De Olho no Câmbio #312: Janeiro trouxe consigo um pouco de estabilidade

Foto de REUTERS/Ricardo Moraes

A semana foi relativamente estável em termos cambiais. O real continua se fortalecendo frente ao dólar, e não parecem próximos os picos de desvalorização observados em dezembro. Contudo, isso não indica uma resolução para a questão cambial: o dólar permanece cotado em torno de R$6,00, o que continuará impactando a inflação nos primeiros meses de 2025. Na Europa, o cenário permanece inalterado, com crescimento baixo e inflação sob controle, o que sugere uma tendência de cortes de juros no futuro próximo. Para que o real se valorize, há espaço, especialmente com a melhoria das condições fiscais do Brasil, além de um possível movimento menos protecionista por parte dos Estados Unidos, o que também seria favorável.

Acompanhe as nossas análises a seguir.

Real x dólar

Começamos a semana com o dólar cotado a R$6,11 na segunda-feira (13/jan), um nível 1,2% inferior à abertura da semana anterior (06/jan). A cotação da moeda estrangeira registrou valorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (17/jan) cotado a R$6,0545, patamar 0,3% superior à abertura da sexta-feira anterior (10/jan). Entre as aberturas desta sexta-feira (17/jan) e da segunda-feira da semana anterior (06/jan), vimos uma valorização do real em relação ao dólar de 2%.

No cenário doméstico, os dados econômicos recentes apontam uma economia em desaceleração, mas ainda em crescimento. O IBC-BR, considerado uma prévia do PIB, registrou alta de 0,10%, sinalizando uma expansão moderada, enquanto o crescimento do setor de serviços foi de 2,9% na comparação anual, mas apresentou queda mensal de -0,9% em novembro.

A produção de veículos recuou significativamente em dezembro, com queda de -19,5% no mês, reforçando o impacto da desaceleração econômica em setores-chave. Por outro lado, o fluxo cambial estrangeiro semanal mostrou uma saída menor de dólares (-1,104 bilhões), uma melhora em relação ao dado anterior de -5,6 bilhões, sugerindo algum alívio no movimento de fuga de capitais.

No âmbito inflacionário, o IGP-10 de janeiro apresentou alta de 0,53%, desacelerando em relação ao mês anterior (+1,14%). A queda nos preços de commodities, como soja, bovinos e leite in natura, contribuiu para aliviar pressões no índice ao produtor, um indicativo positivo para o controle da inflação. 

Externamente, o dólar segue beneficiado pelo “efeito Trump”, o que mantém a moeda brasileira pressionada, mesmo que mais aliviada que em dezembro. De todo modo, o câmbio em R$6,0 seguirá pressionando a inflação brasileira e colocando, novamente, em risco a meta definida pelo CMN (teto de 4,5%a.a.). As incertezas fiscais continuam a pesar sobre o real, enquanto a redução das tensões cambiais no curto prazo depende de maior estabilidade política e econômica no país.

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Real x euro

O euro abriu o pregão de segunda-feira (13/jan) cotado a R$6,2530. Na abertura desta sexta-feira (17/jan), a cotação foi de R$6,2344. Portanto, houve uma valorização de 0,3% do real frente à moeda europeia, mantendo a tendência de valorização que havia sido observada na semana anterior.

Com relação ao dólar, a moeda europeia se valorizou, rompendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense valorizou 0,6% segunda-feira (13) e sexta-feira (17). Portanto, vimos uma valorização do euro frente ao dólar (leia-se: a quantidade de dólares para comprar um euro subiu entre as aberturas analisadas).

A Zona do Euro, os dados recentes reforçam a perspectiva de uma economia em desaceleração. A produção industrial registrou alta marginal de 0,2% em novembro, mas apresentou queda anual de -1,9%, evidenciando fragilidades no setor. A balança comercial do bloco registrou superávit de 16,4 bilhões de euros no mesmo período, um ponto positivo, embora insuficiente para reverter o cenário de baixa atividade econômica.

No âmbito inflacionário, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,4% em dezembro, indicando uma desaceleração mensal. Em termos anuais, a inflação foi de 2,4%, com o núcleo do IPC avançando 2,7%. Esses números sustentam as expectativas de que o Banco Central Europeu (BCE) poderá iniciar um novo ciclo de cortes de juros em 2025 para estimular a economia.

O euro teve valorização marginal frente ao dólar devido à recente diversificação de portfólio dos investidores que saíram parcialmente do dólar, mas a falta de dinamismo econômico no bloco europeu limita um fortalecimento mais significativo da moeda europeia. 

Para o real, a perspectiva de cortes de juros na Zona do Euro pode representar uma oportunidade de valorização, especialmente se o Brasil mantiver juros elevados e atratividade nos ativos de renda fixa. No entanto, a desvalorização cambial acumulada em 2024 ainda pesa sobre a moeda brasileira, e a inflação doméstica permanece como um risco iminente. 

Nesse contexto, espera-se que a taxa de juros continue a ser reduzida, com o objetivo de estimular a atividade econômica, especialmente no setor industrial, que tem perdido competitividade frente a outros mercados, como os asiáticos. A política econômica protecionista de Trump deve agravar essa concorrência industrial a nível global.

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Real x libra esterlina

A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (13/jan) cotada a R$7,4464, patamar mais alto que o registrado nesta sexta-feira (17/jan), R$7,4016. Trata-se de uma valorização de 0,6% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de valorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.

Em relação ao dólar, a moeda inglesa ganhou força no decorrer da semana, rompendo a tendência de desvalorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (13/jan) cotada a US$1,2196 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2235, uma valorização de 0,3% da moeda britânica em relação ao dólar.

No Reino Unido, os dados recentes mostram uma desaceleração do crescimento econômico. O Produto Interno Bruto (PIB) mensal subiu apenas 0,1% em novembro, com alta anual de 1%, ambos resultados abaixo das expectativas de mercado.  

A produção industrial apresentou queda de -0,4% em novembro, com uma retração anual de -1,8%, enquanto as vendas no varejo caíram -0,3% no mês, embora tenham registrado alta anual de 3,6%. Esses dados sugerem que o ímpeto de crescimento observado no Reino Unido no primeiro semestre de 2024 está perdendo força.  

No contexto inflacionário, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,3% em dezembro, resultando em uma alta anual de 2,5%, com o núcleo da inflação alcançando 3,2%. Esses números reforçam a expectativa de que o Banco da Inglaterra (BoE) possa optar por cortes de juros em reuniões futuras para estimular a economia.  

A fraqueza econômica no Reino Unido abre espaço para que o real ganhe força frente à libra esterlina, especialmente diante do elevado diferencial de juros entre Brasil e Reino Unido. Entretanto, o real ainda enfrenta desafios internos significativos, como a necessidade de maior estabilidade fiscal.  

O cenário sugere que o desempenho do real frente à libra dependerá não apenas da política monetária britânica, mas também da capacidade do Brasil de enfrentar suas vulnerabilidades domésticas no curto prazo.  

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Perspectivas

O real deve continuar pressionado no curto prazo, refletindo tanto os desafios internos quanto as incertezas do cenário internacional. A gestão econômica de Donald Trump, com uma abordagem mais protecionista e rigorosa comercialmente, tende a aumentar a volatilidade no mercado global. Quão mais intensas forem as medidas comerciais dos Estados Unidos, maior será a pressão sobre moedas de mercados emergentes, incluindo o real.  

Por outro lado, há espaço para valorização cambial do real ao longo de 2025. O Governo Federal deve anunciar novos ajustes fiscais, com foco em revisões de gastos, o que pode trazer maior confiança ao mercado e fomentar uma apreciação da moeda brasileira. No entanto, mesmo com medidas de ajuste fiscal bem-sucedidas, é improvável que o real retorne aos patamares de R$5,00-R$5,10 observados no início de 2024. A expectativa é que a moeda permaneça próxima da marca de R$6,00 no curto prazo, refletindo tanto os desafios estruturais quanto a incerteza externa.  

No contexto europeu, tanto o euro quanto a libra esterlina enfrentam perspectivas de pouca valorização. Ambos devem seguir um caminho de cortes moderados de juros, à medida que os bancos centrais tentam estimular suas economias sem abrir mão do controle sobre a inflação. Esse cenário limita o espaço para um fortalecimento expressivo das moedas europeias frente ao real.  

Em resumo, o desempenho do real dependerá de um equilíbrio entre as condições internas e os fatores externos, com foco nas reformas domésticas e na evolução das tensões comerciais globais.                           

Seguimos de olho.

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