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De Olho no Câmbio #317:Dezembro nunca pareceu tão distante – real segue forte em 2025

A desvalorização do real em dezembro foi excessiva, mas a moeda brasileira tem se recuperado, impulsionada pela postura mais moderada de Trump no comércio internacional e pela estabilidade inesperada nos EUA. No curto prazo, o real pode se beneficiar desse cenário, embora siga sensível a fatores globais. Em relação ao euro, a tendência é favorável ao real, com o mercado projetando pelo menos mais um corte de juros neste semestre na Zona do Euro e na Inglaterra. No Reino Unido, apesar de uma leve melhora na atividade econômica, a inflação acima do esperado gera incertezas sobre a duração do ciclo de cortes de juros, o que ajudou a trazer volatilidade ao longo dos últimos dias.

Acompanhe as nossas análises a seguir.

Real x dólar

Começamos a semana com o dólar cotado a R$5,7033 na segunda-feira (17/fev), um nível -1,8% inferior à abertura da semana anterior (10/fev). A cotação da moeda estrangeira registrou desvalorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (21/fev) cotado a R$5,7022, 1,1% abaixo da abertura da sexta-feira anterior (14/fev). Entre as aberturas desta sexta-feira (21/fev) e da segunda-feira da semana anterior (10/fev), vimos uma valorização do real em relação ao dólar de 1,9%.

O real manteve estabilidade nesta semana, mesmo diante das divulgações macroeconômicas. O Monitor do PIB apontou crescimento de 3,5% da economia em 2024, impulsionado pelo consumo das famílias (+5,2%), investimentos (+7,6%) e exportações (+3,7%), enquanto o IBC-Br reforçou o cenário com alta de 3,8% no ano.  

Paralelamente, o Tesouro Nacional suspendeu os financiamentos agrícolas do Plano Safra 2024/25 devido à falta de recursos no orçamento, pressionado pelo impacto da Selic elevada. Todavia, esta decisão não foi surpreendente ao mercado. A sustentação do real se manteve muito por conta de dados mensais de atividades mais fracos, que sugerem uma desaceleração econômica para 2025. 

Nos EUA, a atividade industrial mostrou recuperação, com o Índice Empire State subindo para 5,70 em fevereiro, e o GDPNow do Fed de Atlanta projetando um crescimento anualizado de 2,3% no primeiro trimestre. Esse cenário reforça a resiliência da economia americana.  

Além disso, a busca de Donald Trump por um acordo de paz para a guerra na Ucrânia e sua abordagem mais moderada no comércio internacional reduziram temores sobre medidas protecionistas agressivas, trazendo alívio aos mercados e favorecendo a estabilidade cambial.

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Real x euro

O euro abriu o pregão de segunda-feira (17/fev) cotado a R$5,9837. Na abertura desta sexta-feira (21/fev), a cotação foi de R$5,9916. Portanto, houve uma desvalorização de 0,1% do real frente à moeda europeia, mantendo a tendência de desvalorização que havia sido observada na semana anterior.

Com relação ao dólar, a moeda europeia se valorizou, mantendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0489 na segunda (17/fev) para US$1,0501, nesta sexta (21/fev). Portanto, vimos uma valorização do euro de aproximadamente 0,1% (leia-se: é preciso mais dólares para comprar um euro).

Nesta semana, a economia da Zona do Euro emitiu discretos sinais de melhora, mas ainda é cedo para apostar na valorização do euro. Piero Cipollone, do Banco Central Europeu (BCE), reforçou que os juros caminham para um nível neutro, mas seguirão condicionados aos dados econômicos. Isto quer dizer que o ciclo de cortes de juros em curso pode ser interrompido a qualquer momento caso a inflação surpreenda.

Entre os indicadores, a produção industrial avançou 0,4% em janeiro, após queda de 1,1% em dezembro, enquanto os PMIs desta sexta-feira (21) indicaram expansão moderada. Na Alemanha, o PMI composto atingiu 51,0 pontos, enquanto na Zona do Euro chegou a 50,2 pontos, mostrando uma tímida recuperação.

Apesar da leve melhora relativa nas projeções de atividade, os desafios permanecem, especialmente nos setores industriais da Alemanha, França e Itália. A possibilidade de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia pode aliviar restrições comerciais e reduzir a pressão sobre o mercado energético europeu, fator que pode contribuir para uma retomada mais consistente.

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Real x libra esterlina

A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (17/fev) cotada a R$7,1802, patamar mais baixo que o registrado nesta sexta-feira (21/fev), R$7,2254. Trata-se de uma desvalorização de 0,6% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de desvalorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.

Em relação ao dólar, a moeda inglesa ganhou força no decorrer da semana, mantendo a tendência de valorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (21/jan) cotada a US$1,2669 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2587, uma valorização de 0,7% da moeda britânica em relação ao dólar.

A economia do Reino Unido mostrou sinais moderados de melhora nesta semana, com alguns dados de atividade surpreendendo positivamente. A taxa de desemprego caiu para 4,4% em dezembro, enquanto as vendas no varejo cresceram 1,7% em janeiro, indicando um consumo mais aquecido. O PMI composto ficou relativamente estável em 50,5 pontos em fevereiro, sinalizando uma leve expansão econômica.  

Em dissonância com os dados de melhora marginal da atividade, o PMI Industrial de fevereiro ficou em 46,4 pontos. Ou seja, apesar da economia britânica dar sinais de expansão, o setor industrial segue com pouca dinâmica e com tendência à retração. Este cenário é nocivo à atividade pois a indústria é ponto relevante por emitir dinamismo para o restante da economia. 

Por fim, a inflação veio um pouco acima do esperado. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) registrou uma deflação de 0,1% em janeiro, menos intensa do que a queda de 0,3% projetada pelo mercado. Esse dado reforça a ideia de que o Banco da Inglaterra pode adotar um ciclo de cortes de juros mais curto, fator que sustentou a valorização da libra ao longo desta semana.

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Perspectivas

O real segue em um cenário de incertezas, influenciado por fatores internos e externos. A valorização global do dólar permanece como um risco relevante, impulsionada pelos juros de longo prazo nos EUA e pelo aumento das tensões comerciais. No entanto, após a forte desvalorização de dezembro, ainda existe espaço para um movimento de recuperação da moeda brasileira.

Na Europa, os dados recentes apontam para uma leve melhora da economia, mas ainda insuficiente para sustentar uma valorização consistente do euro e da libra. Tanto o Banco Central Europeu quanto o Banco da Inglaterra devem realizar ao menos mais um corte de juros neste semestre, o que tende a enfraquecer suas moedas. No entanto, declarações recentes de autoridades monetárias e a inflação acima do esperado no Reino Unido sugerem que esse ciclo de cortes pode ser interrompido antes do previsto, o que limitaria perdas adicionais das moedas europeias frente ao real e ao dólar.

Diante desse quadro, o real pode manter alguma resiliência no curto prazo, sustentado pela percepção [relativa] de controle inflacionário no Brasil e por um ambiente global relativamente mais estável que o esperado. No entanto, a cautela segue necessária, pois qualquer aumento das incertezas internacionais pode reacender a desvalorização da moeda brasileira.

Seguimos de olho.

André Galhardo

Economista-chefe da Análise Econômica, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, e é autor do livro “O Salto do Sapo: a difícil corrida brasileira rumo ao desenvolvimento econômico.”

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