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De Olho no Câmbio #319:Brasil cresce 3,4% em 2024 e tensões comerciais se ampliam

Acompanhe o impacto dos acontecimentos mais relevantes sobre o real x dólar, euro e libra, no ‘De Olho no Câmbio’ de 03 a 07 de março.

A semana encurtada no mercado brasileiro trouxe dados relevantes, como o crescimento de 3,4% da economia em 2024. Nos Estados Unidos, Donald Trump ameaçou impor tarifas sobre importações do México, Canadá e China, mas, diante de rápidas retaliações, optou por recuar. Na Zona do Euro, os indicadores econômicos reforçam um quadro persistente de estagnação, enquanto França e Alemanha impulsionaram o euro com anúncios de novos investimentos em defesa e infraestrutura. Já no Reino Unido, a economia continua emitindo sinais de fragilidade, sem perspectivas claras de retomada no curto prazo.

Acompanhe as nossas análises a seguir.

Real x dólar

Começamos a semana com o dólar cotado a R$5,8852 na segunda-feira (03/mar), um nível 2,7% superior à abertura da semana anterior (24/fev). A cotação da moeda estrangeira registrou desvalorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (07/mar) cotado a R$5,7641, patamar 1,2% inferior ao da abertura da sexta-feira anterior (28/fev). Entre as aberturas desta sexta-feira (07/mar) e da segunda-feira da semana anterior (24/fev), vimos uma desvalorização do real em relação ao dólar de 0,6%.

As tarifas de 25% sobre produtos oriundos do Canadá e do México, anunciadas pelo presidente Donald Trump, passaram a valer nesta semana, e a alíquota adicional sobre importações chinesas foi elevada para 20%, intensificando as disputas comerciais entre as principais potências globais. Todavia, essas medidas duraram apenas 1 dia, dado que Trump recuou novamente e prometeu tarifas em abril. 

As respostas internacionais vieram rapidamente e até por isso o recuo americano foi efetuado. O Canadá anunciou retaliação com tarifas de 25% sobre mais de US$100 bilhões em produtos dos Estados Unidos. A China, por sua vez, reagiu com sobretaxas adicionais de até 15% sobre bens importados dos EUA, ampliando as barreiras comerciais e adicionando volatilidade aos mercados. Com esse cenário adverso, o dólar perdeu força no mercado internacional: o índice DXY, que mede a performance da moeda americana frente a uma cesta de divisas fortes, recuou 2,7% nos primeiros dias de março, atingindo 104 pontos – seu menor patamar em aproximadamente quatro meses.  

No mesmo sentido, para minimizar os impactos da guerra comercial sobre setores estratégicos, a Casa Branca havia anunciado na quarta-feira (5) uma suspensão temporária de tarifas para montadoras, válida por 30 dias. A medida, resultado de negociações entre Trump e representantes da General Motors, Ford e Stellantis, buscava evitar prejuízos às empresas vinculadas ao Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA).  

No campo do emprego, o relatório da ADP revelou uma desaceleração na geração de vagas no setor privado, com apenas 77 mil novas vagas criadas em fevereiro, bem abaixo da projeção de 140 mil postos. Convergindo para desaceleração do emprego, o Payroll também mostrou a criação de 151 mil vagas não-agrícolas, abaixo das projeções de 159 mil e a taxa de desemprego subiu a 4,1% em fevereiro. 

Paralelamente, a estimativa do Federal Reserve de Atlanta, apontou para uma contração anualizada de 2,8% no PIB americano no primeiro trimestre, impactada, em parte, pelo movimento antecipado de importações por parte das empresas americanas, que buscaram evitar os novos tributos impostos pelo governo.  

No Brasil, a atividade econômica teve uma semana mais lenta devido ao feriado de carnaval. Ainda assim, alguns dados apontaram sinais de recuperação. O PMI Composto avançou para 51,2 pontos em fevereiro, após marcar 48,2 no mês anterior, indicando uma expansão moderada da economia. Contudo, a tendência sugere que a desaceleração poderá ser mais intensa no segundo semestre.  

Além disso, foi divulgado o PIB de 2024. A economia brasileira registrou crescimento de 3,4%, ligeiramente abaixo das projeções de mercado, que apontavam para 3,5%. Ainda assim, o resultado representa o melhor desempenho do país desde 2011, desconsiderando os efeitos da recuperação pós-pandemia.  

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Real x euro

O euro abriu o pregão de segunda-feira (03/mar) cotado a R$6,1102. Na abertura desta sexta-feira (07/mar), a cotação foi de R$6,2228. Portanto, houve uma desvalorização de 1,8% do real frente à moeda europeia, mantendo a tendência de desvalorização que havia sido observada na semana anterior.

Com relação ao dólar, a moeda europeia ganhou força esta semana, rompendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0382 na segunda (03/mar) para US$1,0787, nesta sexta (07/mar). Portanto, vimos uma valorização do euro de aproximadamente 3,9% (leia-se: é preciso mais dólares para comprar um euro).

A semana foi marcada pela valorização contínua do euro frente ao real, impulsionada, em grande parte, pelo aumento das tensões comerciais. As declarações do presidente dos Estados Unidos sobre a possibilidade de novas tarifas sobre produtos da União Europeia adicionaram incerteza aos mercados, fortalecendo a moeda europeia.  

O impacto inflacionário dessas tarifas, combinado com possíveis represálias dos países da Zona do Euro, pode levar o Banco Central Europeu a adotar uma postura mais cautelosa. Com isso, há a possibilidade de o BCE interromper ou até encerrar o ciclo de cortes de juros nos próximos meses.  

Além da política comercial e das expectativas sobre a trajetória dos juros, a recente valorização do euro também reflete o desentendimento entre o presidente da Ucrânia e autoridades dos Estados Unidos. O encontro na Casa Branca resultou em uma discussão acalorada, que acabou esfriando as negociações de paz entre EUA, Rússia e Ucrânia. Embora Volodymyr Zelensky tenha reiterado seu compromisso com os Estados Unidos e com um possível acordo, a incerteza política contribuiu para o fortalecimento da moeda europeia.  

No cenário econômico, os dados mais recentes reforçam que a economia europeia segue fragilizada. O comércio varejista registrou mais uma queda em janeiro, e os indicadores do setor de construção em fevereiro sugerem um ambiente desafiador nos próximos meses.  

Na Alemanha, as encomendas à indústria sofreram um tombo de 7% em janeiro, muito pior que a projeção de -2,4% feita por analistas. Além disso, os números de dezembro foram revisados para baixo, com o avanço originalmente estimado em 6,9% sendo corrigido para 5,9%. Esses dados evidenciam a fragilidade do setor manufatureiro alemão, que continua enfrentando desafios estruturais.

Além disso, o futuro premiê alemão, Friedrich Merz, anunciou um acordo com os social-democratas para viabilizar uma alteração constitucional que permita maiores gastos públicos em defesa e infraestrutura. O posicionamento foi bem visto pelo mercado, fortalecendo bolsas europeias e também o euro. 

Já no contexto mais amplo da Zona do Euro, o PIB do quarto trimestre de 2024 avançou 0,2%, superando ligeiramente a expectativa de 0,1%. No acumulado do ano, a economia do bloco cresceu 0,9% em relação a 2023, conforme revisão divulgada pela Eurostat. Apesar do leve crescimento, os sinais de estagnação ainda persistem.  

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Real x libra esterlina

A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (03/mar) cotada a R$7,4079, patamar mais baixo que o registrado nesta sexta-feira (07/mar), R$7,4294. Trata-se de uma desvalorização de 0,3% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de desvalorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.

Em relação ao dólar, a moeda inglesa ganhou força no decorrer da semana, rompendo a tendência de desvalorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (07/mar) cotada a US$1,2883 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2587, uma valorização de 2,4% da moeda britânica em relação ao dólar.

A economia do Reino Unido segue sem sinais robustos de dinamismo, mostrando uma trajetória de crescimento restrito. O PMI Composto de fevereiro ficou em 50,5 pontos, sinalizando uma expansão marginal da atividade, sem grandes avanços em relação ao mês anterior. No setor de serviços, o PMI alcançou 51,0, abaixo da projeção de 51,1, o que indica que a principal atividade econômica britânica cresce em ritmo moderado. Já o setor de construção apresentou um dado preocupante, com o índice caindo para 44,6, bem abaixo da expectativa de 49,5 e sugerindo forte contração na atividade.

O mercado imobiliário também mostrou sinais de enfraquecimento. O índice mensal de preços de imóveis Halifax registrou queda de 0,1%, frustrando a expectativa de alta de 0,5% e revertendo o avanço de 0,6% no mês anterior. No acumulado de 12 meses, os preços subiram 2,9%, mas abaixo da projeção de 3,1%, sugerindo que o setor segue pressionado por condições financeiras mais restritivas. Além disso, a taxa hipotecária atingiu 7,33%, um nível elevado que encarece o crédito e pode inibir novas compras de imóveis.

Diante desse cenário, a economia britânica enfrenta desafios para ganhar tração. A fraqueza do setor de construção, aliada a um mercado imobiliário que mostra sinais de estagnação, limita o potencial de crescimento. Com a inflação ainda presente e taxas de juros elevadas, o consumo e os investimentos devem seguir contidos, o que mantém um panorama de crescimento modesto para os próximos meses.

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Perspectivas

O cenário macroeconômico global segue incerto. Na Zona do Euro, o Banco Central Europeu indica que os cortes de juros serão graduais, afastando tanto reduções abruptas quanto novas altas. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve mantém cautela diante de uma economia resiliente, evitando sinalizações definitivas sobre cortes, especialmente enquanto não há clareza sobre a política tarifária de Trump. No Reino Unido, o ambiente é de estagnação, sem perspectivas claras para os juros, deixando a libra e o euro em compasso de espera.

No Brasil, os sinais são mistos. A inflação de 2025 tem surpreendido positivamente, mas o mercado de trabalho segue forte, reduzindo o impacto da política monetária restritiva. Com isso, o Copom deve elevar a Selic novamente em março, possivelmente com ajustes menores nas reuniões remanescentes do primeiro semestre. A esperada desaceleração econômica pode se concentrar apenas no segundo semestre de 2025, prolongando as incertezas e mantendo a volatilidade no câmbio.

Seguimos de olho.

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