A semana foi marcada por extrema volatilidade no mercado cambial brasileiro, com o dólar atingindo R$6,32 na quarta-feira (18), o maior valor nominal da história, antes de recuar para R$6,04 nesta sexta-feira (20). Frente a outras moedas, como libra e euro, o processo foi semelhante: intensa volatilidade no meio de semana e leve valorização na quinta e sexta-feira. Esse alívio foi impulsionado pela aprovação da PEC do corte de gastos, ainda que desidratada, e pelos leilões do Banco Central, que injetaram cerca de US$27 bilhões no mercado nos últimos dias. No entanto, a desconfiança fiscal persiste, e a valorização sustentada do real dependerá de medidas estruturais que restabeleçam a confiança do mercado.
Acompanhe as nossas análises a seguir.
Real x dólar
Começamos a semana com o dólar cotado a R$6,0464 na segunda-feira (16/dez), um nível 0,7% inferior à abertura da semana anterior (09/dez). A cotação da moeda estrangeira registrou valorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (20/dez) cotado a R$6,1558, patamar 2,64% superior à abertura da sexta-feira anterior (13/dez). Entre as aberturas desta sexta-feira (20/dez) e da segunda-feira da semana anterior (09/dez), vimos uma desvalorização do real em relação ao dólar de 1,0%.
As cotações apresentadas refletem um evidente processo de desvalorização do real frente ao dólar. Na quarta-feira (18), a moeda americana atingiu R$6,32, marcando o maior valor nominal da história do real. Esse pico simboliza a intensificação da desconfiança dos agentes econômicos em relação à política fiscal do governo e também reflete um movimento de manada, no qual o temor exacerbado levou investidores a abandonarem o real.
A desvalorização está fortemente atrelada às incertezas sobre o compromisso do governo com o ajuste fiscal e à percepção de fragilidade estrutural na contenção de gastos públicos. Nos últimos sete dias, o Banco Central realizou leilões cambiais de aproximadamente US$27 bilhões, buscando reduzir a volatilidade. Contudo, essas intervenções, embora eficazes no curto prazo, não endereçam a questão estrutural que sustenta a pressão sobre a moeda brasileira.
Hoje (20), o dólar recuou para R$6,04, resultado dos leilões cambiais e da aprovação, ainda que desidratada, das medidas de ajuste fiscal propostas pelo governo. Apesar dessa melhora temporária, o cenário permanece desafiador. A continuidade da pressão sobre o real está atrelada a dois fatores principais: a falta de reformas estruturais para conter o crescimento das despesas públicas e o fortalecimento global do dólar, impulsionado pela incerteza de como será a política econômica do governo de Donald Trump.
A expectativa geral dos analistas é que o novo governo americano reforce políticas protecionistas, amplie as pressões comerciais frente a blocos econômicos que tenham iniciativas que os tornem menos dependentes do dólar e também aumente os gastos públicos. Todo esse cenário de incerteza já surte efeitos no Fed, que sinalizou uma redução nos cortes de juros para 2025. Com juros americanos mais altos do que se esperava ano que vem, é bastante possível que o dólar siga valorizado em termos globais. Deste modo, parece crucial que as medidas econômicas brasileiras consigam trazer dólares para cá, amenizando a provável desvalorização de 2025.
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Real x euro
O euro abriu o pregão de segunda-feira (16/dez) cotado a R$6,3503. Na abertura desta sexta-feira (20/dez), a cotação foi de R$6,3816. Portanto, houve uma desvalorização de 0,5% do real frente à moeda europeia, rompendo a tendência que foi observada na semana anterior.
Com relação ao dólar, a moeda europeia perdeu força esta semana, revertendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0497 na segunda (16/dez) para US$1,0364, nesta sexta (20/dez). Portanto, vimos uma desvalorização do euro de aproximadamente 1,3% (leia-se: é preciso menos dólares para comprar um euro).
Além da pressão cambial frente ao dólar, o real também vem registrando significativa desvalorização em relação ao euro. Esse movimento é amplamente atribuído a fatores internos, como as incertezas fiscais e econômicas no Brasil, e deve se manter nos próximos dias, mesmo com os cortes de juros promovidos pelo Banco Central Europeu (BCE).
No entanto, o processo de desvalorização frente ao euro tende a ser mais facilmente revertido do que frente ao dólar. A economia da Zona do Euro continua apresentando desempenho fraco, com projeções de crescimento modestos e inflação controlada, atualmente em 2,2% no acumulado anual. Esse cenário reforça a possibilidade de novos cortes de juros pelo BCE, desde que a inflação permaneça próxima da meta, enfraquecendo a moeda europeia.
Adicionalmente, os dados mais recentes de PMI da região, relativos a dezembro, mostram uma economia em retração, com o PMI Composto marcando 49,5 pontos, abaixo do nível de expansão (50 pontos). Esse contexto pode gerar oportunidades para o real, uma vez que os investidores devem buscar alternativas mais atraentes em mercados com rendimentos superiores aos oferecidos pelo velho continente.
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Real x libra esterlina
A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (16/dez) cotada a R$7,7625, patamar mais alto que o registrado nesta sexta-feira (20/dez), R$7,6864. Trata-se de uma valorização de 1,0% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de valorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.
Em relação ao dólar, a moeda inglesa perdeu força no decorrer da semana, mantendo a tendência de desvalorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (20/dez) cotada a US$1,2498 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2614, uma desvalorização de 0,9% da moeda britânica em relação ao dólar.
A libra esterlina, apesar de uma leve desvalorização ao longo desta semana, segue a tendência das demais moedas e, em um horizonte mais amplo, apresentou um significativo ganho frente ao real no último mês. Esse movimento reflete a conjuntura global de fortalecimento das moedas estrangeiras diante da fragilidade econômica percebida no Brasil.
Neste cenário, a mensagem é clara: a retomada da confiança do mercado no governo é essencial para aliviar a pressão sobre o câmbio brasileiro. As intervenções do Banco Central, por meio de leilões, têm conseguido reduzir a volatilidade no curto prazo, mas o real continua desvalorizado nominalmente em relação a praticamente todas as moedas fortes.
A recuperação frente à libra esterlina, no entanto, tende a ser ainda mais desafiadora do que frente ao euro. O Banco da Inglaterra (BoE) decidiu manter os juros em 4,75% em sua última reunião e, caso a economia britânica volte a crescer de forma mais robusta em 2025, o que é pouco provável, é possível que esses juros permaneçam elevados no curto prazo. Esse cenário cria um diferencial de atratividade para investidores, favorecendo a libra em detrimento do real.
Portanto, o fortalecimento do real depende não apenas de fatores externos, mas principalmente de uma reaproximação entre o governo brasileiro e o mercado financeiro. Medidas estruturais que sinalizem maior responsabilidade fiscal e estabilidade econômica serão cruciais para reverter o atual quadro de desvalorização.
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Perspectivas
O cenário turbulento do câmbio brasileiro deve impactar os preços ainda em dezembro de 2024, sobretudo na base da cadeia produtiva, onde a desvalorização cambial chega quase que de forma imediata. Em 2025, os efeitos devem se intensificar nos primeiros meses, refletindo nos preços de bens duráveis e outros produtos de maior valor agregado que dependem de componentes e equipamentos importados.
Os movimentos de subida de juros do Banco Central, que sinalizou uma alta a 14,25% até março, devem ter papel importante também para manutenção da estabilidade cambial. Todavia, não parece que a atuação do Bacen, sem sinalizações do Governo Federal em prol do corte de gastos, serão efetivas.
Embora se espere alguma acomodação cambial no início do próximo ano, o dólar deve permanecer em patamares elevados, impulsionado pelo efeito Trump, que fortalece a moeda americana globalmente. Assim, uma melhora na relação entre governo e mercado será crucial para maior estabilidade, mas dificilmente garantirá uma apreciação significativa do real a curto prazo.
Seguimos de olho.