um novo capítulo. Por mais que, por vezes, acompanhamos notícias positivas como o adiantamento da imposição de tarifas por parte de Trump, já no dia seguinte vemos um balde de água fria com os dados de ritmo de atividade chinesa reduzidos a níveis que não eram vistos há mais de 15 anos.
O que não falta é volatilidade e motivos para ficar atento. É um tiroteio macroeconômico com ruídos vindo por todos os lados, impactando o cenário econômico global.
Nesses momentos, é importante lembrar que a moeda brasileira é sensível às condições sistêmicas, globais, regionais e nacionais. Quando as coisas vão mal, ela paga muito mal.
Nova inversão da curva de juros
Somado a tudo isso, a curva de juros norte-americana está, novamente, com inclinação negativa com o rendimento (yield) do título longo de 30 anos (T-bond) aproximando-se da mínima histórica.
Sempre que os juros estão negativamente inclinados, um sinal de alerta é ligado. Agora, a diferença (spread) entre os juros de 10 anos dos EUA e os contratos de três meses está no campo negativo. Ou seja, os juros curtos de três meses estão maiores do que os de 10 anos.
Tal conjunto sugere uma disfuncionalidade monetária, que ainda coincidem historicamente com quedas acentuadas dos principais índices acionários norte-americanos – vide S&P 500 e Nasdaq derretendo durante a semana.
O principal fator a ser monitorado é que quando ocorre esta inversão, pode ser uma sinalização de risco de recessão da economia dos EUA. A atenção não é à toa, essa inversão da curva ocorreu antes de todas as recessões dos últimos 50 anos. E para vários economistas, uma inversão agora pode ser sinal de crise daqui um ano.
A grande questão para o cenário econômico global é se este sinal visto como tão alarmante significará uma recessão, crise mesmo ou se teremos apenas um pouso suave com economia mais fragilizada sem conseguir crescer com a mesma pujança que vimos nos últimos 10 anos. O cenário de “apenas” uma desaceleração, sem dúvidas, é o melhor e mais esperado.
Outro questionamento que se tornará mais frequente, é o quanto os estímulos monetários oferecidos pelos bancos centrais serão capazes de reverter a atual situação. Já temos taxas de juros negativas e anúncio de novas rodadas de incentivos. Mas será que deverão ocorrer apenas para não decepcionar os mercados que ficaram viciados nesta liquidez ou realmente sentiremos os efeitos na economia?
Por ora, temos um consenso de que o Fed (banco central americano) e os demais BCs devem continuar o que vem prometendo (ou sendo pressionados a fazer) em seus discursos.
Mas, no final do dia, o que vemos é a busca dos investidores internacionais por segurança. Seja com dinheiro em caixa e bem seguro sob o seu controle, seja em direção a moedas fortes, além do dólar, entram o franco suíço e iene. Claro, o ouro também é o refúgio de última instância – ainda que o momento seja de atenção e não pânico, permanece a cautela.
Portanto, o viés de alta do dólar deve seguir. Afinal de contas, ninguém quer correr riscos desnecessários. A ideia de utilização de nossas reservas cambiais neste contexto de beco sem saída parece plausível.
Na tarde de quarta-feira (14), o BC divulgou um comunicado informando a utilização das reservas cambiais para conter a valorização do dólar. Veremos quais serão os efeitos daqui para frente com o dólar ainda flertando os R$ 3,90 em meio a um cenário mais tenso globalmente.
Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência e planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante e acabou de inaugurar um Instagram sobre finanças pessoais e economia:@glendamaraf.