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De Olho no Câmbio #321: Selic nas alturas e bancos centrais de países desenvolvidos em compasso de espera

Acompanhe o impacto dos acontecimentos mais relevantes sobre o real x dólar, euro e libra, no ‘De Olho no Câmbio’ de 17 a 21 de março.

A semana foi marcada por decisões relevantes de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, além de sinais importantes sobre a dinâmica da atividade e da inflação em diferentes regiões. No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic para 14,25%, em linha com a necessidade de ancorar expectativas em um ambiente de incertezas fiscais persistentes. Já o Federal Reserve manteve inalterada a taxa de juros americana, reforçando uma postura cautelosa diante dos sinais mistos da atividade econômica nos EUA. No plano doméstico, os indicadores de atividade surpreenderam positivamente. O desempenho robusto do IBC-Br em janeiro sugere uma retomada mais intensa do crescimento no início do ano, impulsionado, sobretudo, pelo setor agropecuário. Apesar da resiliência da economia, o espaço para flexibilização monetária segue limitado, dado o hiato ainda relevante entre inflação corrente e expectativas de médio prazo. Na Europa, o cenário inflacionário segue em trajetória de convergência em direção à meta do Banco Central Europeu. A leitura mais recente do índice de preços reforça essa tendência, ao passo que os indicadores de confiança têm mostrado melhora consistente, especialmente na Alemanha.

Acompanhe as nossas análises a seguir.

Real x dólar

Começamos a semana com o dólar cotado a R$5,7462 na segunda-feira (17/mar), um nível 0,7% inferior à abertura da semana anterior (10/mar). A cotação da moeda estrangeira registrou valorização ao longo desta semana e o dólar abriu o pregão desta sexta-feira (21/mar) cotado a R$5,6757, patamar 2,1% inferior ao da abertura da sexta-feira anterior (14/mar). Entre as aberturas desta sexta-feira (21/mar) e da segunda-feira da semana anterior (10/mar), vimos uma valorização do real em relação ao dólar de 1,9%.

As decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos foram os principais destaques da semana. No cenário doméstico, o Banco Central elevou a taxa Selic para 14,25%, enquanto o Federal Reserve optou por manter os juros americanos em 4,5%. Apesar da estabilidade, o presidente do Fed demonstrou preocupação com os possíveis efeitos inflacionários das tarifas propostas por Donald Trump.

No Brasil, os indicadores de atividade econômica surpreenderam positivamente. O IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, registrou alta de 0,90% em janeiro, superando as expectativas do mercado. O desempenho foi impulsionado, principalmente, pelo agronegócio. Já o Monitor do PIB apontou um avanço mais moderado, de 0,3%, mas reforçou a mesma tendência de crescimento puxada pelo setor agropecuário.

O Ministério da Fazenda revisou suas projeções para os próximos anos. A expectativa de crescimento do PIB em 2025 foi reduzida para 2,3%, enquanto a inflação projetada subiu para 4,9%, ultrapassando o teto da meta de 4,5%. Para 2026, a estimativa é de expansão de 2,5% e inflação de 3,5%, o que indica uma trajetória de acomodação gradual — ainda insuficiente, porém, para justificar cortes mais agressivos na taxa básica de juros.

No campo tributário, o governo avançou com uma medida bastante aguardada: o presidente Lula assinou o projeto de lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para rendimentos de até R$5 mil mensais. De acordo com o Ministério da Fazenda, a renúncia fiscal será de R$27 bilhões — abaixo da previsão inicial de R$35 bilhões. Para compensar a perda de arrecadação, o texto prevê a criação de um imposto mínimo de até 10% sobre rendimentos mensais acima de R$50 mil.

Nos Estados Unidos, os sinais de desaceleração seguem gerando incertezas. O Fed de Atlanta projeta uma contração anualizada de 1,8% no PIB do primeiro trimestre, reforçando os temores de uma recessão. Por outro lado, a indústria americana mostrou força: a produção subiu 0,7% em fevereiro, superando com folga a expectativa de 0,2%. Esse cenário contraditório deve ser um dos focos da próxima reunião do Federal Reserve, em maio, quando o mercado buscará indícios mais claros sobre o ritmo dos cortes de juros ao longo do ano.

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Real x euro

O euro abriu o pregão de segunda-feira (17/mar) cotado a R$6,2449. Na abertura desta sexta-feira (21/mar), a cotação foi de R$6,1614. Portanto, houve uma valorização de 1,3% do real frente à moeda europeia, revertendo a tendência de desvalorização que havia sido observada na semana anterior.

Com relação ao dólar, a moeda europeia perdeu força esta semana, revertendo a tendência da semana anterior. A cotação do euro na moeda estadunidense passou de US$1,0876 na segunda (17/mar) para US$1,0855, nesta sexta (21/mar). Portanto, vimos uma desvalorização do euro de aproximadamente 0,2% (leia-se: é preciso menos dólares para comprar um euro).

A inflação na Zona do Euro continua desacelerando. Em fevereiro, o índice de preços ao consumidor subiu 0,4%, abaixo das expectativas do mercado. No acumulado de 12 meses, a inflação atingiu 2,3%, uma leve revisão para baixo em relação à estimativa preliminar divulgada anteriormente. Os dados confirmam a aproximação gradual da inflação ao centro da meta, fortalecendo a percepção de que o Banco Central Europeu pode fazer novos cortes de juros ao longo dos próximos meses.

No câmbio, o euro iniciou a semana em alta e atingiu sua máxima no ano, impulsionado pela reação positiva ao novo pacote fiscal anunciado pela Alemanha, que busca estimular o crescimento. Contudo, o movimento perdeu força nos dias seguintes, e a moeda recuou para níveis próximos de R$6,15.

O ambiente de negócios europeu também deu sinais de melhora. O Índice ZEW de Sentimento Econômico, que reflete a confiança de analistas e investidores, saltou na Alemanha, atingindo 51,6 pontos – uma forte alta frente aos 20 pontos da leitura anterior. Na Zona do Euro, o indicador avançou para 39,8 pontos, ante os 24,2 registrados anteriormente.

A expressiva alta desses índices sinaliza um otimismo crescente com a economia do bloco, sustentado pela perspectiva de estímulos fiscais e de uma possível retomada dos investimentos produtivos. Com a inflação recuando e a confiança em alta, os próximos meses podem marcar uma fase de maior dinamismo na atividade econômica europeia.

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Real x libra esterlina

A libra esterlina abriu o pregão de segunda-feira (17/mar) cotada a R$7,4225, patamar mais alto que o registrado nesta sexta-feira (21/mar), R$7,3617. Trata-se de uma valorização de 0,8% do real em relação à moeda britânica. Portanto, a semana foi marcada por um movimento de valorização da moeda brasileira em relação à libra esterlina.

Em relação ao dólar, a moeda inglesa ganhou força no decorrer da semana, mantendo a tendência de valorização registrada na semana anterior, e abriu esta sexta-feira (21/mar) cotada a US$1,2970 após ter iniciado a semana cotada a US$1,2933, uma valorização de 0,3% da moeda britânica em relação ao dólar.

A autoridade monetária britânica decidiu, sem surpresa, manter a taxa de juros inalterada na reunião de política monetária desta semana. A decisão, embora dividida – 8 votos pela manutenção e 1 um pelo corte – ficou em linha com as expectativas do mercado financeiro.

Embora existam sinais de desaceleração da economia do Reino Unidos, o Bank of England amparou a sua decisão ao recente movimento de alta da inflação e aos riscos inerentes ao aumento das tensões comerciais sobre os preços aos consumidores.

De modo geral, assim como o Federal Reserve e o Bank of England, os bancos centrais dos países desenvolvidos estão “esperando para ver” os reais impactos que as tarifas de importação poderão trazer para o nível de inflação aos consumidores. Neste contexto, as decisões tomadas nos EUA e na Inglaterra esta semana parecem condizentes ao nível de incerteza atual.

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Perspectivas

O câmbio brasileiro voltou a se valorizar nesta semana, dando continuidade ao ciclo positivo iniciado anteriormente. Os fatores externos continuam sendo os principais motores das oscilações cambiais: estímulos ao consumo na China, risco de recessão nos Estados Unidos e aumento dos gastos públicos na Europa compõem um cenário que, por ora, favorece o Brasil. Em especial, uma possível alta na demanda chinesa pode atrair mais dólares para a economia brasileira.

No entanto, esse ambiente pode se reverter caso a recessão americana se concretize de forma mais severa. Um recuo acentuado da atividade econômica nos EUA tende a provocar uma realocação de capitais para o mercado americano, mesmo diante dos altos juros praticados no Brasil. Nesse contexto, o cenário mais favorável para o país seria uma desaceleração moderada da economia americana — suficiente para permitir cortes de juros por lá —, combinada com crescimento em outras regiões, o que incentivaria o fluxo de recursos para mercados emergentes como o brasileiro.

Seguimos de olho.

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