O mundo está com passando por um momento de altíssima liquidez, o que significa dizer que o problema não é falta de dinheiro, mas sim para onde o dinheiro está indo. Uma das justificativas que contribuem para essa injeção de liquidez por todos os lados é a atuação dos principais Bancos Centrais.
Já explicamos. Atualmente, devido ao receio de uma desaceleração global e redução do ritmo de crescimento dos países, que é agravada por disputas entre EUA e China e mais recentemente, com o risco de até uma epidemia global do coronavírus, os bancos centrais (BCs) passaram a atuar de forma mais firme.
Lógico que o movimento de aumento de estímulos por partes dos BCs já está num ritmo intensificado desde meados do ano passado, porém agora a cada novo sinal de possível recrudescimento do ritmo da pulsão de crescimento global, as medidas ficam ainda mais energéticas.
Vide o que o Banco Popular da China (o Banco Central chinês) fez esta semana. Na segunda-feira (03), o BC anunciou que reduziu as taxas de juros de operações de recompra (repo) reversa ao mesmo tempo em que injetou um grande volume de liquidez no sistema bancário em uma tentativa de prover apoio a uma economia sofrendo com o surto do coronavírus.
O corte das taxas de juros de operações de repos reversas com prazo de sete e 14 dias, foi de 10 pontos-base, para 2,4% e 2,55%, respectivamente. Além de o BC chinês também ter injetado 1,2 trilhão de yuans por meio desse mesmo tipo de operação no sistema financeiro.
O que mais surpreende é que o corte foi inesperado, o que mais uma vez justifica o consenso de que a atuação foi para conter os ânimos já abalados dos investidores que estavam receosos com o novo vírus, e que inclusive já tinham revisado para baixo as previsões de crescimento chinesa.
Como essa injeção de liquidez afeta o Brasil?
Se o mundo está com uma liquidez exacerbada, o Brasil também espera receber parte dessa movimentação total de recursos e não está para trás, o Banco Central (BC) também está atuante na direção de aumentar a liquidez e incentivar a economia do país.
Nesta semana, o Copom (Comitê de Política Monetária) optou por reduzir mais uma vez a taxa de juros básica da economia, a Selic, para 4,25%. Com isso, renovou novamente o piso histórico da taxa.
Para muitos economistas, esse corte não era mais necessário, afinal de contas, um corte de 0,25 ponto percentual não parecia gerar tanto efeito assim quando a taxa já estava tão baixa. Por isso, o entendimento passou a ser de que parece os juros estão sendo utilizados mais utilizados como uma ferramenta para sentir o mercado.
O dólar mais elevado, sem causar impactos, ao mesmo tempo em que a Selic está nas mínimas são mais do que um teste para a inflação. O questionamento é: até quando a economia aguenta cortes de juros, deixando o câmbio andar e a inflação sem reclamar?
E se o teste está sendo levado a sério, é porque há cartas na manga. Além, é claro, de o BC ainda conseguir manipular a taxa de juros, nós estamos interessados mesmo é nos impactos para o dólar. Para começar, neste artigo comentamos quais são as possíveis intervenções no câmbio que o BC tem a seu dispor, e como começamos o texto, ainda há o excesso de liquidez global.
Este segundo ponto não depende apenas do BC, mas após tamanha fuga de capitais visto no ano passado, passa a ser considerada como plausível que passamos a ter mais recursos estrangeiros caminhando em nossa direção e assim, ao menos o dólar, passa a ficar sob controle.
Neste contexto, ainda estamos ressabiados com os “testes” que estão sendo feitos em nossa economia. O Brasil não é para iniciantes e ainda que os BCs ao redor do mundo estejam empenhados em não deixar as suas economias pararem de crescer, aqui a cautela deve ser sempre predominante.
Se teremos juros baixos por mais tempo, o dólar precisará começar a ceder um pouco, ou senão começaremos a sentir os efeitos da inflação em nosso dia a dia. Não é possível que o tripé dólar, juros e inflação caminhem nos extremos como estamos vendo por muito tempo, esse tipo de equilíbrio não existe e uma das partes deverá ceder. Portanto, ficamos de olho na atuação de qual será o teto que o BC tem para o dólar e como deverá manipulá-lo.