A moeda brasileira, desde o anúncio do pacote fiscal do Ministério da Fazenda, vive sob o mesmo problema: a desconfiança do mercado. O pacote que foi apresentado para garantir confiança no cumprimento das metas fiscais dos próximos dois anos não foi recebido pelo mercado que o considerou insuficiente. Desde então, a moeda brasileira vive um período de alta volatilidade e um ciclo intenso de desvalorização. Neste cenário, tudo indica que o governo precisará se movimentar novamente para fazer um novo ajuste para conseguir apoio do mercado financeiro, que segue trazendo intensa volatilidade cambial.
Acompanhe as nossas análises a seguir.
Real x dólar
Começamos a semana com o dólar cotado a R$6,0855 na segunda-feira (23/dez), um nível 0,6% superior à abertura da semana anterior (16/dez). A cotação da moeda estrangeira registrou valorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (27/dez) cotado a R$6,1820, patamar 0,4% superior à abertura da sexta-feira anterior (20/dez). Entre as aberturas desta sexta-feira (27/dez) e da segunda-feira da semana anterior (16/dez), vimos uma desvalorização do real em relação ao dólar de 2,2%.
Na mesma toada da última semana, o real segue desvalorizado frente ao dólar. A razão, também é a mesma: incerteza do mercado quanto ao compromisso fiscal do governo. O mercado exige provas contundentes do que chamam de “responsabilidade fiscal” e em termos práticos, pedem por novos cortes de gastos.
O cenário de incerteza quanto à sustentabilidade da dívida pública, que de fato subiu de 75% do PIB em janeiro para 78,6% do PIB em outubro, gerou um efeito manada, com os agentes econômicos fugindo do real e buscando ativos em outras divisas.
Nesta semana, durante o dia de Natal (25), a cotação do dólar chegou a R$6,87 em alguns portais. Todavia, este movimento foi um erro. A cotação entre as moedas está relativamente estável, oscilando entre R$6,19 e R$6,17.
Com isso, apesar de a moeda brasileira não ter se desvalorizado tanto quanto alguns locais apontaram, a situação é preocupante. O dólar consistentemente acima de R$6,00 deve trazer efeitos inflacionários já no IGP-M de dezembro, assim como nas primeiras divulgações do IPCA do próximo ano. Ao que tudo indica, sem um posicionamento contundente do governo em prol do corte de gastos, a moeda brasileira seguirá desvalorizada para seus padrões históricos.
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Real x euro
O euro abriu o pregão de segunda-feira (23/dez) cotado a R$6,3090. Na abertura desta sexta-feira (27/dez), a cotação foi de R$6,4445. Portanto, houve uma desvalorização de 2,1% do real frente à moeda europeia, mantendo a tendência de desvalorização que havia sido observada na semana anterior.
Com relação ao dólar, a moeda europeia perdeu força esta semana, mantendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0428 na segunda (23/dez) para US$1,0424, nesta sexta (27/dez). Portanto, vimos uma desvalorização do euro de aproximadamente 0,04% (leia-se: é preciso menos dólares para comprar um euro).
A semana foi marcada por uma escassez de divulgações macroeconômicas na Zona do Euro, com destaque apenas para o índice de Preços de Bens Importados na Alemanha, que registrou alta de 0,9% em novembro. Além disso, o cenário para a cotação entre o real e o euro manteve-se semelhante ao observado na semana anterior. A moeda brasileira continua em baixa frente à europeia, com a taxa de câmbio oscilando em torno de R$6,40.
Esse movimento reflete, principalmente, a persistente desconfiança do mercado financeiro em relação à gestão fiscal do governo brasileiro. A percepção de risco elevou a aversão a ativos denominados em reais, ampliando a pressão sobre a moeda local, mesmo em um cenário de atividade econômica fraca no bloco do europeu e de menos força do euro em termos globais.
Outro ponto relevante, é que a inflação da Zona do Euro segue convergindo à meta de 2%. Todavia, Lagarde, presidente do BCE, aponta que ainda é necessário atenção tendo em vista que a inflação de serviços opera em praticamente 4%. Ou seja, ela não quis dar pistas sobre os próximos passos da política monetária.
Deste modo, embora o câmbio tenha apresentado alguma estabilidade, o atual patamar pode trazer impactos negativos à economia brasileira, sobretudo pelo aumento do custo das importações. Em um cenário de incertezas fiscais, o governo mantém a expectativa de ajustes cambiais naturais antes de considerar novas medidas de contenção de gastos.
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Real x libra esterlina
A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (23/dez) cotada a R$7,7642, patamar mais alto que o registrado nesta sexta-feira (27/dez), R$7,7303. Trata-se de uma valorização de 0,4% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de valorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.
Em relação ao dólar, a moeda inglesa perdeu força no decorrer da semana, mantendo a tendência de desvalorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (27/dez) cotada a US$1,2525 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2570, uma desvalorização de 0,4% da moeda britânica em relação ao dólar.
Os dados do terceiro trimestre confirmaram estagnação no crescimento da economia britânica, com o PIB trimestral registrando variação de 0,0% frente ao trimestre anterior e alta de 0,9% ante mesmo período do ano passado. Embora a Inglaterra tenha demonstrado maior dinamismo econômico em relação à Europa no início do ano, o ritmo de expansão parece ter perdido força.
Indicadores recentes, como os índices de PMI e os PIBs mensais, reforçam sinais de desaceleração na atividade econômica britânica. Esse quadro reflete um ambiente de menor confiança empresarial e de demanda mais moderada, em linha com os desafios enfrentados pelos países da Europa continental.
Apesar disso, a libra manteve-se valorizada em relação ao real. Os fatores domésticos brasileiros, sobretudo os receios quanto à sustentabilidade fiscal, seguem como os principais impulsionadores dessa dinâmica cambial.
No entanto, a economia britânica também enfrenta incertezas, especialmente sob a gestão do governo trabalhista, que pode optar por medidas mais agressivas de estímulo econômico nos próximos meses, o que tornaria mais complexo o processo de valorização da moeda brasileira frente à libra dado que o Bank of England pode optar por uma postura mais cautelosa em relação à política monetária.
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Perspectivas
A desvalorização do real deve pressionar os preços ainda em dezembro de 2024, afetando especialmente os custos na base da cadeia produtiva, onde os impactos do câmbio são sentidos de forma mais imediata. Em 2025, esses efeitos tendem a se intensificar nos primeiros meses, atingindo bens duráveis e produtos de maior valor agregado que dependem de insumos e equipamentos importados, mesmo com a taxa de juros podendo chegar a 15% ou mais.
Um fator que pode favorecer o fortalecimento do real é o cumprimento da meta fiscal. Inicialmente visto como improvável, o ajuste das contas públicas ganhou maior credibilidade com as projeções de um crescimento econômico acima do esperado. A meta de déficit de 0,25% do PIB deve ser alcançada com margem, o que pode melhorar a percepção de risco e aumentar a confiança dos investidores.
Ainda assim, o dólar deve permanecer valorizado, influenciado pelo chamado “efeito Trump”, que impulsiona a moeda americana no cenário internacional. Em relação ao euro e à libra, as possibilidades de valorização são maiores, todavia, dependem de uma melhora na credibilidade das contas públicas. No início de 2025, espera-se uma leve acomodação no câmbio, mas níveis mais baixos para o dólar dependerão de uma relação mais sólida entre governo e mercado, algo que, a curto prazo, parece improvável.
Seguimos de olho.