Entre planos e planos

Visão Geral

Em meio ao caos nas políticas públicas brasileiras – caos este que já se reflete até no Banco Central do Brasil – o governo anunciou um novo plano voltado para o crescimento verde. 

O movimento, que já é uma tendência na qual diversos países já aderiram, não é recente, mas demorou para ter adesão do governo brasileiro. Ainda assim, às vésperas da COP26, veio à tona. Antes tarde do que nunca? Talvez. 

Acompanhe nossa análise a seguir.

Contexto macro: a importância do “green growth” (c: 277 de 225) 

Outline: Há uma série de iniciativas no mundo todo, nos EUA, Reino Unido, Alemanha, China e outros, portanto, está claro que se trata de uma tendência. Vamos explorar esse movimento, quais iniciativas estão em curso e quais as mudanças que estão ocorrendo. 

Há algum tempo que economistas, analistas e policy makers falam em desenvolvimento sustentável. O tema em si já não é novo, principalmente dentro da academia. Mas com a difusão do tema fora do campo das universidades, uma série de iniciativas começaram a ganhar espaço entre empresários, empreendedores e investidores.

Na atualidade, a grande discussão gira em torno do ESG, sigla em inglês para “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português), geralmente usada para medir as práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa.

Os esforços para que mais negócios se enquadrem como ESG, diga-se de passagem, não são pequenos. Já há trilhões de dólares disponíveis em diversos fundos ao redor do mundo prontos para serem investidos. 

Do ponto de vista institucional, o Pacto Global da ONU é o grande responsável por capitanear esse movimento, no qual as empresas buscam formas de minimizar seus impactos no meio ambiente, construir um mundo mais justo e responsável para as pessoas em seu entorno e manter os melhores processos de administração

Em meio a esse cenário e contexto, os governos também deram passos nessa direção. Há alguns anos que, nos EUA, fala-se muito do Green New Deal – em referência ao grande plano de investimentos que tirou a nação da crise dos anos 1930, mas, dessa vez, com foco em investimentos “verdes”, sustentáveis. 

Mas não para por aí. Alemanha, Reino Unido, União Europeia, França, China dentre outros gigantes já deram passos largos nessa direção, definindo metas de redução de carbono, de redução de combustíveis fósseis, bem como políticas públicas para fomentar uma indústria mais sustentável. 

Parece que chegou a vez do Brasil entrar na era do green growth.

O Programa Nacional de Crescimento Verde (c: 242 de 225) 

Outline: O governo lançou nesta segunda-feira (25), o plano nacional de crescimento verde, que pegou muitas pessoas de surpresa, mas também deixou muitos especialistas desconfiados. O objetivo do plano é atingir a neutralidade de carbono até 2050, além de metas de conservação da floresta, uso racional dos recursos naturais e geração do emprego verde.

Acompanhando o movimento no exterior, o Ministério da Economia e o Ministério do Meio Ambiente lançaram juntos, na última segunda-feira (25), o chamado   Programa Nacional de Crescimento Verde, um plano cujo objetivo é atingir a neutralidade de carbono até 2050, bem como metas de conservação florestal, uso racional dos recursos naturais e geração de empregos verdes.

Em evento de lançamento, os Ministérios anunciaram que buscam com esse plano contribuir para consolidar o Brasil como a maior potência verde do mundo, dadas suas características naturais e econômicas. 

Contudo, apesar de acompanhar um movimento já em curso globalmente, o lançamento do programa recebeu diversas críticas pelo timing. Por exemplo, há anos que a União Europeia cobra do Brasil o compromisso de responsabilidade ambiental como critério para explorar mais acordos comerciais. Ainda assim, o Brasil vem ignorando veementemente essas cobranças e o total desmatado da Amazônia vem crescendo. 

Estudo recente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) publicado na renomada revista internacional Nature mostrou que a floresta amazônica já emite mais gás carbônico do que absorve, em uma proporção de 0,29 bilhão de toneladas de carbono por ano para a atmosfera, além do que consegue absorver.

Além disso, o Programa foi lançado às vésperas da 26ª edição da COP (Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas), que será realizada em Glasgow, na Escócia, entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro. Preferimos acreditar que “antes tarde do que nunca”.

E os planos “ocultos” (c: 414 de 225) 

Outline: abordar a consulta do Roberto Campos Netto a André Esteves, do BTG Pactual e o desdobramento disso sobre a idoneidade da instituição, além de abordar as derrotas de Guedes, o grande paladino do novo programa do governo.

Paralelo a tudo isso, há um universo de coisas acontecendo nas políticas econômicas do governo que precisam ser observadas com atenção e definitivamente não podem ser ignoradas. 

No começo do ano, o presidente foi entregar aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), uma lista de 36 projetos prioritários que estão em tramitação no Congresso Nacional.

Dentre os principais itens constavam a privatização da Eletrobras, a reforma tributária, a nova lei do gás e a mineração em terras indígenas, por exemplo. Apenas temas fiscais foram levados em votação no plenário e chegaram a ser aprovados pelos parlamentares neste ano, num total de 10 dos 36 projetos aprovados até final de setembro.

E recentemente, em meio a uma série de derrotas no Ministério da Economia e a polêmica em torno da possibilidade de não cumprir o Teto de Gastos aprovado na gestão do Presidente Michel Temer,  a equipe comandada pelo Ministro Paulo Guedes deu início à debandada. Quatro secretários deixaram o Ministério depois que Guedes falou em licença para furar teto.

A mensagem que o novo programa anunciado pelo governo trouxe ao mercado foi de pouco compromisso. Em outras palavras, além de muito oportuno dada a proximidade da COP26, após uma série de derrotas e escândalos envolvendo membros do Ministério como o próprio Ministro da Economia, o plano para o crescimento verde, que possui importância fundamental, passa a ficar em segundo plano.

E, por fim, não podemos esquecer do grande teste de fogo pelo qual o Banco Central está passando. Após ter a sanção presidencial a Lei Complementar 179/2021, que estabeleceu a autonomia do Banco Central em fevereiro deste ano, a relação entre o governo e os bancos parece ter ganhado novos (e preocupantes) contornos. 

Um áudio vazado de uma aparente reunião entre Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e André Esteves, dono do banco de investimentos BTG Pactual, esquentou a discussão sobre a idoneidade do Bacen e os limites da autonomia da instituição. 

Esteves, disse numa reunião do banco, no dia 21 de outubro, que foi consultado por  Campos Neto, sobre qual seria o limite para a queda da taxa de juros, a Selic. Contudo, a decisão de política monetária, que possui um impacto enorme sobre os rumos do país, é uma decisão técnica tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom). 

Em meio a esse maremoto de dificuldades, escândalos e conversas ocultas, parece que há muito mais planos do que realmente analistas e economistas estão sabendo. 

Perspectivas (c: 177 de 225) 

Outline: como esses acontecimentos devem se desdobrar sobre o mercado e o câmbio ao longo da próxima semana. 

Resta-nos agora, em meio a esse turbilhão de acontecimentos, buscar entender quais os impactos sobre a economia brasileira. O que está evidente é que o mercado encontra-se dividido. Há investidores e analistas que acreditam nos planos originais do governo, em linha com uma perspectiva pró-mercado, mas há também uma parte importante que já responde com bastante desconfiança.

A desconfiança está ganhando tanto espaço, que mesmo as boas notícias parecem eclipsar, como é o caso do Programa Nacional de Crescimento Verde. O movimento é um alento em meio ao caos, mas não parece ter surtido efeito. Podemos notar isso claramente pelo comportamento do Ibovespa e do Dólar. 

Enquanto o Ibovespa perde bastante valor, o dólar passa por forte movimento de apreciação. O movimento está, como sempre, muito alinhado, uma vez que investidores institucionais estrangeiros tendem a comprar dólar para negociar fora do país ao desfazer suas posições no Ibovespa.

O movimento amenizou na última semana, contando inclusive com as já esperadas intervenções do Bacen com os swaps cambiais, contudo, seguimos ainda em patamares elevados. A tendência deve ser mantida. 

Seguimos de olho.

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