De Olho no Câmbio #267: Fed austero deve moderar ganhos do real nos próximos dias

Na última semana, o mercado observou a divulgação dos indicadores de atividade econômica, com destaque para a produção industrial brasileira, que contraiu 1,6% em janeiro. Nos EUA, os dados do mercado de trabalho indicam um cenário aquecido, o que torna improvável um corte nas taxas de juros no curto prazo. Isso afeta os ganhos do real frente ao dólar. Na Zona do Euro, o índice de preços ao produtor registrou deflação, amenizando as pressões inflacionárias. O mercado permanece atento à política monetária e aos indicadores econômicos para prever movimentos no câmbio e nas taxas de juros.

Quer saber mais sobre Brasil, EUA, Zona do Euro e Reino Unido? Acompanhe a seguir os desdobramentos destes e outros acontecimentos.

Real x dólar

Começamos a semana com o dólar cotado a R$4,9551 na segunda-feira (4/mar), um nível 0,8% inferior à abertura da semana anterior (26/fev). A cotação da moeda estrangeira registrou relativa estabilidade ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (8/mar) cotado a R$4,9351, patamar 0,7% inferior à abertura da sexta-feira anterior (1/mar). Entre as aberturas desta sexta (8/mar) e da segunda-feira da semana anterior (26/fev), vimos uma valorização do real em relação ao dólar de 1,2%.

Nesta semana se observou o início das divulgações, por parte do IBGE, dos indicadores de atividade econômica, a começar pelos números da indústria. Em janeiro, a produção industrial reverteu os ganhos do mês anterior, contraindo 1,6%, o pior resultado desde setembro de 2022.

Por outro lado, 2024 começou de maneira favorável para as contas públicas, como mostraram as estatísticas fiscais, que indicaram um superávit primário de R$102 bilhões em janeiro. O desequilíbrio orçamentário se apresenta como um dos principais desafios para o governo, com a meta de déficit zero sendo encarada com ceticismo pelos mercados.

Já nos EUA, o mercado de trabalho permanece aquecido segundo as pesquisas JOLTs e ADP dos meses de janeiro e fevereiro, respectivamente. A contínua geração de empregos, assim como a aceleração inflacionária vista recentemente, torna cada vez mais improvável um corte das taxas de juros americanas no primeiro semestre deste ano.

Nesse sentido, os possíveis ganhos do real, ainda que sejam beneficiados pelas perspectivas de melhora no quadro fiscal, devem sofrer no curto prazo, enquanto a política monetária do Federal Reserve permanecer restritiva.

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Real x euro

O euro abriu o pregão de segunda-feira (4/mar) cotado a R$5,3708. Na abertura desta sexta-feira (8/mar), a cotação foi de R$5,4024. Portanto, houve uma desvalorização de 0,6% do real frente à moeda europeia, revertendo o movimento de valorização que foi observado na semana anterior.

Com relação ao dólar, a moeda europeia ganhou força esta semana, revertendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0841 na segunda (4/mar) para US$1,0947, nesta sexta (8/mar). Portanto, vimos uma valorização do euro de aproximadamente 1,0% (leia-se: é preciso mais dólares para comprar um euro).

A divulgação do PMI Composto e de Serviços na Zona do Euro apontou dados importantes e acima da previsão do mercado. O PMI Composto ainda permanece em território pessimista (49,2), no entanto apresentou aceleração na comparação com dezembro (47,9). O PMI de Serviços também apresentou aceleração na comparação mensal, o que fez o índice romper a linha de 50 pontos – o índice foi de 50,2 – o que sugere expansão da atividade.

A aceleração dos dois PMIs da Zona do Euro teve importante contribuição das duas maiores economias do bloco. Tal movimento lança luz para uma eventual recuperação econômica geral. Os PIMs de ambos países ainda sugerem contração da atividade econômica (abaixo de 50), mas na França apresentaram aceleração; por outro lado, na Alemanha, o PMI composto apresentou desaceleração, o que pode ser mais um alerta da retração da economia do país.

O índice de preços ao produtor (IPP) europeu apresentou deflação tanto na comparação mensal como anual, o que pode aliviar as pressões inflacionárias para o consumidor final nos meses à frente. Em termos mensais, a deflação foi de 0,9% e em termos anuais, ela foi de 8,6%; importante mencionar que o processo deflacionário anual perdeu força em janeiro, na comparação com dezembro de 2023 quando o índice apontava para deflação de 10,7%.

As vendas no varejo dentro da Zona do Euro apresentaram expansão mensal de 0,1%, em linha com o esperado pelo mercado e revertendo a queda observada em dezembro do ano passado. Por outro lado, na comparação anual, houve aprofundamento da queda em janeiro (-1,0%) pois no mês de dezembro o indicador havia apontado queda de 0,5%.

Por fim, a divulgação do PIB dentro do bloco trouxe sensação de alívio pois a região está livre de uma recessão técnica. Os dados do último trimestre de 2023 apontaram para estabilidade no indicador após ligeira queda (0,1%) no trimestre anterior. Em termos anuais, a região cresceu marginalmente: 0,1%.

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Real x libra esterlina

A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (4/mar) cotada a R$6,2692, patamar mais alto que o registrado nesta sexta-feira (8/mar), R$6,3214. Trata-se de uma desvalorização de 0,8% do real em relação à moeda britânica, revertendo a tendência de valorização registrada na semana anterior.

Já em relação ao dólar, a moeda inglesa ganhou força essa semana, revertendo a tendência de desvalorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (8/mar) cotada a US$1,2808 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2652, uma valorização de 1,2% da moeda britânica em relação ao dólar.

No Reino Unido, os PMIs britânicos permaneceram relativamente estáveis na leitura definitiva de fevereiro. Diferente da Europa continental, contudo, os indicadores já se encontram em terreno favorável, na faixa dos 53 pontos.

Tais resultados, porém, devem ser encarados com certo grau de ceticismo, tendo em vista que o PIB britânico recuou 0,1% em sua última divulgação, referente ao mês de dezembro.

Assim como a Zona do Euro, o Reino Unido atravessa um processo de desaceleração, ainda que ligeiramente mais brando, devido ao alto patamar das taxas de juros, necessário para combater as pressões inflacionárias.

Apesar da leitura do Índice de Preços ao Consumidor de janeiro ter indicado uma queda de 0,6%, a política monetária do Bank of England deve continuar restritiva nos próximos meses, de forma a não se desacoplar de sua contraparte americana.

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Perspectivas

Ainda que os dados do payroll e a taxa de desemprego norte-americana contrariem o mercado e indiquem, finalmente, um movimento de desaquecimento do mercado de trabalho, não existem garantias sólidas de que a economia dos Estados Unidos esteja diante de um movimento de desaquecimento.

Com isso, a expectativa é de que o Banco Central norte-americano, o Federal Reserve, mantenha, por meio dos seus dirigentes, uma postura cautelosa, indicando que o início do ciclo de cortes de juros se dará apenas na reunião marcada para o mês de junho.

Com sorte, a economia americana poderá contar com 5 cortes de juros de 0,25% este ano, o que poderia levar a taxa básica de juros para o corredor de 4,00% ~ 4,25%.

Tal constatação, a de que o Fed será extremamente cauteloso ao longo dos próximos meses, indica que eventuais processos de valorização da moeda brasileira serão vistos de forma lenta e gradual. Essa leitura vale também para o Euro, cuja autoridade monetária não deve se mover antes de o Fed dar o primeiro passo.

Seguimos de olho.

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