Entre os indicadores econômicos, o que mais cresce é o da inflação

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação mensal medida em abril avançou 0,31% em relação ao mês de março.

Com este dado, a inflação brasileira acumulada em doze meses alcançou 6,76%, maior patamar desde o final de 2016, quando o Brasil ainda se recuperava do primeiro descumprimento da meta de inflação em muito anos.

O aumento dos preços no Brasil vem em má hora porque ele tem comprometido a capacidade de compra das pessoas com menor renda, porque a taxa de desemprego é a mais elevada de toda a série histórica e porque ele tira uma parte do potencial de aumento das exportações do país.

Além de tudo isso, o aumento dos preços também tem trazido uma movimentação prematura do Banco Central, que tem tentando agir em favor de um ambiente com menor inflação, mas com isso deve trazer mais desafios à nossa retomada econômica.

Acompanhe nossa análise a seguir.

Vem mais inflação por aí

Se o aumento da inflação, visto desde a metade do ano passado, fosse algo pontual, ou se a diminuição do ritmo da inflação do mês de abril representasse uma clara tendência de queda dos preços no país para os próximos meses, estaríamos, de fato, mais tranquilos. Mas não! A inflação continuará subindo.

Com os números registrados até abril temos a seguinte condição: se a variação de preços dos meses de maio e junho forem iguais a zero, ainda assim a inflação acumulada em 12 meses subirá de 6,76% em abril para 6,9% em junho, tendo passado antes por 7,2% em maio. Agora, se a variação de preços seguir uma tendência lógica das nossas projeções, a inflação anual deve alcançar 7,5% ao final deste primeiro semestre.

Tudo isso, repito, em função de dois componentes importantes. O primeiro, diretamente ligado ao câmbio, pode ser explicado pelo aumento de custos e, consequentemente, de preços, causados pela desvalorização da moeda brasileira vista nos últimos meses. O segundo, está ligado ao aumento dos principais insumos e matérias-primas no mercado internacional. Ambos, depois de parcialmente represados na base da cadeia produtiva e nos atacados, agora repercutem nos preços aos consumidores finais.

A China mostra que a conversa ainda vai longe

Para estimar o comportamento da inflação nos próximos meses, a maioria dos analistas e bancos centrais têm acompanhado o movimento dos preços das principais commodities. Se o resultado desse acompanhamento não é assustador, por outro lado também não é alentador.

Segundo dados do National Bureau of Statistics of China (NBSC), a inflação ao produtor chinês medida no mês de abril alcançou +6,8% em 12 meses. Trata-se do maior percentual anual desde outubro de 2019, quando um aumento nos preços do minério de ferro e das proteínas animais fizeram aumentar a inflação aos produtores locais.

Esse aumento dos preços das matérias-primas, insumos e materiais intermediários em território chinês, indica que a inflação deve continuar alcançando os consumidores globais.

Apesar da inflação aos produtores, a NBSC também reportou a variação do índice de preços aos consumidores chineses. Em abril houve deflação de 0,3%, ou seja, no mês passado os preços vieram mais baixos que o registrado em março. Com este resultado a inflação anual alcançou 0,9%, bem abaixo da meta de inflação no país, que é de 2%.

Europa e Estados Unidos em alerta

Apesar de as autoridades monetárias americanas já terem se pronunciado publicamente diversas vezes sobre a complacência com uma inflação acima da meta de 2%, os recentes aumentos de preços têm exigido que eles renovem essa questão a cada novo dia.

Segundo o US Bureau of Labor Statistics, a inflação aos produtores norte-americanos registrada em março deste ano foi de 1%. Em doze meses a variação alcançou 4,37%, o patamar mais elevado em mais de uma década.

Os aumentos de preços das commodities já têm se traduzido em impacto nos preços aos consumidores. O mesmo escritório de estatística registrou, em março, a inflação mensal mais elevada desde agosto de 2012 (+0,6%). Em doze meses a inflação norte-americana alcançou 2,62%, acima da meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve System.

Na Europa, a Eurostat registrou um aumento de 1,1% nos preços aos produtores industriais (IPP) da Zona do Euro em março. Na União Europeia o aumento do IPP foi ainda maior, +1,2%. Em doze meses as variações são de +4,3% e +4,5%, respectivamente.

De forma análoga ao que tem acontecido no restante do mundo, a Zona do Euro tem visto esse aumento de preços aos produtores industriais se espraiar para os consumidores varejistas.

Na Zona do Euro, a inflação anual ao consumidor em abril de 2020 havia sido de +0,3%, em abril deste ano o indicador apontou alta de 1,6%.

Prognóstico

Na China, nos Estados Unidos e na Zona do Euro o principal contribuinte para o aumento dos preços aos produtores e consequentemente aos consumidores varejistas, tem sido a variação dos preços das commodities.

No Brasil, esse mecanismo também se faz presente, mas por aqui ainda temos um sério problema cambial, que contribui em grande medida para o recente aumento dos preços domésticos.

Além dos problemas de inflação, teremos que lidar com o crônico processo de crescer pouco e gerar poucos empregos, tudo isso ao mesmo tempo em que o Banco Central tenta combater a inflação com mecanismos que tendem a jogar contra o nosso processo de retomada.

Quanto maior for a letargia da economia brasileira em sair da condição de crise, menos força a nossa moeda terá em relação ao dólar americano. E você já sabe que quanto mais desvalorizada a nossa moeda, mais sujeitos estaremos aos aumentos de preços.

Veremos.

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