De Olho no Câmbio #305: dólar a R$6,00 após pacote fiscal

O dólar alcançou a máxima histórica nominal de R$6,00, e o mais preocupante não é apenas esse fato, mas as razões por trás dele. Apesar de o dólar estar globalmente forte, com o índice DXY próximo ao nível mais alto desde a eleição de Donald Trump, a principal causa dessa valorização em relação ao real foi doméstica: o ajuste fiscal anunciado em 27 de novembro pelo Ministro da Fazenda.

O mercado avaliou as medidas como insuficientes para estabilizar a dívida pública brasileira. Além disso, a isenção do Imposto de Renda para rendimentos de até R$5 mil foi vista como uma piora fiscal no médio prazo. 

Acompanhe as nossas análises a seguir.

Real x dólar

Começamos a semana com o dólar cotado a R$5,7861 na segunda-feira (25/nov), um nível 0,1% inferior à abertura da semana anterior (18/nov). A cotação da moeda estrangeira registrou valorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (29/nov) cotado a R$6,0037, patamar 3,27% superior à abertura da sexta-feira anterior (22/nov). Entre as aberturas desta sexta-feira (29/nov) e da segunda-feira da semana anterior (18/nov), vimos uma desvalorização do real em relação ao dólar de 3,61%.

A intensa desvalorização do real se deu por conta das medidas anunciadas na quarta-feira (27). O que era para ser um anúncio de corte de gastos, visando aumentar a confiança do mercado, saiu pela culatra. Apesar do pacote de medidas ter pontos acertados como  a vinculação do reajuste do salário mínimo ao limite do arcabouço fiscal, a restrição do abono salarial para quem ganha até 1,5 salário mínimo, a regulamentação do teto salarial do funcionalismo público, e alterações nas regras de aposentadoria militar, além da extinção do benefício da “morte fictícia”, o mercado considerou as medidas insuficientes. 

O Governo Federal garantiu que tais medidas garantiriam uma economia de R$70 bilhões em dois anos (2025 e 2026). Todavia, o mercado considera essa projeção exagerada tendo em vista que não foram anunciados cortes mais bruscos em benefícios sociais, como era esperado. 

Para completar e intensificar o quadro de desconfiança fiscal, o governo anunciou a isenção do IR para pessoas que recebem até R$5 mil reais. Para compensar esta medida, foi proposto um imposto mínimo para pessoas com rendimento mensal acima de R$50 mil reais. Todas essas medidas ainda devem ser votadas e aprovadas no Congresso, o que também gera desconfiança no mercado, dado que podem ser recusadas. 

Por fim, mesmo com o DXY em alta, próximo dos 106 pontos, sugerindo um dólar forte, o determinante para desvalorização da moeda brasileira, foi o cenário interno. 

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Real x euro

O euro abriu o pregão de segunda-feira (25/nov) cotado a R$6,60731. Na abertura desta sexta-feira (29/nov), a cotação foi de R$6,3531. Portanto, houve uma desvalorização de 4,6% do real frente à moeda europeia, rompendo  a tendência que foi observada na semana anterior.

Com relação ao dólar, a moeda europeia ganhou força esta semana, alterando a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0426 na segunda (25/nov) para US$1,0560, nesta sexta (29/nov). Portanto, vimos uma valorização do euro de aproximadamente 1,3% (leia-se: é preciso mais dólares para comprar um euro).

O Euro seguiu a mesma toada do dólar. Os movimentos do mercado financeiro brasileiro, a partir de quarta-feira (27), com os agentes buscando se proteger do risco, fizeram com que a moeda europeia se valorizasse de sobremaneira. Apesar da Zona do Euro estar com uma economia desaquecida e pouco dinâmica, a insegurança dos investidores com o cenário brasileiro foi o suficiente para valorizar a divisa europeia. 

Em termos de divulgação macroeconômica, a semana foi esvaziada. O destaque vai para o IPC da região, com base em novembro, que mostrou deflação de 0,3%. Com isso, o indicador acumula alta de 2,3% em 12 meses e o núcleo alcançou os 2,7%. 

O movimento de valorização do Euro frente ao Dólar, promovido esta semana, mostra muito mais como o Euro seguia em baixa nas últimas leituras, do que sobre um novo ímpeto da Zona do Euro e da sua moeda. A expectativa é que o BCE siga cortando juros para tentar garantir mais força na atividade econômica no final do ano e início de 2025. 

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Real x libra esterlina

A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (25/nov) cotada a R$7,2727, patamar mais baixo que o registrado nesta sexta-feira (29/nov), R$7,6336. Trata-se de uma desvalorização de 5,0% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de desvalorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.

Em relação ao dólar, a moeda inglesa ganhou força no decorrer da semana, rompendo a tendência de desvalorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (29/nov) cotada a US$1,2695 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2537, uma valorização de 1,3% da moeda britânica em relação ao dólar.

No Reino Unido, também não houveram divulgações macroeconômicas relevantes, o que fez com que a dinâmica interna brasileira dominasse a relação entre Libra e Real. Novamente, a moeda brasileira perdeu força perante a divisa do Reino Unido por conta da insegurança dos agentes de mercado quanto ao anúncio de ajuste fiscal promovido pelo Governo Federal.

A compreensão de que as medidas são insuficientes e não vão estabilizar o endividamento brasileiro gerou fuga de capitais, o que levou a cotação entre Libra e Real para além dos R$7,30. 

Em relação ao dólar, a moeda inglesa ganhou terreno, mas assim como o Euro, isso pouco conta sobre a divisa em si, mas sim sobre o cenário como um todo.   Como a Libra havia caído nas últimas semanas frente ao dólar, e o dólar segue extremamente resiliente desde a eleição de Donald Trump, a moeda do Reino Unido conseguiu se valorizar de forma mais acentuada. 

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Perspectivas

Para a próxima semana o cenário é ainda mais incerto. O pacote de ajuste fiscal que deveria acalmar os ânimos do mercado e valorizar a moeda brasileira teve o efeito exatamente contrário. A moeda se desvalorizou e a pressão do mercado para com o Governo Federal subiu ainda mais.

A ineficácia do pacote em regular os ânimos do mercado, mesmo com medidas acertadas, deve manter o Real desvalorizado frente Dólar, Euro e Libra,  na próxima semana. Talvez novas movimentações do Fazenda, buscando novos ajustes ou ao menos maior conciliação com o mercado, ajudem a reverter essa situação até o final do ano. Entretanto, uma coisa é certa, o pacote não gerou o efeito esperado nas expectativas e agora o Governo virou refém de seu próprio movimento. 

Seguimos de olho.

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