Processo de impeachment de Trump traz mais incerteza ao cenário econômico global, já ameaçado por uma recessão. Entenda os potenciais impactos neste artigo.
Em um ambiente caótico de crescimento baixo e com expectativa de uma crise que ameaça o crescimento obtido desde 2008, instituições globais alertam que agora é hora de focar em políticas fiscais. A maioria dos países desenvolvidos viram suas dívidas públicas crescerem de forma sensível nos últimos anos, portanto, fica difícil imaginar que o os governos tenham ferramentas para substituir a questionável política monetária vigente desde 2008.
Para ajudar o cenário de incerteza global, foi protocolado na Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, um processo de impeachment contra o presidente Donald Trump, que pode intensificar o processo de desaceleração da maior economia do mundo.
O que pode acontecer se houver o impeachment de Trump?
Olhando para a nossa experiência recente de um impeachment, que aconteceu no Brasil em 2016, podemos ver quão poderosa pode ser a instabilidade política para os negócios de modo geral e, consequentemente, para a economia como um todo.
No caso americano, já existem as incertezas decorrentes da guerra comercial entre este país e a China. A propósito da guerra comercial, as últimas declarações do Trump acerca do conflito não foram nada animadoras, mostrando que ela não é passageira e de comercial ela tem muito pouco. O conflito tem como pano de fundo uma disputa geopolítica importante, e as chances de dissipar-se por completo no curto e médio prazo são nulas.
Do ponto de vista do processo de impeachment contra o presidente Trump, tudo é ainda muito incerto e, portanto, difícil prever os resultados do mesmo.
Mas no momento em que o pedido de impeachment foi protocolado, o clima de incerteza já aumentou, e isso é muito prejudicial para a economia global.
Impactos do impeachment no Brasil
O presidente brasileiro prometeu alinhamento político automático aos Estados Unidos. Apesar de ser muito cedo para dizer que o processo de impedimento contra Trump irá se concretizar, caso ocorra o afastamento definitivo, algo inédito na política norte americana, o Brasil tende a ficar momentaneamente isolado.
O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, pode ser considerado ainda mais conservador que Trump e, portanto, teria proximidade de ideias com o presidente brasileiro, mas as coisas não são tão simples assim.
Um presidente mais conservador que Trump não nos traz boas perspectivas no tratamento com a China no que diz respeito à guerra comercial. Como sabemos, a guerra entre China e Estados Unidos pode ser ruim para muitos países, entre os quais o Brasil, que estaria na vanguarda dos prejudicados.
Estamos preparados para uma crise global?
ONU, FMI, outros órgãos e personalidades importantes começam a lançar críticas à política monetária ultra-expansionista em face da desaceleração da economia mundial. Apenas para comparativo, a ONU espera um crescimento mundial em torno de 2,3% para 2019, ante crescimento verificado de 3% em 2018.
Diante da inoperância relativa da política monetária, uma nova rodada de política keynesiana está prestes a surgir para tentar colocar o mundo desenvolvido de pé outra vez.
Uma política fiscal – aumento de gastos do governo – é amplamente esperada enquanto se avolumam artigos e declarações de que 2020 seria o limiar de uma nova crise que nos namora há algum tempo.
A pergunta é: Com o excesso de endividamento de pessoas, empresas e governos, qual dinheiro será usado nas políticas fiscais que miram o investimento? Algum instrumento novo deve ser criado para isso, talvez.
Perspectivas
A expectativa de crise internacional ganha ainda mais corpo com as últimas declarações da Unctad e dos dados de investimento e indústria nos Estados Unidos e Alemanha, por exemplo. O que nos preocupa é a dificuldade – na política fiscal e monetária – que os países terão para enfrentar novos obstáculos na economia global.
Veremos!
—André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.