Desaceleração global e o câmbio

O ano de 2019 não está dos mais amistosos. Apesar de ainda estarmos chegando no quarto mês, o que não falta são incertezas, volatilidade e riscos iminentes por todos os lados. Um dos riscos mais comentados ultimamente é no que diz respeito à desaceleração global.

Eu sei que você já deve ter ouvido falar muito sobre isso. E não é de hoje. Há anos que economistas do mundo todo questionam se a China continuará crescendo a todo vapor. Ou qual será a próxima bolha dos Estados Unidos (tem me chamado a atenção o crédito privado, recentemente). Na última semana, acompanhamos as Bolsas mundo afora derreterem com os dados da atividade dos EUA e Alemanha mais fracos do que o esperado.

Enfim, não sabemos ao certo quando teremos a próxima crise. Mas alguns sinais e dados econômicos estão sempre no radar dos investidores, que tem como agravante a guerra comercial travada entre as duas maiores potências mundiais: EUA e China.

Cabo de guerra

Uma resolução entre os dois países é tão importante porque os impactos não são limitados apenas à taxação na importação de produtos. Existe tanta dependência entre ambos que, caso continue neste ritmo, teremos efeitos gritantes.

E o ciclo não para apenas em iPhones mais caros para os chineses. Mas para nós, o Brasil, que exportaremos menos insumos para os dois gigantes, de forma a impactar diretamente a nossa economia.

Quando nós olhamos para trás, nos meses de taxação, os efeitos já puderam ser sentidos. Os dados de ritmo de crescimento e indústria dos diversos países estão aí para confirmar.

Por isso que uma onda de receio e mal humor tende a invadir o mercado. Já reparou como as moedas de países emergentes têm sofrido este ano?

Além disso, o banco central mais importante do mundo, o Fed, vem mudando o seu tom.

Quem me acompanha por aqui, reparou como em dezembro estávamos aflitos com possíveis novos aumentos da taxa de juros nos EUA. O que complicaria de vez a vinda de recursos internacionais para cá e faria com que tivéssemos Bolsa para cima e dólar para baixo.

Agora, estamos acompanhando uma mudança drástica.

Tem gente até falando que o Fed deveria reduzir os juros. E como toda mudança inesperada, gera mais ruídos do que calmaria.

O x da questão

Se o Fed estiver pensando em reduzir os juros, é sinal de que a economia norte-americana está precisando de mais estímulos para crescer, ou seja, que os efeitos da guerra comercial e desaceleração estão mais fortes do que o esperado e que eles estão precisando de uma ajudinha.

O movimento foi tão intenso que até a curva de juros (quanto os investidores acreditam que valerá a taxa de juros lá na frente) virou. Com isso, o sinal de alerta foi aceso. O yield do papel norte-americano de 10 anos (T-note) segue abaixo de 2,40%, ao passo que o dólar segue medindo forças em relação às moedas rivais.

Portanto, recomendo que você fique de olho nos dados de PIB, ritmo de indústrias, emprego ao redor do mundo.

Mas tem um lado positivo nessa história; se nós estamos preocupados, os negociadores entre EUA e China (reunidos no final desta semana) também estão. Se há a preocupação, pode significar que um acordo esteja logo ali, virando a esquina.

Não acredito que tenhamos uma grande crise por agora, mesmo porque estamos falando de desaceleração, um crescimento menor e não recessão ainda.

Então, uma calmaria internacional pode fazer com que o dólar perca sua força em relação aos seus pares. Além, é claro, de um ambiente mais benigno para negócios.

Não podemos negligenciar todos os problemas internos que estamos enfrentando, já que o cenário político anda a todo o vapor. Por isso, é um olho lá fora e o outro aqui. Só assim, o dólar voltará aos patamares mais condizentes à realidade – ainda que o Banco Central brasileiro já esteja até fazendo leilões de linha para acalmar os ânimos.

Muitas indefinições, mas ainda assim, podemos ter dias melhores para o câmbio em um curto espaço de tempo.

Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre  pessoais e economia: @glendamara_ferreira

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