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De Olho no Câmbio #318:Mercado de trabalho brasileiro segue forte mesmo com desaceleração da economia

Acompanhe o impacto dos acontecimentos mais relevantes sobre o real x dólar, euro e libra, no ‘De Olho no Câmbio’ de 24 a 28 de fevereiro.

A prévia da inflação oficial no Brasil, o IPCA-15, acelerou 1,23% em fevereiro, influenciada pelo fim dos descontos na energia elétrica, reajustes escolares e aumento de impostos sobre a gasolina, embora tenha ficado abaixo das projeções do mercado. O Governo Central registrou um superávit de R$84,8 bilhões em janeiro, no entanto o destaque foi para o ritmo de crescimento real das receitas (+3,5%) e despesas (+4,4%). No mercado de trabalho, o Brasil criou 137,3 mil empregos formais no mês, bem acima da expectativa, enquanto a taxa de desocupação, medida pelo IBGE, subiu em ritmo mais brando que o esperado. Nos EUA, os pedidos de seguro-desemprego superaram as estimativas, e o PIB cresceu 2,1% no quarto trimestre, dados que mostram que apesar da desaceleração da maior economia do mundo, ainda existem sinais de força. A economia alemã mostrou fraqueza, com retração de 0,2% no PIB do quarto trimestre do ano passado e queda no índice de confiança empresarial do mês de fevereiro. Na Zona do Euro, a inflação deu sinais de alívio, podendo levar a cortes graduais nos juros pelo BCE, embora a postura ainda seja cautelosa. No cenário geopolítico, as tensões entre Rússia e Ucrânia parecem diminuir com a pressão de Donald Trump para encerrar o conflito.

Acompanhe as nossas análises a seguir.

Real x dólar

Começamos a semana com o dólar cotado a R$5,7302 na segunda-feira (24/fev), um nível 0,5% superior à abertura da semana anterior (17/fev). A cotação da moeda estrangeira registrou valorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (28/fev) cotado a R$5,8344, 2,3% acima da abertura da sexta-feira anterior (21/fev). Entre as aberturas desta sexta-feira (28/fev) e da segunda-feira da semana anterior (17/fev), vimos uma desvalorização do real em relação ao dólar de 2,3%.

A prévia da inflação oficial do país, o IPCA-15, acelerou em fevereiro. O indicador subiu 1,23%, impulsionado pelo fim das reduções na conta de energia elétrica, reajustes de mensalidades escolares e aumento de impostos estaduais sobre a gasolina. O resultado veio abaixo da mediana das projeções, que era de 1,37%. Já o IGP-M, subiu 1,06% em fevereiro, acelerando em relação aos 0,27% de janeiro. O IPA registrou forte alta nos preços de ovos e café, impactados pelo calor intenso e menor oferta.

Quanto às contas públicas, o resultado do Tesouro Nacional mostrou que o Governo Central registrou superávit de R$84,8 bilhões em janeiro. Trata-se de uma alta real de 3,5% nas receitas, comparado ao mesmo período do ano passado. Apesar do resultado recorde, o número ficou abaixo do consenso de mercado.

No mercado de trabalho, o Brasil criou 137,3 mil empregos formais em janeiro, bem acima da expectativa de 50,5 mil vagas. No mesmo sentido, a taxa de desemprego do trimestre encerrado em janeiro subiu para 6,5%, abaixo das projeções de mercado, que indicavam um aumento mais forte do desemprego, a 6,6%.  Os dados reforçam a resiliência do mercado de trabalho, apesar dos sinais de desaceleração da economia e diminuição da confiança dos agentes.

Estes resultados mostram que, por um lado, a inflação pode ter uma trajetória melhor do que a prevista em 2025, dado que o IPCA de janeiro teve o menor resultado desde o Plano Real e fevereiro deve ficar abaixo das projeções anteriores à divulgação do IPCA-15. Por outro lado, os dados de emprego preocupam os analistas, que consideram que a economia brasileira segue operando acima de seu potencial.

Nos EUA, o volume semanal de pedidos iniciais de seguro-desemprego subiu a 242 mil requisições. O dado veio bastante acima das projeções de mercado, que previam algo próximo de 220 mil pedidos. Ademais, o PCE dos EUA subiu 0,3%, em linha com as projeções de mercado. Por fim, em relação ao crescimento da economia, o PIB do quarto trimestre mostrou alta de 2,1%, em termos anualizados, frente ao trimestre anterior – em linha com as expectativas. 

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Real x euro

O euro abriu o pregão de segunda-feira (24/fev) cotado a R$5,9932. Na abertura desta sexta-feira (28/fev), a cotação foi de R$6,0753. Portanto, houve uma desvalorização de 1,4% do real frente à moeda europeia, mantendo a tendência de desvalorização que havia sido observada na semana anterior.

Com relação ao dólar, a moeda europeia perdeu força esta semana, mantendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0493 na segunda (24/fev) para US$1,0395, nesta sexta (28/fev). Portanto, vimos uma desvalorização do euro de aproximadamente 0,9% (leia-se: é preciso menos dólares para comprar um euro).

A economia alemã voltou a demonstrar fragilidade ao registrar uma contração de 0,2% no PIB do quarto trimestre de 2024. O resultado confirma o enfraquecimento da maior economia da Zona do Euro, pressionada pela baixa demanda interna e pelas incertezas no comércio global.

A perda de dinamismo também se refletiu no Índice Ifo de Clima de Negócios, que recuou para 85,2 pontos em fevereiro, abaixo da projeção de 85,9. A confiança empresarial segue abalada, impactada pelos desafios no setor industrial e pelo aperto das condições financeiras.

Na Zona do Euro, a inflação apresentou sinais de alívio. O núcleo do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) registrou deflação de 0,9% em janeiro, acumulando alta de 2,7% em 12 meses. Esse movimento pode abrir espaço para cortes graduais nos juros pelo Banco Central Europeu (BCE) nos próximos meses.

No entanto, declarações de Isabel Schnabel, membro do BCE, indicam que a autoridade monetária local adotará uma postura cautelosa, destacando que a taxa de juros neutra da região está acima do nível pré-pandemia. A ata da última reunião reforça essa visão.

No cenário geopolítico, as tensões entre Rússia e Ucrânia parecem arrefecer diante da pressão de Donald Trump para encerrar o conflito. O presidente dos EUA busca estreitar laços com Moscou e vê a Ucrânia como parte da esfera de influência russa, alinhando-se à visão de Vladimir Putin. Essa mudança na política externa americana pode ter impactos significativos no mercado de commodities e na geopolítica europeia nos próximos meses.

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Real x libra esterlina

A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (24/fev) cotada a R$7,2381, patamar mais baixo que o registrado nesta sexta-feira (28/fev), R$7,3588. Trata-se de uma desvalorização de 1,7% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de desvalorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.

Em relação ao dólar, a moeda inglesa perdeu força no decorrer da semana, rompendo a tendência de valorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (28/jan) cotada a US$1,2597 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2649, uma desvalorização de 0,4% da moeda britânica em relação ao dólar.

A economia britânica apresentou dados mistos ao longo da semana, refletindo a incerteza econômica e os desafios enfrentados pelo Reino Unido. O setor automotivo mostrou fraqueza, com o licenciamento de veículos novos recuando 2,5% na comparação anual e 1,0% na variação mensal de janeiro. O comércio varejista também registrou um desempenho negativo, com o índice CBI de vendas e distribuição caindo para -23, abaixo das projeções do mercado.

Por outro lado, o mercado imobiliário apresentou sinais de resiliência. O Índice de Preços de Imóveis Nationwide avançou 0,4% em fevereiro na comparação mensal, enquanto a variação anual registrou um aumento de 3,9%, superando as estimativas dos agentes.

Os discursos de membros do Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra (BoE) foram monitorados de perto pelo mercado, mas não trouxeram grandes novidades sobre os juros. O tom cauteloso das declarações sugere que o Banco Central pode manter sua abordagem prudente diante da inflação e das condições econômicas globais.

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Perspectivas

O cenário macroeconômico global segue incerto. Na Zona do Euro, o Banco Central Europeu indica que os cortes de juros serão graduais, afastando tanto reduções abruptas quanto novas altas. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve mantém cautela diante de uma economia resiliente, evitando sinalizações definitivas sobre cortes, especialmente enquanto não há clareza sobre a política tarifária de Trump. No Reino Unido, o ambiente é de estagnação, sem perspectivas claras para os juros, deixando a libra e o euro em compasso de espera.

No Brasil, os sinais são mistos. A inflação de 2025 tem surpreendido positivamente, mas o mercado de trabalho segue forte, reduzindo o impacto da política monetária restritiva. Com isso, o Copom deve elevar a Selic novamente em março, possivelmente com ajustes menores nas reuniões remanescentes do primeiro semestre. A esperada desaceleração econômica pode se concentrar apenas no segundo semestre de 2025, prolongando as incertezas e mantendo a volatilidade no câmbio.

Seguimos de olho.

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