De Olho no Câmbio #316:Inflação nos EUA preocupa e Brasil aponta para desaceleração

O real seguiu valorizado frente ao dólar, apesar da inflação acima do esperado nos Estados Unidos em janeiro, que poderia ter impulsionado a moeda norte-americana. A resiliência do real reflete, em parte, a desaceleração da economia brasileira, que contribui para um menor risco inflacionário. Na Zona do Euro, os indicadores econômicos continuam apontando para uma desaceleração mais intensa, com retrações expressivas no varejo e na produção industrial. Por fim, nos EUA, a inflação deu sinais de vitalidade inesperados.
Acompanhe as nossas análises a seguir.
Real x dólar
Começamos a semana com o dólar cotado a R$5,8404 na segunda-feira (10/fev), um nível -0,5% inferior à abertura da semana anterior (03/fev). A cotação da moeda estrangeira registrou desvalorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (14/fev) cotado a R$5,7669, 0,1% acima da abertura da sexta-feira anterior (07/fev). Entre as aberturas desta sexta-feira (14/fev) e da segunda-feira da semana anterior (03/fev), vimos uma valorização do real em relação ao dólar de 1,3%.
O real manteve sua trajetória de valorização nesta semana, demonstrando resiliência diante das divulgações macroeconômicas e eventos globais. Nos Estados Unidos, os dados de inflação de janeiro, que poderiam ter impulsionado o dólar no cenário internacional, tiveram impacto limitado sobre a moeda brasileira.
Segundo o Escritório de Estatísticas de Trabalho dos EUA (BLS), a inflação avançou 0,5% no mês, superando tanto as projeções do mercado, que apontavam alta de 0,3%, quanto às estimativas do Federal Reserve (Fed), que previam uma variação de 0,2%. O mesmo foi visto nos dados de inflação de sobre os produtores. Os dados reforçam a possibilidade de que o Fed mantenha os juros elevados por mais tempo, o que, em tese, sustentaria a valorização do dólar. No entanto, o impacto dessa sinalização foi moderado nas horas seguintes à divulgação.
No Brasil, o real seguiu em alta frente ao dólar, consolidando um movimento iniciado em meados de janeiro. Parte dessa resistência se deve ao ambiente doméstico. Dados do IBGE mostram uma desaceleração da economia brasileira após o forte crescimento observado ao longo de 2024. Indicadores da indústria, comércio e serviços sugerem que o último bimestre do ano passado foi marcado por uma perda de tração da economia, tendência que, segundo os primeiros sinais de 2025, parece se prolongar no início do ano.
A moderação da atividade econômica reduz os riscos inflacionários para 2025, ao mesmo tempo em que o mercado já precifica uma elevação da Selic para perto de 15,00%. Essa combinação de fatores tem favorecido a valorização da moeda brasileira.
No cenário internacional, a possibilidade de um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia também influenciou os mercados. O conflito, que completará três anos em 24 de fevereiro, permanece como um fator de incerteza global. Um eventual acordo de paz poderia aliviar pressões inflacionárias ao reduzir os preços do petróleo e dos fertilizantes, elementos essenciais para o controle da inflação mundial.Aproveite e confira a cotação do dólar hoje e se inscreva em nosso sistema de alertas para ser notificado sobre variações importantes.
Real x euro
O euro abriu o pregão de segunda-feira (10/fev) cotado a R$5,9997. Na abertura desta sexta-feira (14/fev), a cotação foi de R$6,0350. Portanto, houve uma desvalorização de 0,6% do real frente à moeda europeia, rompendo a tendência de valorização que havia sido observada na semana anterior.
Com relação ao dólar, a moeda europeia se valorizou, mantendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0324 na segunda (10/fev) para US$1,0462, nesta sexta (14/fev). Portanto, vimos uma valorização do euro de aproximadamente 1,3% (leia-se: é preciso mais dólares para comprar um euro).
A semana na Zona do Euro foi marcada por sinais mistos. De um lado, os indicadores econômicos reforçaram a tendência de desaceleração mais intensa da economia regional. O varejo, a produção industrial e outros setores apresentaram quedas acima do esperado, indicando um cenário mais desafiador do que o previsto inicialmente pelo mercado.
Por outro lado, especulações sobre um possível acordo de paz entre Rússia e Ucrânia trouxeram um leve otimismo aos investidores. Na quinta-feira (13), com o aumento dos rumores sobre um cessar-fogo ou negociações avançadas, as bolsas europeias reagiram positivamente, registrando altas expressivas, enquanto o euro sustentou os ganhos recentes frente ao dólar.
Apesar desse alívio momentâneo, a economia da Zona do Euro continua sob pressão, principalmente nas três maiores economias do bloco — Alemanha, França e Itália —, onde a indústria enfrenta dificuldades diante dos elevados custos de energia e da concorrência asiática.
Ainda assim, um eventual acordo de paz poderia contribuir para a redução dos custos energéticos e melhorar, ao menos parcialmente, a confiança de consumidores e empresários na região, trazendo algum ganho para a economia europeia.
Aproveite e confira a cotação do euro hoje e se inscreva em nosso sistema de alertas para ser notificado sobre variações importantes.
Real x libra esterlina
A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (10/fev) cotada a R$7,2098, patamar mais baixo que o registrado nesta sexta-feira (14/fev), R$7,2457. Trata-se de uma desvalorização de 0,5% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de desvalorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.
Em relação ao dólar, a moeda inglesa ganhou força no decorrer da semana, rompendo a tendência de desvalorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (14/jan) cotada a US$1,2565 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2399, uma valorização de 1,3% da moeda britânica em relação ao dólar.
A economia do Reino Unido mantém crescimento em termos anuais, mas os dados mais recentes indicam uma perda de dinamismo desde o último trimestre de 2024. O PIB do trimestre encerrado em dezembro avançou apenas 0,1% frente ao período anterior, enquanto a alta anual foi de 1,5%. Esse desempenho reflete um cenário de enfraquecimento da atividade, com setores-chave apresentando sinais mistos.
A produção industrial recuou 1,9% em dezembro na comparação anual, evidenciando dificuldades na atividade manufatureira. Por outro lado, o setor de construção cresceu 1,5% no mesmo período, demonstrando alguma resiliência. No entanto, o ritmo geral da economia sugere uma desaceleração consistente.
Com esse quadro, o Banco da Inglaterra deve intensificar o debate sobre cortes na taxa de juros ao longo de 2025. A perda de tração econômica e a necessidade de estímulo adicional podem levar a um afrouxamento monetário nos próximos meses, caminhando em rota contrária à outras economias desenvolvidas como EUA e China. Aproveite e confira a cotação da libra esterlina hoje e se inscreva em nosso sistema de alertas para ser notificado sobre variações importantes.
Perspectivas
O dólar deve permanecer em níveis mais baixos no curto prazo, mas com elevada volatilidade. Após um período de forte valorização, o real começou a perder fôlego diante do aumento das incertezas no cenário externo.
Embora a moeda brasileira ainda opere abaixo de R$5,7500, a postura mais protecionista dos Estados Unidos já gera impactos. Donald Trump anunciou tarifas de 25% sobre as importações de alumínio e aço e sinalizou possíveis medidas de reciprocidade contra seus principais parceiros comerciais. Apesar de no início da semana o real ter perdido fôlego, os analistas consideram que Trump ainda pode recuar, o que permitiu novo ganho de terreno para o real ao final da semana.
A apreciação do real no início do ano pode ser vista como uma correção após o mercado ter superestimado os riscos fiscais domésticos. No entanto, o ambiente externo segue instável, e um avanço do protecionismo americano pode pressionar o dólar globalmente. Quanto mais restritiva for a política comercial dos EUA, maior a possibilidade de uma nova desvalorização do real.
Na Europa, o cenário também inspira cautela. O crescimento econômico na Zona do Euro segue fraco e sem sinais de aceleração, o que pode levar o Banco Central Europeu (BCE) a reduzir ainda mais os juros nos próximos meses. Além disso, o Reino Unido também mostra sinais de desaceleração. Esta conjuntura pode promover corte de juros na Europa e favorecer moedas emergentes, dado que o diferencial de juros deve ser ampliado, com destaque para o Brasil.
Seguimos de olho.