André Galhardo - De Olho no Câmbio
Em meio ao aumento do número de mortes decorrentes da Covid-19, o governo brasileiro e o mercado financeiro já vislumbram os problemas pós-pandemia. A situação fiscal, que já era crítica antes da chegada do novo coronavírus ao país, deve ficar muito pior, sobretudo pelo modus operandi dos policy makers do Ministério da Economia e órgãos correlatos.
Diante do aumento do clima de incerteza, nós assistimos a perda de valor da nossa moeda em relação ao dólar. Quais impactos imediatos da crise política, sanitária e econômica? O que será do Brasil depois disso tudo?
Acompanhe nossa análise a seguir.
Temos destacado de modo recorrente em nossas análises mais recentes que antes da chegada do novo coronavírus ao Brasil, já estávamos envoltos a um problema fiscal de grande relevância. Isso não é novidade.
Diferentemente da primeira década deste século, quando nós nos acostumamos a acompanhar importantes resultados positivos nas contas do governo, de 2014 para cá a situação ficou bastante delicada.
É verdade que o governo brasileiro cumpriu, com folga, o resultado primário de 2019, no entanto, esse cumprimento se construiu com receitas extraordinárias. E, por melhor que tenha sido o ano, nós fechamos novamente com resultados negativos.
Para ter dimensão do problema fiscal brasileiro, segundo analistas econômicos do Senado Federal, se tudo desse certo, o governo brasileiro só seria capaz de fechar as contas públicas no azul em 2026.
Essas estimativas foram feitas antes da chegada do novo vírus ao Brasil. Agora, com a atualização da conjuntura e dos dados, a estimativa oficial é de resultado positivo somente a partir de 2031. Se tudo correr bem, claro.
O atual governo venceu as eleições com a promessa de reequilibrar as contas públicas. A entrega de tal promessa seria viabilizada por algumas reformas importantes como a previdência, administrativa e a tributária.
Por isso, mesmo diante de uma das maiores pandemias das últimas décadas, o governo brasileiro continua falando na necessidade de reformas.
As reformas são importantes? Sim, com certeza. Mas este não é o momento mais oportuno para colocá-las em pauta – mesmo que o seja somente na retórica.
Além disso, é importante não perder de vista as seguintes situações:
Quando tudo isso acabar, será o momento de mais estímulos, ajudando a iniciativa privada a retomar a confiança e fomentando o investimento para que resolvamos, de vez, a calamitosa situação das contas públicas.
Quando a crise do novo coronavírus estiver no passado, será a hora de mudar o mindset brasileiro. Nós não suportaríamos crescer 1% por toda uma década. Não podemos comemorar a cada ano um aumento de 1% na nossa economia. 1% não repõe sequer a depreciação dos ativos do país.
A partir daí veremos que a solução para os problemas das contas públicas vão além das reformas. É preciso dar sobrevida à iniciativa privada, este é o caminho para chegarmos mais cedo aos resultados fiscais positivos.
A crise mudou as estruturas que ainda pensávamos ser impossível alterar. Antes do coronavírus, por exemplo, era quase uma heresia falar sobre novos cortes da taxa básica de juros. Agora é uma realidade.
Mesmo o Banco Central do Brasil, ao cortar a taxa em março deste ano para tentar combater os impactos da disseminação da nova infecção no Brasil, o fez de forma muito amedrontada. Cortou a Selic em 0,5% ponto, de 4,25% para 3,75%.
O medo maior era de que a taxa de juro efetiva ficasse abaixo, ou muito abaixo do que os membros do Copom chamam de taxa de juro estrutural, ou seja, do patamar em que a taxa poderia gerar estímulos econômicos que culminariam em um processo inflacionário.
A vida se mostrou mais dura que os manuais de macroeconomia. Assim, a autoridade monetária brasileira decidiu fazer um corte mais robusto na última reunião, desta vez de 0,75%, com a informação de que dois membros do comitê gostariam ainda de realizar um corte mais profundo. Estamos em 3% e a expectativa oficial é de que fechemos o ano em 2,25%. Achamos que a Selic pode ser ainda menor em 31 de dezembro.
O segundo medo do Banco Central vem do câmbio.
Com a taxa de juro mais baixa, alguns ativos financeiros ficam menos atrativos ao investidor estrangeiro. Esse movimento inibe a entrada de mais dólares no Brasil e estimula a saída do dinheiro estrangeiro que já estava por aqui desde antes da crise. Portanto, taxas de juros menores favorecem a desvalorização do real frente às demais moedas.
O que é importante lembrar agora é que o esforço de manter os dólares no Brasil é inútil. Não se trata de tentar conter a desvalorização do real – o que é fácil para o nosso Banco Central. Trata-se da tentativa de conter a valorização do dólar, algo sem sentido – já que não controlamos a emissão de dólares – e pode ser muito doloroso para a economia brasileira.
Diante de tamanha crise, a expectativa de curto prazo é de uma taxa de juro sensivelmente menor e de uma taxa de câmbio mais elevada. Mas isso tudo não se restringe apenas ao novo coronavírus.
Quando dizemos que o Brasil vive a “tempestade perfeita”, trata-se da referência à crise de saúde – que o mundo todo passa neste momento -, e às crises internas – com destaque para a crise política.
Em momentos mais agudos da crise global que estamos atravessando, vemos claramente a desvalorização da nossa moeda. Esse movimento é acompanhado por outros emergentes, como turcos, russos, argentinos, mexicanos, sul-africanos, dentre outros.
Apesar das semelhanças com a maioria dos países subdesenvolvidos, no Brasil a situação é mais crítica e decorre da delicada situação política que estamos enfrentando. Não cabe alongarmos estas questões, já que o noticiário local se encarrega de fazê-lo.
Contudo, devemos destacar apenas que os problemas políticos, presentes no Brasil ao menos desde 2013, são mais relevantes que a taxa básica de juros ou o resultado primário. Na verdade, essas variáveis econômicas refletem os estímulos políticos ou são fortemente influenciadas por eles.
Nós teremos uma situação fiscal, cambial e monetária mais aprazível quando se dissiparem os problemas políticos mais graves. A má notícia é que há uma longa jornada até que isso se concretize.
Veremos.
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