De Olho no Câmbio #320:Inflação no Brasil sobe a 5,06% em 12 meses

A semana foi marcada por novos indícios de desaceleração nos Estados Unidos, uma leve recuperação da indústria na Zona do Euro, persistência inflacionária no Brasil e um cenário de estagnação no Reino Unido. A inflação abaixo do previsto nos EUA segue gerando dúvidas sobre uma possível recessão econômica, enquanto no Brasil a inflação supera 5% no acumulado de 12 meses. Na Europa, a economia segue sem dinamismo mas com perspectivas de aceleração com medidas fiscais ativas.
Acompanhe as nossas análises a seguir.
Real x dólar
Começamos a semana com o dólar cotado a R$5,7912 na segunda-feira (10/mar), um nível 1,6% inferior à abertura da semana anterior (03/mar). A cotação da moeda estrangeira registrou valorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (14/mar) cotado a R$5,7997, patamar 0,6% inferior ao da abertura da sexta-feira anterior (07/fev). Entre as aberturas desta sexta-feira (14/mar) e da segunda-feira da semana anterior (03/mar), vimos uma valorização do real em relação ao dólar de 1,5%.
Os últimos dias trouxeram indicadores econômicos que refletem desafios e oportunidades no cenário atual. No Brasil, a inflação acelerou para 1,31% em fevereiro, impulsionada pelo reajuste de 16,8% na energia elétrica, levando o IPCA ao maior nível para o mês desde 2003. No acumulado de 12 meses, o índice chegou a 5,06%, reforçando a dificuldade do Banco Central em trazer a inflação de volta à meta.
Na atividade econômica, os sinais são negativos. A produção industrial ficou estagnada em janeiro, frustrando a expectativa de crescimento de 0,4%, enquanto o setor de serviços recuou 0,2%. No varejo, as vendas caíram 0,1%, contrariando a projeção de alta de 0,2%. Estes dados mostram que a economia brasileira começa a entrar em uma rota mais clara de desaceleração.
Em contrapartida, as contas públicas começaram o ano com superávit de R$104,1 bilhões no setor público consolidado, reduzindo a Dívida Bruta para 75,3% do PIB. O crédito também seguiu aquecido, as concessões do Sistema Financeiro Nacional somaram R$585,9 bilhões no mês, com avanço de 0,4% na série ajustada sazonalmente. O crédito para famílias cresceu 1,6%, enquanto para empresas houve leve queda de 0,1%. Além disso, o governo lançou o crédito consignado privado para CLTs e MEIs, prometendo taxas mais baixas com garantia do FGTS.
No cenário internacional, os EUA registraram inflação abaixo do esperado, com o IPC avançando 0,2% em fevereiro, o que pode influenciar as próximas decisões do Federal Reserve. Já no comércio global, a tensão entre EUA e União Europeia aumentou após Donald Trump ameaçar uma tarifa de 200% sobre bebidas alcoólicas europeias, em resposta a medidas protecionistas do bloco.
Com a inflação ainda elevada no Brasil e sinais de enfraquecimento da atividade nos EUA, o ambiente global segue desafiador, com a política monetária desempenhando papel central nos rumos da economia.
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Real x euro
O euro abriu o pregão de segunda-feira (10/mar) cotado a R$6,2760. Na abertura desta sexta-feira (14/mar), a cotação foi de R$6,2947. Portanto, houve uma desvalorização de 0,3% do real frente à moeda europeia, mantendo a tendência de desvalorização que havia sido observada na semana anterior.
Com relação ao dólar, a moeda europeia ganhou força esta semana, mantendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0833 na segunda (10/mar) para US$1,0853, nesta sexta (14/mar). Portanto, vimos uma valorização do euro de aproximadamente 0,2% (leia-se: é preciso mais dólares para comprar um euro).
A semana foi marcada por novos desdobramentos na relação comercial entre União Europeia e Estados Unidos. Bruxelas anunciou a imposição de tarifas sobre €26 bilhões em produtos americanos, em resposta à decisão de Washington de elevar para 25% as taxas sobre aço e alumínio europeus. As medidas, que entram em vigor em abril, devem afetar setores como os de metais, plásticos e agropecuária, adicionando incertezas ao comércio global.
No campo fiscal, a Alemanha anunciou um pacote de estímulo econômico com aumento dos gastos públicos para impulsionar a atividade. A medida elevou os rendimentos dos títulos alemães de 10 anos para 2,92% ao ano, acima da média histórica, refletindo um esforço para sustentar o crescimento em meio a desafios externos.
A produção industrial da Zona do Euro trouxe sinais positivos. Em janeiro, o setor avançou 0,8%, superando a projeção de 0,6%. O destaque foi a Alemanha, com alta de 2,3%, compensando os desempenhos mais fracos de Itália e Espanha. Os dados sugerem uma recuperação gradual da indústria europeia, apesar das incertezas no cenário global.
As ameaças de Trump em relação à União Europeia gera ainda mais incertezas no mercado e amplia o desconforto entre Europa e EUA, que segue crescendo desde a posse do presidente americano. Os próximos desdobramentos da disputa comercial seguirão no radar dos mercados, com foco nos impactos das novas tarifas e na resposta dos governos europeus às crescentes perturbações comerciais e econômicas.
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Real x libra esterlina
A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (10/mar) cotada a R$7,4831, patamar mais alto que o registrado nesta sexta-feira (14/mar), R$7,5126. Trata-se de uma desvalorização de 0,4% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de desvalorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.
Em relação ao dólar, a moeda inglesa ganhou força no decorrer da semana, mantendo a tendência de valorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (14/mar) cotada a US$1,2956 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2907, uma valorização de 0,4% da moeda britânica em relação ao dólar.
Os últimos dados da economia do Reino Unido refletem um cenário desafiador, com sinais de enfraquecimento na atividade. A produção industrial registrou queda, acompanhada por um recuo na indústria não extrativa, sugerindo dificuldades no setor manufatureiro. No varejo, as vendas cresceram, mas em ritmo bem inferior às projeções, o que pode sinalizar uma demanda mais contida por parte dos consumidores.
O PIB mensal também apontou contração de 0,1% em janeiro, indicando um começo de ano fraco para a economia britânica. Por outro lado, alguns indicadores sugerem que a economia mantém certo grau de resiliência. O PIB trimestral apresentou leve avanço, e a estimativa de crescimento do NIESR mostrou aceleração de 0,4%, sugerindo alguma recuperação no horizonte.
O cenário, no entanto, ainda exige cautela. A fraqueza na produção industrial e a desaceleração do consumo indicam que a economia britânica segue sob pressão, com perspectivas de crescimento modesto no curto prazo.
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Perspectivas
O mercado cambial permanece instável, mas com variações menos acentuadas do que nas últimas semanas. O real continua oscilando na faixa de R$5,75 – R$5,85 frente ao dólar e próximo de R$6,30 em relação ao euro. As políticas tarifárias agressivas do governo de Donald Trump seguem gerando incertezas, alimentando preocupações sobre uma possível estagflação nos EUA — cenário que reforçaria ainda mais a força do dólar no mercado global. Moedas como o real, o euro e a libra devem continuar reagindo às tensões em torno da política econômica americana.
No contexto doméstico, os desafios são igualmente expressivos. A economia brasileira já demonstra sinais evidentes de desaceleração, pressionada pelo aperto monetário, com a taxa de juros podendo alcançar 15% no primeiro semestre. Com um câmbio depreciado e o custo do crédito em alta, a perspectiva para 2025 é de crescimento mais fraco, enquanto a inflação pode seguir elevada.
Seguimos de olho.