Em 2020 o investidor estrangeiro tende a estar mais disposto a apostar no Brasil. Contam para isso a tendência de redução da dívida pública e sinalizações de agências como a Standard & Poor’s.
O assunto de hoje é uma sequência dos dois últimos artigos publicados neste espaço: quais são os fatores que poderão influenciar o câmbio em 2020? Já apontamos os fatores locais, quais são os riscos internacionais e agora chegou a hora de avaliarmos o comportamento do investidor internacional perante o Brasil. Mesmo porque, diferentemente do que era esperado pela maioria dos analistas, ainda não pudemos observar a entrada de dólares no Brasil este ano. Será que esse fluxo vem em 2020?
A relevância da entrada desse dinheiro internacional é simples: quando os dólares entram, a tendência é que sua cotação também caia. Além de que, os recursos costumam vir em tal montante que podem impulsionar ainda mais o nosso crescimento, seja no mercado de capitais, seja via investimento direto.
Nesse sentido, um fator é levado em consideração por esses grandes investidores, qual é a capacidade de pagamento, não apenas das empresas, mas também do governo do país em questão. Isso pode ser medido pela nota que as agências de risco atribuem aos país. Quando avaliam que as suas economias estão saudáveis, a nota atribuída é de grau de investimento – o que ainda não é o caso do Brasil.
Apesar da sinalização da Standard & Poor’s há poucos dias, ainda não recuperamos este selo tão importante. O carimbo de que a capacidade de pagamento do Brasil é boa, é relevante porque é um parâmetro utilizado internacionalmente e porque alguns investidores não podem nem alocar os seus recursos em locais que não tenham essa “garantia” por parte das agências. Por isso, a expectativa de melhora em nossa avaliação é grande.
Onde estamos melhorando, para o investidor estrangeiro
Há alguns pontos que fazem com que estejamos mais próximos de obter o grau de investimento. Por exemplo, a taxa Selic está nas mínimas históricas, o que faz com que o custo de financiamento por parte do governo fique menor. Como 50% da dívida pública bruta é refinanciada em até 12 meses, faz muita diferença termos juros menores por aqui.
Segundo novas contas realizadas pelo Ministério da Economia, o governo vai deixar de pagar R$ 418 bilhões de juros da dívida pública em quatro anos (entre 2019 e 2022). Só este ano, a economia deve ser de R$ 68,9 bilhões e ainda maior nos próximos anos. Ou seja, o custo para o financiamento do país tenderá a ficar menor.
Se a dívida fica mais fácil de ser paga, as agências olham para o Brasil com outros olhos – que ainda é o fator mais importante na hora de reavaliar as condições do país.
Tal fato tem feito membros do governo já estarem confiantes em uma mudança de nota já no próximo ano. E não é apenas o governo que está confiante, segundo avaliação de diversos bancos internacionais, como o Bank of America, JP Morgan, Credit Suisse, o Brasil tem tudo para ser a história preferida na América Latina. É a nossa grande chance de sermos os “queridinhos dos emergentes”.
Quando os dólares chegarão?
Como costumamos acompanhar nos mercados, na maioria das vezes, há antecipações de movimentos. A aprovação da reforma da Previdência é um exemplo. Quando, finalmente, passou no Senado, não foi quando vimos o grande momento de euforia nos mercados (na Bolsa, por exemplo). Outro exemplo foi quando conquistamos a nota de investimento durante o governo Lula, a festa já tinha acontecido.
Por isso, já no segundo trimestre de 2020, o investidor estrangeiro estará muito atento ao nosso ritmo de crescimento. Caso consigamos entregar números consideráveis do PIB parcial, seremos a atenção dos emergentes. Pelo contrário, se o desenvolvimento não vier, ficaremos em segundo plano novamente.
O investidor estrangeiro não compra promessas de crescimento, mas sim o desenvolvimento. E sem o crescimento, não vem a reavaliação da nota. Portanto, para atrair o capital internacional, precisamos comprovar o nosso crescimento. E este momento deverá acontecer antes de recebermos a nota comprovando que o nosso risco de fato diminuiu.
Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira