Desde a última semana as coisas não vão muito bem para a Petrobras. o valor da empresa tem caído de forma intensa desde que rumores apontavam para possíveis ingerências políticas nos negócios da empresa.
As potenciais ingerências se concretizaram, e o presidente da companhia foi substituído por uma pessoa cujo alinhamento político em relação ao Planalto parece maior. Já foi dito publicamente que existe a possibilidade de redução dos preços dos combustíveis sem muito esforço político.
A perda de valor estimada até o fechamento do mercado na última segunda-feira (22) beira os R$ 100 bilhões. As ações preferenciais da companhia (PETR4) já caíram cerca de 27,5% somente nos últimos quatro pregões.
Que lições tiramos disso tudo? O preço do combustível é justo no Brasil? As interferências políticas se justificam de alguma forma? Quais podem ser os impactos secundários desta decisão?
Acompanhe nossa análise a seguir.
Combustível caro ou baixa remuneração?
Uma das discussões que sempre vêm à tona após sucessivos aumentos dos preços dos combustíveis no Brasil tratava do nível de preços dos derivados de petróleo ao consumidor final. Para o ex-presidente da Petrobras, o combustível no país não é nem caro nem barato, trata-se do preço de mercado, ou seja, seria uma espécie de preço justo.
Neste ponto, sobre a gasolina e o diesel serem caros ou baratos aqui no Brasil. Existem informações que mostram que em uma lista de 167 países o Brasil está na 55ª colocação quando ordenamos os preços do menor para o maior. Dito de outra forma, o Brasil ocupa o 33º percentil, ou seja, dos países listados cerca de 33% (54) têm combustível mais barato que o Brasil e os demais 67% (112) têm combustível mais caro que o nosso.
Se nosso combustível está longe de ser o mais caro do mundo, deve existir uma outra explicação para a insatisfação popular, além dos óbvios problemas no mercado de trabalho e na desigualdades, por exemplo.
Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), o preço médio – nacional – da gasolina comum foi de R$ 4,92 na semana de 14/02/2021 a 20/02/2021. Com base no salário vigente no Brasil, R$ 1.100,00, o brasileiro que recebe um salário mínimo teria que despender cerca de 18% do seu salário – bruto – para abastecer um tanque com 40 litros de gasolina.
Na Alemanha, a gasolina precificada em euro é sensivelmente mais cara que no Brasil, mas um cidadão alemão que recebe o salário mínimo do país (€ 1.500,00) tem que despender cerca de 3,6% do seu salário bruto para encher o mesmo tanque com 40 litros.
Apenas a título de comparação, na Espanha, onde o salário mínimo expresso em euros é de 950,00, um tanque de quarenta litros pode ser cheio com gasolina comprometendo cerca de 5,3% do salário mínimo bruto.
A política de preços e o câmbio Dólar-Real
Parte da explicação para o aumento recente dos preços da gasolina, do diesel e de outros derivados do petróleo vem da fórmula utilizada pela Petrobras para reajustar os preços praticados com as distribuidoras de combustíveis.
A variação no preço do barril do petróleo e o movimento do câmbio são elementos importantes nesta conta e isso nos diz muito sobre a escalada dos preços destes bens nas últimas semanas.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15 registrou aumento de 4,51% somente nos meses de janeiro e fevereiro de 2021. A variação da gasolina representa quase quatro vezes a variação geral do indicador acumulado nos dois primeiros meses do ano.
Esse aumento reflete, como já foi dito, a variação do preço do barril de petróleo (Brent), que do início do ano até 23 de fevereiro apresentou alta de 28% e da desvalorização cambial que foi de 4,77% no mesmo período.
Apesar de lógico, sobretudo do ponto de vista empresarial, o uso do câmbio, de forma automática para corrigir os preços dos combustíveis praticados no Brasil não parece muito justo com a população, uma vez que o real foi a moeda que mais perdeu valor em relação ao dólar durante a pandemia. Em outras palavras, não parece correto transferir os efeitos da volatilidade cambial, que muitas vezes tem origens políticas, para o consumidor.
Essa alegação também não representa carta branca às ingerências políticas nos negócios da petroleira. Neste momento de desvalorização cambial associada ao aumento dos preços das commodities no mercado internacional, seria importante chegar a um bom termo.
Se não faz sentido intervir nos negócios de uma empresa cuja parcela importante do capital está nas mãos de acionistas não-estatais, também não faz sentido jogar nos ombros do trabalhador brasileiro o peso da desvalorização do real e da retomada da atividade econômica global, que jogará para cima o preço das commodities nos próximos meses.
Os impactos para o câmbio
Com a necessidade de dar alguma resposta para a população e evitar efeitos adversos mais graves como, por exemplo, uma nova greve dos caminhoneiros de grandes proporções, o presidente brasileiro optou pela via intervencionista, sendo comparado com a ex-presidente Dilma Rousseff.
Esse tipo de ingerência é infrutífero para o Brasil, seja pelos efeitos de curto prazo, como a desvalorização dos ativos do mercado acionário, perda do poder de compra da moeda brasileira, aumento do risco país e perda de capital político por parte do presidente, seja pelos efeitos de longo prazo, que não ajudam na condução de preços mais aceitáveis para o nível de compra da maior parte da população e podem trazer mais aumento de inflação decorrente das desvalorizações cambiais que causa.
O fato é que como a decisão política é apenas o reflexo de um problema estrutural crônico, grave e que não está sendo discutido nesse momento, novas intervenções serão necessárias daqui algum tempo e isso não é bom para diversos indicadores econômicos nacionais, entre os quais podemos destacar o câmbio.
Veremos.