Fuga de capitais e Brexit afetam câmbio na semana

O Brasil registra a maior fuga de capitais desde agosto de 1999, na semana em que o acordo do Brexit é firmado e a guerra comercial EUA-China se acirra.

Tal como havíamos colocado em nossas análises anteriores, o problema da guerra comercial entre China e Estados Unidos está longe de acabar. A despeito das boas notícias recebidas no final da semana anterior, houve uma nova escalada na já delicada situação.

Brexit apresentou avanços, mas o clima de incerteza deve permanecer elevado até que tudo seja definitivamente resolvido. Para ajudar, o Brasil vive uma das mais altas fugas de capitais de sua história recente.

Fuga de capitais do Brasil

No Brasil, além dos desafios econômicos teremos que lidar com os recorrentes problemas políticos, mais presentes por aqui desde o ano de 2014.

Um dado que vem chamando a atenção de especialistas é o saldo do fluxo cambial no Brasil, ou seja, a diferença entre entrada e saída de dólares do país.

De janeiro ao dia 11 de outubro deste ano, a saída de superaram a entrada em 19,83 bilhões. No mesmo período do ano passado havia sido registrada uma entrada de 18,37 bilhões.

Em outras palavras, enquanto que de janeiro a outubro de 2018 o Brasil acumulava superávit no fluxo cambial de quase 19 bilhões, em 2019, no mesmo período, houve uma fuga de capitais de 20 bilhões. No mínimo, preocupante.

No acumulado em 12 meses o déficit cambial está em 39,2 bilhões. Neste métrica, este é a maior fuga de capitais vista desde agosto de 1999, quando o país registrou saídas maiores que entradas em 40,7 bilhões.

A autoridade monetária brasileira tem adotado um tom otimista em relação à situação do Dólar no Brasil. O Banco Central destaca que o aumento da saída de de do país tem ocorrido em função do processo de desalavancagem de empresas domiciliadas por aqui com algum tipo de dívida com credores internacionais.

Aqui cabe o destaque para o colchão da balança comercial. Se a conta financeira tem visto fluxos maciços de saída de divisa estrangeira, a conta comercial está positiva em mais de 14 bilhões, ou seja, não fossem as volumosas exportações e a fraqueza dos volumes importados, o fluxo cambial seria ainda mais negativo.

Guerra comercial se acirra novamente

A semana encerrada no dia 11 de outubro trouxe a sensação de que algum acordo comercial entre China e Estados Unidos aconteceria nos próximos dias ou semanas. Mas você, leitor, sabia, de antemão, que esses pequenos acordos realizados entre Washington e Pequim, não passam de tréguas momentâneas com propósitos bastante específicos.

O cerne da guerra comercial é a geopolítica. Não é uma disputa por mercado, trata-se, na verdade, de uma disputa geopolítica relevante que ninguém sabe ao certo quanto tempo irá durar. O que se sabe é que dificilmente haverá um amplo acordo entre os dois países antes das eleições majoritárias do ano que vem nos Estados Unidos.

China e Estados Unidos, são os dois maiores parceiros comerciais do Brasil, que deve sentir os efeitos dessa disputa.

‘Sentir os efeitos’, vão desde impactos diretos como, por exemplo, a desaceleração das exportações de soja brasileira para a China, justamente no mês em que houve expressivo aumento de importações chinesas de soja estadunidense. Até impactos indiretos como os efeitos sobre a exportação de modo geral em um mundo com atividade econômica sensivelmente menor.

Na noite do último dia 18 de outubro, a China divulgou que o PIB referente ao terceiro trimestre deste ano havia crescido 6% na comparação com igual período do ano passado. Trata-se da menor taxa prevista como meta pelas autoridades chinesas, que previam um crescimento de 6% a 6,5% para o ano de 2019.

A Alemanha cortou fortemente as expectativas de crescimento para 2020 e órgãos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional têm frisado o risco de uma desaceleração mais forte da economia a partir do ano que vem. Trata-se de uma guerra ‘sem fim’ com a qual nós teremos que nos habituar.

Desafios para o acordo do Brexit

Soma-se à fragilidade doméstica e a guerra comercial, os conflitos políticos-econômicos envolvendo membros da União Europeia.

Apesar de algum alívio visto na reta final desta semana, Reino Unido e União Europeia ainda terão que enfrentar alguns representantes do núcleo duro presentes nas duas esferas, que não aceitam os termos acordados.

Alguns membros da Irlanda do Norte, por exemplo, estão descontentes com o acordo e isso pode significar algum problema para a aprovação dos termos que já foi endossados pelos 27 membros da União Europeia.

A incerteza sobre o acordo e fatores pontuais têm agido na desestabilização de economias importantes como a Alemanha. O governo alemão cortou a projeção do PIB do ano que vem de 1,5% para 1%, prova que está todo mundo se preparando para o pior.

Esse cenário tem sido cada vez mais comum em membros da maior estatura dentro da Zona do .

Perspectivas

Conflito comercial, brexit, desaceleração das economias  americana e alemã etc. São todos fatores que podem explicar em parte a fuga de do Brasil.

Apesar disso, é importante destacar que parte das explicações estão contidas no cenário doméstico.

A sensível diminuição da taxa básica de juros e o desgaste político dentro do partido do presidente da República, traz mudanças substanciais no balanço de risco dos investidores estrangeiros.

Eles preferirão ganhar menor remuneração em um ambiente com relativa segurança (Estados Unidos) a ganhar um pouco mais em um ambiente que enfrenta graves turbulências políticas, como é o caso brasileiro.

A taxa de juros deve continuar caindo e a crise política está bem longe de acabar.

Neste cenário, a tendência é continuidade do processo de desvalorização do Real.

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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