A primeira semana do ano de 2025 foi relativamente mais tranquila para a moeda brasileira. Não houve grande variação nas cotações do real frente a outras divisas e o Banco Central não precisou atuar de forma tão intensa quanto nas últimas semanas visando diminuir a volatilidade do Real. Por outro lado, apesar da estabilidade, a moeda brasileira segue acima dos R$6,15 tanto em relação ao Dólar quanto ao Euro, cenário que gera preocupações em função da inflação e deve pressionar o Ministério da Fazenda para um novo bloco de ajustes nas contas públicas. O terceiro ano do atual mandato de Lula deve ser mais desafiador que os dois anteriores.
Acompanhe as nossas análises a seguir.
Real x dólar
Começamos a semana com o dólar cotado a R$6,2030 na segunda-feira (30/dez), um nível 2,0% superior à abertura da semana anterior (23/dez). A cotação da moeda estrangeira registrou desvalorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (03/jan) cotado a R$6,1525, patamar -0,5% inferior à abertura da sexta-feira anterior (27/dez). Entre as aberturas desta sexta-feira (03/jan) e da segunda-feira da semana anterior (23/dez), vimos uma desvalorização do real em relação ao dólar de 1,2%.
O Real enfrentou uma semana relativamente calma nos primeiros dias de 2025, com a moeda americana perdendo parte da valorização acumulada ao longo de 2024. Apesar da relativa calmaria, no entanto, estão mais leilões à vista e novos contratos de swap cambial.
O Banco Central ofertou mais dólares no mercado à vista na intenção de suavizar o movimento de desvalorização do Real. Em que pesem os impactos dos riscos fiscais sobre o câmbio, de longe a maior influência na perda de poder aquisitivo da divisa brasileira, o BC vem tentando contornar uma forte saída de fluxo de dólares, cuja origem também está relacionada a questões externas.
Além dos desafios internos, o dólar tem saído do Brasil em direção aos Estados Unidos por uma razão que já é conhecida de todos, o chamado efeito Trump. Donald Trump tomará posse no próximo dia 20 e certamente não hesitará em escalar as tensões comerciais com a maioria dos países, em especial a China.
O final de dezembro, por exemplo, já foi marcado por um expressivo aumento de impostos de importação por parte do México contra produtos têxteis. O país latino-americano disse que a iniciativa busca impedir que produtos muito baratos cheguem ao país, no entanto, a motivação parece geopolítica uma vez que o país havia se tornado uma espécie de escala para produtos chineses impactados pelo aumento tarifário dos EUA.
Diante das questões externas e internas, o Brasil registrou a terceira maior saída de dólares da história. Segundo o Banco Central do Brasil, o fluxo cambial ficou negativo em US$15,9 bilhões no ano passado. Em 2019 (US$44,77 bilhões) e 2020 (US$27,92 bilhões, no entanto, os saldos haviam sido ainda maiores.
Em suma, os primeiros dias de 2025 já deram indícios do que deve ser este ano. Desafios domésticos combinados com um expressivo aumento das tensões geopolíticas e comerciais por parte dos Estados Unidos.
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Real x euro
O euro abriu o pregão de segunda-feira (30/dez) cotado a R$6,4652. Na abertura desta sexta-feira (03/jan), a cotação foi de R$6,3171. Portanto, houve uma valorização de 2,3% do real frente à moeda europeia, revertendo a tendência de desvalorização que havia sido observada na semana anterior.
Com relação ao dólar, a moeda europeia perdeu força esta semana, mantendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0433 na segunda (30/dez) para US$1,0268, nesta sexta (03/dez). Portanto, vimos uma desvalorização do euro de aproximadamente 1,6% (leia-se: é preciso menos dólares para comprar um euro).
A moeda brasileira iniciou o ano da mesma forma que havia terminado 2024: pressionada. Apesar desta semana ter sido relativamente mais tranquila, influenciada pelas divulgações escassas e dias inoperantes do mercado, o desenho do cenário brasiileiro segue o mesmo.
O mercado financeiro continua pressionando o governo por posicionamentos mais contundentes quanto ao corte de gastos por um lado, e por outro pede juros mais altos para os títulos da dívida em paralelo com a intensa saída de capital do país. Deste modo, o real segue bastante desvalorizado frente ao euro, cotado bastante acima dos R$6,25.
Uma oportunidade de valorização do real frente ao Euro, é a continuidade do movimento de deterioração da economia europeia. Se a atividade econômica da Zona do Euro continuar emitindo sinais de enfraquecimento, o Banco Central Europeu pode sentir-se compelido a estender ainda mais o ciclo de cortes de juros. A combinação de cortes de juros na Europa e aumentos de juros no Brasil pode ajudar a suavizar o movimento de desvalorização do real em relação ao euro.
Por fim, a tensão entre gestão fiscal do governo e mercado financeiro deve seguir caso não ocorram mudanças na política de gastos públicos, mesmo com o cumprimento da meta fiscal de 2024. Além disso, com a desvalorização cambial, a inflação deve ser uma preocupação logo nos primeiros meses de 2025, o que deve aumentar as cobranças ao Ministro da Fazenda e ao Presidente por novas medidas.
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Real x libra esterlina
A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (30/dez) cotada a R$7,7901, patamar mais alto que o registrado nesta sexta-feira (03/dez), R$7,6171. Trata-se de uma valorização de 2,2% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de valorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.
Em relação ao dólar, a moeda inglesa perdeu força no decorrer da semana, mantendo a tendência de desvalorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (30/dez) cotada a US$1,2571 após ter iniciado a semana cotada a US$1,237, uma desvalorização de 1,5% da moeda britânica em relação ao dólar.
Em relação à libra, a situação é semelhante, pois as questões internas brasileiras foram determinantes para a forte desvalorização do real que ocorreu em 2024. A incerteza fiscal e mal-estar entre mercado e governo devem aparecer na economia real de forma mais pronunciada nos primeiros meses deste ano.
Todavia, a economia britânica parece ter desacelerado nos últimos meses, gerando alguma perspectiva positiva para o real. O PMI Industrial de dezembro caiu a 47 pontos, sugerindo retração da indústria. Além disso, o crédito ao consumidor também veio bastante abaixo do consenso de mercado, expondo um processo de desaceleração do consumo.
Caso a atividade econômica da Inglaterra siga oscilando e com tendência de baixa, o BoE deve optar por novos cortes de juros no curto prazo. Este movimento pode abrir espaço para o real se valorizar dado o diferencial de juros e a boa rentabilidade de ativos de renda fixa brasileiros.
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Perspectivas
Nos primeiros meses do ano, o efeito da desvalorização cambial deve ser mais evidente em bens duráveis e produtos de maior valor agregado, que dependem de insumos e equipamentos importados. Mesmo com taxas de juros podendo ultrapassar 15%, a pressão inflacionária gerada pelo câmbio permanece um desafio considerável. Embora o cumprimento da meta fiscal esteja praticamente assegurado – aguardando apenas os dados de arrecadação de dezembro –, isso não tem sido suficiente para tranquilizar os mercados. O real continua desvalorizado, e os juros exigidos nos títulos do governo permanecem elevados, aproximando-se de 16%.
No cenário internacional, o dólar deve seguir fortalecido, impulsionado pelo chamado “efeito Trump”, que deve sustentar sua valorização global. Em relação ao euro e à libra, o potencial de apreciação do real é maior, mas condicionado a uma recuperação na credibilidade fiscal do Brasil. Para os próximos dias, projeta-se uma leve acomodação no câmbio, mas uma apreciação mais significativa do real dependerá de avanços concretos na relação entre governo e mercado, algo que, no curto prazo, ainda enfrenta grandes obstáculos tendo em vista que não parece que o governo irá promover um novo processo de ajuste fiscal.
Seguimos de olho.