A moeda brasileira voltou a se desvalorizar em relação ao dólar após falas contraditórias entre Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do Bacen, que indicava possíveis aumentos na Selic, e o presidente Roberto Campos Neto, que minimizou essa possibilidade, além da ata do Fed sugerindo cortes de juros. A instabilidade também reflete na Zona do Euro, onde o BCE enfrenta desafios de crescimento sustentável e pressões inflacionárias, apesar de uma leve melhora no setor de serviços impulsionada pelos Jogos Olímpicos. No Reino Unido, o PMI sugere recuperação econômica, enquanto a inflação permanece como principal foco do Banco Central.
Acompanhe as análises a seguir.
Real x dólar
Começamos a semana com o dólar cotado a R$5,4761 na segunda-feira (19/ago), um nível 0,6% inferior à abertura da semana anterior (12/ago). A cotação da moeda estrangeira registrou valorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (23/ago) cotado a R$5,5917, patamar 2,0% superior à abertura da sexta-feira anterior (16/ago). Entre as aberturas desta sexta (23/ago) e da segunda-feira da semana anterior (12/ago), vimos uma desvalorização do real em relação ao dólar de 1,5%.
Em mais um movimento surpreendente, o real voltou a se desvalorizar frente ao dólar, refletindo tanto as declarações do presidente do Banco Central do Brasil quanto a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve. Esse parece ser apenas o início de um período de turbulência à vista.
Antes de mais nada é preciso relembrar que parte do recente movimento de valorização da moeda brasileira foi sustentado pela postura mais conservadora do atual diretor de política monetária, Gabriel Galípolo. O diretor, atualmente o principal candidato a assumir a presidência do Bacen, mencionou em várias ocasiões a possibilidade de o Copom elevar os juros nas próximas reuniões de 2024. Essas declarações foram suficientes para impulsionar os ganhos do real em relação à maioria das outras moedas.
Galípolo falou sobre a desancoragem das expectativas, do atual nível de inflação e outras coisas que têm tirado o sono do mercado financeiro e do próprio Bacen. Diante destas declarações o mercado precificou um possível novo aumento da Selic, já na reunião marcada para o mês de setembro, o que acabou favorecendo o desempenho da moeda brasileira.
No entanto, na última segunda-feira (19), o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, adotou um tom mais sereno em entrevista concedida à Miriam Leitão. RCN ainda aproveitou um evento em um grande banco, horas depois da publicação da entrevista, para acalmar o mercado e dizer que embora as coisas inspirem cuidado, não é certo que o Copom fará qualquer tipo de aumento da Selic nas próximas reuniões.
Campos Neto disse ainda que parte da explicação para a deterioração dos indicadores qualitativos de inflação (medidas olhadas pelo BC para avaliar os fundamentos da inflação) se deu por aumentos transitórios de preços, como em alimentos e energia. Neto minimizou ainda o risco de um sobreaquecimento da economia implicar em mais distúrbios inflacionários.
As declarações de Campos Neto ressoaram no mercado financeiro, revertendo a valorização da moeda brasileira, mesmo com a ata da última reunião do Fed praticamente assegurando um corte de juros para a próxima reunião de política monetária, agendada para setembro.
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Real x euro
O euro abriu o pregão de segunda-feira (19/jul) cotado a R$6,0324. Na abertura desta sexta-feira (23/ago), a cotação foi de R$6,2136. Portanto, houve uma desvalorização de 3,0% do real frente à moeda europeia, mantendo a tendência que foi observada na semana anterior.
Com relação ao dólar, a moeda europeia ganhou força esta semana, mantendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,1024 na segunda (19/ago) para US$1,1111, nesta sexta (23/jul). Portanto, vimos uma valorização do euro de aproximadamente 0,8% (leia-se: é preciso mais dólares para comprar um euro).
A semana econômica na Zona do Euro foi marcada pela divulgação de dados de inflação e da ata da última reunião do Banco Central Europeu além de dados preliminares do PMI.
Os dados de inflação ao consumidor (IPC) mostraram desaceleração na margem, mas apresentaram ligeira aceleração na comparação anual. Embora a inflação anual tenha acelerado marginalmente, essa não parece ser a principal preocupação do Banco Central Europeu no momento, que tem dado mais atenção ao nível de atividade econômica no bloco.
Essa percepção está exposta na ata da reunião do Banco Central. No encontro, os diretores participantes reconhecem que o mercado de trabalho apresenta resiliência, mas que a região como um todo tem tido dificuldades em garantir um crescimento econômico sustentável ao longo do tempo. Mesmo que o BCE afirme que a inflação de serviços ainda seja um vetor importante de pressão inflacionária, o medo de uma estagflação parece ser o maior temor dentro do bloco.
Por outro lado, os dados preliminares do PMI podem indicar uma ligeira melhora na atividade econômica da região em agosto, principalmente com relação ao setor de serviços, uma vez que o setor industrial deve ter apresentado desaceleração. No entanto, essa aceleração no setor de serviços deve ter sido pontual e ocasionada em virtude da realização dos Jogos Olímpicos em Paris e não um movimento orgânico da economia como um todo.
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Real x libra esterlina
A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (19/jul) cotada a R$7,0836, patamar mais baixo que o registrado nesta sexta-feira (23/jul), R$7,3245. Trata-se de uma desvalorização de 3,4% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de desvalorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.
Em relação ao dólar, a moeda inglesa ganhou força no decorrer da semana, mantendo a tendência de valorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (23/jul) cotada a US$1,3096 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2936, uma valorização de 1,2% da moeda britânica em relação ao dólar.
No Reino Unido, a agenda econômica foi extremamente vazia, limitando-se apenas aos dados preliminares do PMI. As oscilações na moeda britânica acompanharam, em grande medida, os movimentos do dólar sem ter sofrido grandes influências dos indicadores econômicos.
Os dados preliminares do PMI dão mais um sinal de que a atividade econômica no Reino Unido está se recuperando de maneira homogênea com aceleração tanto do setor industrial quanto dos serviços e afastando definitivamente a recessão que se abateu sobre o país no final de 2023.
Embora a inflação no país esteja ligeiramente acima da meta estabelecida, a inflação de serviços tem amenizado sua pressão nos últimos meses, o que pode contribuir para que o Banco Central da Inglaterra continue sua política de corte de juros iniciada na última reunião.
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Perspectivas
Considerando as recentes declarações de diversos diretores do Copom, a própria troca de comando da autarquia e as incertezas quanto à condução da política monetária externa, esperamos por bastante volatilidade no mercado de câmbio ao longo dos próximos dias. Pela primeira vez em muito tempo, a tendência do dólar em relação ao real é bastante incerta, no entanto, entre valorizações e desvalorizações diárias agudas, esperamos por uma relativa estabilidade do valor da moeda norte-americana ao longo da próxima semana.
Os recentes dados de atividade econômica e de inflação na Zona do Euro e a divulgação da ata da última reunião abriram as portas para um novo corte na taxa de juros no próximo encontro do Banco Central. Caso esse movimento se concretize, o Euro deverá se desvalorizar nas próximas semanas na comparação com o Real.
Uma leitura semelhante pode ser feita para o Reino Unido. As pressões inflacionárias parecem estar se dissipando no horizonte temporal considerado pelo Banco Central e existe a possibilidade de novos cortes na taxa de juros no país: o mercado aponta mais dois cortes de 0,25% no restante do ano. Isso poderá enfraquecer a Libra no mercado internacional de divisas.
Seguimos de olho.