O real segue abaixo de R$6,00, refletindo a ausência de medidas protecionistas no início do governo Trump e a valorização de moedas emergentes. Enquanto isso, o Fed adota uma postura cautelosa, aguardando definições fiscais antes de indicar mudanças na política monetária. No Brasil, a trajetória de alta da Selic deve continuar até atingir 14,25%, impulsionada pela necessidade de conter a pressão cambial gerada pela incerteza fiscal. Em contraste, a Zona do Euro e o Reino Unido avançam em direção a cortes de juros para estimular suas economias.
Acompanhe as nossas análises a seguir.
Real x dólar
Começamos a semana com o dólar cotado a R$5,9447 na segunda-feira (27/jan), um nível -2,6% inferior à abertura da semana anterior (20/jan). A cotação da moeda estrangeira registrou desvalorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (31/jan) cotado a R$5,8730, patamar 0,8% inferior à abertura da sexta-feira anterior (24/jan). Entre as aberturas desta sexta-feira (31/jan) e da segunda-feira da semana anterior (20/jan), vimos uma valorização do real em relação ao dólar de 3,2%.
A semana foi marcada por importantes decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos. O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic para 13,25%, um aumento de 1 ponto percentual, reforçando uma postura mais rígida diante das pressões inflacionárias persistentes.
Nos Estados Unidos, o Federal Open Market Committee (FOMC) manteve os juros entre 4,25% e 4,50%, adotando uma abordagem mais cautelosa. A decisão reflete as incertezas do cenário global e o monitoramento dos efeitos do aperto monetário já implementado sobre a atividade econômica.
No campo fiscal, a arrecadação federal somou R$2,65 trilhões em 2024, registrando um crescimento real de 9,6% em relação a 2023, já considerando o ajuste pelo IPCA. Em termos nominais, o avanço foi de 14,4%, evidenciando um desempenho robusto das receitas públicas.
Mesmo com o aumento da arrecadação, o governo encerrou o ano com um déficit primário de R$43 bilhões, já contabilizando os gastos extraordinários com a reconstrução do Rio Grande do Sul e o combate a incêndios no Pantanal e na Amazônia.
Sem essas despesas excepcionais, o saldo negativo foi de R$11 bilhões, equivalente a 0,09% do PIB. Esse resultado representa uma redução real de 81,7% em relação ao déficit de 2023, que totalizou R$239,9 bilhões. Com isso, a meta fiscal foi cumprida com relativa margem.
No cenário inflacionário, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) registrou alta de 0,27% em janeiro, superando a expectativa do mercado, que projetava um avanço de 0,21%. O dado reforça a tendência de desaceleração da inflação medida pelo indicador, embora ainda existam sinais de alerta sobre a dinâmica de preços.
No campo da confiança econômica, os indicadores divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), sendo eles o Índice de Confiança de Serviços (ICS), o Índice de Confiança do Comércio (ICOM) e o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), apontaram para baixo, mostrando reduções frente às leituras anteriores. A alta de juros deve começar a mostrar seus efeitos na atividade econômica, notadamente em nível de emprego: no trimestre finalizado em dezembro a taxa de desemprego subiu para 6,2%.
A média anual de desemprego foi de 6,6%, a menor da história. Entretanto, é preciso cuidado para que as altas de juros não deprimam a atividade econômica de forma demasiada, retroagindo nos avanços de renda e emprego recentes.
Os dados sugerem que a economia brasileira passa por um momento benéfico em termos de indicadores macroeconômicos. Por outro lado, a questão da credibilidade segue delicada. Apesar dos resultados fiscais serem melhores do que aqueles inicialmente previstos pelo mercado financeiro, a crise de confiança em relação à gestão fiscal se mantém. Este cenário segue pressionando os juros futuros e consequentemente a Selic, o que deve contratar uma desaceleração para 2025.
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Real x euro
O euro abriu o pregão de segunda-feira (27/jan) cotado a R$6,1985. Na abertura desta sexta-feira (31/jan), a cotação foi de R$6,1087. Portanto, houve uma valorização de 1,5% do real frente à moeda europeia, mantendo a tendência de valorização que havia sido observada na semana anterior.
Com relação ao dólar, a moeda europeia se desvalorizou, revertendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0486 na segunda (27/jan) para US$1,0397, nesta sexta (31/jan). Portanto, vimos uma desvalorização do euro de aproximadamente 0,85% (leia-se: é preciso menos dólares para comprar um euro).
A divulgação dos dados prévios do PIB da Zona do Euro confirmou a fraqueza da atividade econômica no quarto trimestre. O crescimento de 0,0% em relação ao trimestre anterior e de 0,9% na comparação anual ficaram abaixo das expectativas de mercado, que projetavam ao menos 1%. Esses resultados reforçam o cenário de baixo dinamismo na região e levantam preocupações sobre a trajetória da economia europeia nos próximos meses.
Os desafios do consumo ficaram evidentes com a queda de 1,6% nas vendas no varejo da Alemanha em dezembro. O resultado veio significativamente abaixo das projeções de mercado, que indicavam estabilidade, e reflete a fraqueza da demanda interna.
Além disso, a prévia do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de janeiro foi divulgado, apontando para uma deflação mensal de 0,2%. Caso esse número se confirme, a inflação anual chegaria a 2,3%, reforçando a leitura de que a maior economia da Europa está passando por um agudo processo de desaceleração.
Diante desse quadro de crescimento fraco e inflação relativamente controlada, o Banco Central Europeu (BCE) optou por um corte na taxa de juros, reduzindo-a de 3% para 2,75%. A decisão busca equilibrar o combate à inflação, que ainda está em processo de convergência para a meta de 2%, com a necessidade de estimular a atividade econômica. O setor industrial, em particular, tem sido um dos mais impactados pela desaceleração, o que reforça a urgência de medidas de estímulo.
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Real x libra esterlina
A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (27/jan) cotada a R$7,3757, patamar mais baixo que o registrado nesta sexta-feira (31/jan), R$7,2997. Trata-se de uma valorização de 1% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de valorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.
Em relação ao dólar, a moeda inglesa perdeu força no decorrer da semana, revertendo a tendência de valorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (31/jan) cotada a US$1,2422 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2478, uma desvalorização de 0,5% da moeda britânica em relação ao dólar.
No Reino Unido, os últimos dados apontam para um reaquecimento no mercado de crédito, impulsionado pelo aumento nas aprovações de hipotecas e no volume de empréstimos concedidos. Esse cenário indica um maior apetite das famílias por financiamento, possivelmente antecipando cortes na taxa de juros esperados para 2025, o que tornaria o crédito mais barato.
Apesar desse avanço no crédito, o mercado imobiliário segue mostrando sinais de moderação. O crescimento nos preços dos imóveis ficou abaixo das projeções, sugerindo que, mesmo com maior acesso a financiamentos, a demanda ainda encontra obstáculos. Esse comportamento pode estar relacionado à cautela dos consumidores diante das incertezas econômicas.
Se o Banco da Inglaterra reduzir os juros ao longo do ano, o setor imobiliário pode ganhar fôlego, estimulando tanto a demanda quanto a valorização dos imóveis. No entanto, o cenário exige atenção, já que fatores externos e políticas monetárias continuam influenciando a economia britânica.
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Perspectivas
A expectativa é de que o dólar permaneça abaixo de R$6,00 no curto prazo, ainda que em um ambiente de elevada volatilidade. A recente desvalorização da moeda norte-americana reflete a fraqueza do índice DXY e a ausência de novas medidas protecionistas por parte do governo Trump, fatores que contribuíram para essa tendência. No entanto, o cenário fiscal brasileiro segue como um ponto de atenção, com riscos de desvalorizações marginais sempre que surgirem novas medidas que aumentem a incerteza sobre as contas públicas.
O cenário macroeconômico global continua instável, o que pode manter a volatilidade elevada no mercado de câmbio. As políticas econômicas da administração Trump, especialmente eventuais medidas protecionistas e ajustes fiscais, seguem sendo um fator de influência para o dólar e para o fluxo de capitais globais. Além disso, a postura dos bancos centrais em relação aos juros tende a impactar a atratividade de moedas emergentes, como o real.
A manutenção de juros elevados nos Estados Unidos e no Brasil cria um ambiente de pressão para o euro, que pode enfrentar maior desvalorização frente a outras moedas. O diferencial entre os retornos favorece ativos denominados em dólar e real, reduzindo o apetite por ativos europeus. Situação semelhante ocorre com a libra esterlina, já que a economia britânica deve buscar novos estímulos via corte de juros no curto prazo, o que pode tornar a moeda menos competitiva no mercado global ao longo das próximas semanas.
Seguimos de olho.