Luis Stuhlberg, gestor do fundo Verde Asset Management, está operando vendido no câmbio, ou seja, aposta na queda do dólar. Esta decisão está na contramão do mercado, que vê o dólar acima de R$ 4 até o final do ano. Entenda suas razões.
Há algum tempo, diversos economistas e gestores de fundos de investimento, que inclusive ganham com o câmbio, vem dizendo que a tendência é termos um dólar mais alto. O patamar de R$ 3,90 a R$ 4 é visto como o novo normal.
Porém, tem um gestor que devido a sua visão mais otimista com o cenário brasileiro, está posicionado para ganhar com quedas da moeda forte. A referência aqui é a Luis Stuhlberg, o gestor do Verde Asset Management, um dos mais tradicionais e com uma longa história que sobreviveu a diferentes situações e reveses não só brasileiros, mas do front externo também.
Ele já apostou contra o mercado antes
O track record (histórico de rentabilidade) do fundo é reconhecido e a sua experiência e acertos corroboram para que todos prestem atenção no que é dito por ele e sua equipe.
Um exemplo clássico é de 1998, quando a única saída do governo brasileiro contra a deterioração de nossa economia era a desvalorização do real, mas ainda havia dúvida do que o Banco Central sob o comando de Gustavo Franco iria fazer (já que ele não era tão a favor da desvalorização do real).
Como Stuhlberg sairia de férias com as filhas, resolveu um dia antes da viagem investir todo o patrimônio do fundo em dólar, assim não perderia a oportunidade, mesmo ausente.
E veja só o que aconteceu, Gustavo Franco foi demitido e no seu lugar entrou Francisco Lopes, que permitiu a desvalorização do real. Com os próximos investimentos que fez a partir disso, o rendimento líquido do fundo em 1999 foi de 125%.
Depois, passou a atrair atenção de investidores, aumentou a equipe e destravou o caminho de sucesso do fundo.
É claro que erros de avaliação também fazem parte da sua trajetória. Em 2008, ele fez um investimento para a família. Comprou rúpia, a moeda indiana, na expectativa de que se valorizasse. Como isto não ocorreu, perdeu o equivalente a um apartamento.
Razões para apostar contra hoje
Mas vamos falar o que importa, qual é a visão da gestora para os dias atuais. Segundo eles, o crescimento brasileiro está aquém do ideal, o PIB por exemplo ainda não mostrou o seu potencial. Além disso, acreditam que o estímulo monetário tem chance de ser ainda maior do que o projeto anteriormente e que será um propulsor da demanda doméstica.
Por isso, mantiveram a posição em ações, juros e aumentaram a posição vendida em dólar. Ou seja, acreditam que o dólar cairá em comparação ao Real.
Segundo a gestora, o cenário global “desanuviou” ao longo de setembro. Como acreditam que um pequeno acordo entre EUA e China deverá ser alcançado, devido aos incentivos que os dois têm em buscar uma trégua, o dólar tenderá a parar de subir na escala global.
Portanto, agregando uma melhor perspectiva de crescimento brasileiro somado a possibilidade um pequeno acordo entre EUA e China para que a relação entre os dois países não se deteriore, culminará em um dólar mais controlado ao longo do tempo e não tão estressado como temos visto atualmente. Se uma das gestoras mais tradicionais fala, nós paramos, escutamos e fazemos as devidas ponderações.
Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira