De Olho no Câmbio #290: Real resiliente suporta economia americana forte

O real apresentou uma valorização incomum frente ao dólar nesta semana, destacando-se após uma forte desvalorização nas semanas anteriores, em um movimento impulsionado pela expectativa de um corte modesto de juros pelo Fed. No Brasil, o setor de serviços mostra uma economia aquecida, o que pode gerar perturbações inflacionárias e levar o Copom a aumentar a taxa de juros ainda em 2024. Na Zona do Euro, aumentos salariais na Alemanha e queda de produtividade complicam a política monetária do BCE, enquanto no Reino Unido, indicadores econômicos positivos apontam para uma recuperação e continuidade do afrouxamento monetário.

Acompanhe as análises a seguir.

Real x dólar

Começamos a semana com o dólar cotado a R$5,5089 na segunda-feira (12/ago), um nível 3,9% inferior à abertura da semana anterior (05/ago). A cotação da moeda estrangeira registrou desvalorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (16/ago) cotado a R$5,4847, patamar 1,2% inferior à abertura da sexta-feira anterior (09/ago). Entre as aberturas desta sexta (16/ago) e da segunda-feira da semana anterior (05/ago), vimos uma valorização do real em relação ao dólar de 4,3%.

Em um movimento incomum, o real se destacou em relação a outras moedas e valorizou-se frente ao dólar no início desta semana. Embora a cotação da moeda americana tenha permanecido relativamente estável nos últimos dias, o desempenho da moeda brasileira nos últimos nove pregões chama atenção, indicando um claro ajuste após a forte desvalorização observada nas semanas anteriores.

A moeda americana chegou a ensaiar alguma recuperação depois que os dados do mercado de trabalho e do comércio varejista mostraram que o risco de recessão, por ora, está completamente descartado. Ou seja, a desaceleração gradual da economia dos Estados Unidos abrirá espaço para que o Fed opere um corte de juros mais modesto, de 0,25%, e não de 0,50% ou emergencial, como havia sido proposto por parte do mercado financeiro.

A chance de o Fed adotar uma postura um pouco mais conservadora na condução da política monetária tende a beneficiar a moeda brasileira no curto prazo. No entanto, há poucos fatores que justifiquem uma nova sequência de valorização do real.

No Brasil, dados do setor de serviços e indicadores antecedentes mostram que a economia permanece aquecida, o que acende um alerta para o Copom. Um ritmo de crescimento econômico superior ao esperado pode gerar distúrbios inflacionários no curto prazo, forçando o Comitê de Política Monetária a considerar um aumento da taxa de juros ainda em 2024.

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Real x euro

O euro abriu o pregão de segunda-feira (12/jul) cotado a R$6,0102. Na abertura desta sexta-feira (16/ago), a cotação foi de R$6,0193. Portanto, houve uma desvalorização de 0,2% do real frente à moeda europeia, revertendo a tendência que foi observada na semana anterior.

Com relação ao dólar, a moeda europeia ganhou força esta semana, alterando a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0915 na segunda (12/ago) para US$1,0972, nesta sexta (16/jul). Portanto, vimos uma valorização do euro de aproximadamente 0,5% (leia-se: é preciso menos dólares para comprar um euro).

A semana dentro da Zona do Euro foi vazia de indicadores de atividade econômica, mas duas informações chamaram a atenção e podem ter impactos no curto prazo.

A primeira refere-se à aceleração dos salários na Alemanha. Embora os dados mostrem que os recentes aumentos nos salários ainda não foram suficientes para recompor as perdas inflacionárias decorrentes da pandemia, essa trajetória tem exercido pressão inflacionária no país. Isso coloca em dúvida se o Banco Central Europeu irá cortar novamente os juros na próxima reunião. Caso os juros permaneçam no atual patamar, um fortalecimento do Euro é esperado.

A outra informação relevante é que a produtividade da força de trabalho caiu novamente, aumentando os desafios do Banco Central Europeu de trazer a inflação para a meta. O crescimento dos salários sem que haja uma melhoria correspondente na produtividade, torna mais caro o custo de produção, e esse custo maior sendo repassado para o consumidor final, significa mais perturbações inflacionárias.

Em síntese, a Zona do Euro se encontra em uma situação delicada pois, por um lado existe um apelo por novos cortes de juros para estimular a economia; por outro lado, os salários e a queda de produtividade colocam em risco um novo afrouxamento monetário. A tendência, nesse caso, é que o Euro mantenha-se valorizado no mercado internacional de divisas.

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Real x libra esterlina

A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (12/jul) cotada a R$7,0298, patamar mais baixo que o registrado nesta sexta-feira (16/jul), R$7,0510. Trata-se de uma desvalorização de 0,4% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de desvalorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.

Em relação ao dólar, a moeda inglesa ganhou força no decorrer da semana, revertendo a tendência de desvalorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (16/jul) cotada a US$1,2855 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2757, uma valorização de 0,8% da moeda britânica em relação ao dólar.

Por outro lado, a semana no Reino Unido mostrou-se bastante positiva em termos de indicadores econômicos, mostrando que a economia britânica tem apresentado recuperação.

A inflação, uma preocupação latente no Reino Unido, parece estar perdendo força com o IPC mostrando deflação mensal e o núcleo da inflação desacelerou na comparação com o mês anterior. O dado chancelou a última decisão do Banco Central que, apesar de dividida, optou pelo início do afrouxamento monetário.

Já com relação à atividade econômica, a previsão do PIB para o segundo trimestre mostrou aceleração na comparação com o mesmo período de 2023. Ainda com relação à atividade econômica, a produção industrial também apresentou forte aceleração na comparação mensal, adicionando dados à perspectiva de que a economia do país tem mostrado recuperação.

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Perspectivas

A iminente redução na taxa de juros nos Estados Unidos e a possível manutenção da Selic no Brasil (não se pode descartar uma elevação na reunião de setembro) aumentará o diferencial de taxa de juros, o que pode contribuir, mesmo que de maneira marginal, para uma valorização do Real. A expectativa é que a moeda norte-americana flutue no intervalo de R$5,50 a R$5,60 nas próximas semanas.

Por outro lado, as pressões inflacionárias na Zona do Euro vindas do mercado de trabalho, salários e produtividade, podem frear o afrouxamento monetário iniciado em junho. A possível manutenção na taxa de juros no bloco deve fazer com que o Euro ganhe força no mercado internacional de divisas.

Por fim, a atividade econômica no Reino Unido parece se recuperar e a inflação vem convergindo para a meta. Embora o primeiro corte na taxa de juros tenha tido uma decisão dividida, os dados mostram que há possibilidade de um novo corte na próxima reunião. Portanto, a Libra pode, marginalmente, perder força nos próximos dias.

Seguimos de olho.

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