Ciclo de afrouxamento monetário eleva câmbio

O câmbio das moedas estrangeiras está em alta esta semana por conta do ciclo de afrouxamento monetário das economias centrais. O corte de juros no Brasil levou os investidores a buscarem opções mais seguras nos mercados centrais.

Para além dos conflitos geopolíticos que estão marcando a arena internacional, um conjunto de medidas adotadas pelos bancos centrais entraram no radar esta  semana.

Um novo ciclo de juros baixos e estímulos monetários se intensifica e, em grande medida, a mensagem que os policy makers passaram é: não sabemos ao certo se há uma recessão à frente, mas a economia mundial se encontra claramente fragilizada, então, vamos estimular para evitar o pior. Talvez subestimar uma recessão não seja uma atitude das mais sábias… 

Acompanhe. 

Real x Dólar

Dólar em alta por conta dos cortes de juros

O Dólar comercial começou a semana cotado a R$ 4,0854 e fechou o pregão de segunda-feira (16) cotado a R$ 4,0810 – uma leve apreciação do Real de aproximadamente 0,11%.

Esperava-se que o Dólar seguisse nessa linha durante a semana, meio que andando de lado, mas no meio do caminho tinha um Fomc e um Copom. Apesar de certa apreensão, o mercado trabalhava com a hipótese de queda nos juros, tanto nos EUA quanto no Brasil.

A confirmação das expectativas do mercado, contudo, não trouxe o alívio que se esperava para o Real, pois na quarta-feira (18), após o anúncio do Fomc, o mercado ainda achou espaço para levar o Dólar a R$ 4,1112, uma depreciação de 0,63% do Real desde a abertura da semana.

Com o anúncio do Copom, que também reduziu a taxa de juros de referência (a nossa querida Selic), o Dólar se fortaleceu ainda mais, indo para R$ 4,1678, depreciação do Real de mais de 2% em relação a abertura de segunda-feira.

Todo esse movimento foi pautado na busca por segurança por parte de investidores e, portanto, a compra de dólares foi maior, elevando a cotação da moeda estadunidense. Esta busca por segurança decorre da percepção de que as economias se encontram fragilizadas e estímulos são necessários.

No início desta sexta-feira (20), por exemplo, um dos membros do Fomc, James Bullard, defendeu um corte até maior dos juros do Fed (0,5 pp em vez dos 0,25 pp), pois vislumbra uma desaceleração mais forte da economia estadunidense no horizonte.

Aqui no Brasil, além da confirmação do corte de 0,5 pp na Selic, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Netto, também confirmou eventuais novos cortes nas próximas reuniões. O mercado já trabalha com a hipótese de um corte de 0,5 pp em outubro e outro de 0,25 pp no início de dezembro, levando a Selic a 4,75%.

A fala de Campos Netto no atual contexto externo levou a uma fuga de dólares do Brasil, especialmente mais especulativos, em busca de juros maiores com uma relação entre risco-retorno razoável, como é o caso do México, por exemplo. 

Enquanto as incertezas e preocupações se ampliam, a moeda americana saiu de R$ 4,0854 na segunda-feira e abriu o pregão de sexta-feira (20) negociada na casa dos R$ 4,1674. O Real acumula, portanto, uma depreciação de aproximadamente 2%. 

Real x Euro

Euro sofre com perspectivas de recessão na Europa

Pode parecer meio repetitivo, já que temos falado disso há semanas, quiçá meses, mas há uma forte recessão que se aproxima da Europa e deve abalar o Euro muito em breve. 

O Brexit, indicadores ruins na Alemanha e na Itália, além dos próprios conflitos políticos pelos quais os italianos estão enfrentando,  enfraquecem os leves sinais de recuperação econômica na França. Desse modo, as grandes economias europeias se veem em um verdadeiro mato sem cachorro.

O Banco Central Europeu já ampliou os estímulos monetários, com medidas bastante “agressivas”, como uma forte recompra de títulos públicos e corporativos na ordem de 20 bilhões de Euros ao mês, para injetar dinheiro novo na economia.

Além desta medida, o BCE também reduziu ainda mais a taxa de depósitos, de -0,4% para -0,5%. Em suma, se os bancos comerciais deixarem dinheiro parado em suas reservas, eles recebem de volta -0,5% dessa grana. A tentativa também é de fazer com que os bancos emprestem mais e movimentem a economia. 

Assim sendo, o Euro abriu a semana cotado a R$ 4,4897, mas o Real perdeu força frente ao em relação ao Euro, também em busca de segurança e oportunidades, chegando a ser cotado a R$ 4,6132 nas primeiras horas do pregão de sexta-feira (20). 

Na abertura do pregão, contudo, o Euro foi cotado a R$ 4,6035, uma depreciação semanal do Real de aproximadamente 2,5% em relação à moeda europeia. Em relação ao Dólar americano, o Euro perdeu 0,4% do valor era semana.

Real x Libra Esterlina

Libra esterlina valorizou 3% esta semana

No Reino Unido, os dilemas políticos contaminam a economia. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, iniciou a semana dizendo ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que terá um acordo até o dia 18 de outubro e, portanto, não aceitará novo adiamento da data-limite de 31 de outubro para o Brexit.

Em relação ao Real, a Libra abriu a semana cotada a R$ 5,0724 e até a quinta-feira (19) estava cotada a R$ 5,2196, uma apreciação da moeda britânica de incríveis 2,9%. 

A mensagem é clara, ou seja, Johnson está disposto a continuar fazendo de tudo para efetivar o Brexit. Na realidade, as tentativas frustradas de colocar o Parlamento em stand by para negociar o Brexit sozinho deu a clara dimensão do quão longe o premier britânico está disposto a ir. 

Logicamente que os aspetos estritamente políticos são relevantes, mas a maior preocupação, de todo modo, é com a economia. Na terça-feira, por exemplo, foi divulgado o resultado mensal do Índice de Preços ao Consumidor do Reino unido. 

O IPC variou 0,4% em agosto, levemente abaixo das expectativas do mercado, mas acima do mês anterior. Poderia ser um ponto positivo, mas o dado anualizado passou de 2,1% para 1,7%. 

A razão por trás dos preços abaixo da meta do Banco da Inglaterra (BoE) é a economia em ritmo de deterioração. As vendas no varejo britânico divulgadas na quinta-feira caíram 0,2% na passagem de maio para julho, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, em inglês). 

Apesar de toda a pressão e dos conflitos políticos levantados pelas ações de Boris Johnson, o pior cenário ainda é de um Brexit sem acordo que, segundo a OCDE, caso se concretize, deverá cortar 3% do crescimento econômico do Reino Unido.

Nesse contexto, após turbulência da Libra Esterlina, a moeda voltou à trajetória de valorização com a perspectiva de acordo sobre as fronteiras das Irlandas, sendo negociada no patamar de R$ 5,2198 logo após a abertura do pregão de sexta-feira (20). Na semana, a depreciação do Real em relação à moeda britânica é de quase 3%.

Perspectivas

O ponto-chave desta semana foi justamente a atenção que os bancos centrais estão dando para a recessão que se aproxima. Apesar de dividir algumas opiniões, no geral, o argumento para os estímulos monetários é o tal do “just in case…”.

Ou seja, não dá pra determinar exatamente se a economia “vai dar ruim”, então, é melhor prevenir. Esse parece ter sido o espírito do presidente do Fed, Jerome Powell, por exemplo. 

De todo modo, o que os dados europeus e britânicos colocam em evidência é que há mais do que uma “aparente” desaceleração mais forte da economia à frente. Nos EUA, Bullard e Williams já perceberam que há setores já em recessão.

A questão agora é quando a recessão se efetivará e qual será o tamanho do estrago. Até lá o câmbio deve seguir volátil e o Real desvalorizado.

Seguimos de olho.

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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