Visão Geral
O IBGE divulgou na manhã de quarta-feira (25) o aguardado IPCA-15 relativo ao mês de agosto. A prévia do indicador oficial de inflação brasileiro avançou 0,89% no mês, perfazendo uma variação acumulada de 5,81% este ano, bem acima do teto da meta para 2021, que é de 5,25%.
A variação mensal é a maior para meses de agosto desde 2002 e em doze meses temos a inflação mais alta desde maio de 2016. Esse comportamento da inflação deve obrigar o Banco Central do Brasil a aumentar ainda mais a taxa básica de juros na tentativa de ancorar as expectativas para 2022 e 2023.
O grande problema aqui é que esse aumento da taxa de juros pode não surtir o efeito desejado além comprometer a retomada da economia brasileira neste segundo semestre. O que esperar da inflação, do câmbio e da retomada da economia brasileira nos próximos meses?
Acompanhe!
E continua o cansativo debate: a inflação é passageira?
Para o Federal Reserve (Fed) e para o Banco Central Europeu (BCE), as duas autoridades monetárias mais importantes do mundo, essa escalada da inflação pode ser majoritariamente explicada por eventos pontuais e, consequentemente, transitórios.
Existem alguns eventos que estão alimentando a inflação nos países centrais, dentre os quais podemos destacar:
- O aumento dos preços das principais commodities, que foram pressionados pela retomada das economias norte-americana, chinesa e europeia – apenas para ilustrar este primeiro tópico, nos últimos doze meses a gasolina disponível ao consumidor norte-americano aumentou 42%. É muita coisa.
- Os gargalos produtivos ocasionados tanto pelo reaquecimento da atividade econômica global, quanto pela dificuldade da indústria em produzir a quantidade máxima diante das medidas de distanciamento social colocados em alguns países.
Esses dois componentes explicam, em grande medida, o comportamento da inflação nos países centrais. E é claro que o Brasil pegou carona nessa leitura.
O que há de errado com a inflação no Brasil?
É evidente que a inflação brasileira também foi influenciada pelos componentes transitórios citados mais acima, prova disso é o comportamento de outros indicadores de preços, que levam em conta também a inflação registrada na base da cadeia produtiva.
O IGP-M, por exemplo, mostrou o peso do aumento dos preços das commodities sobre o produtor nacional.
Depois de alcançar a maior inflação desde a criação do Plano Real, no mês de maio, com variação de impressionantes 37,04% em um ano, o indicador apresentou uma leve reversão de tendência e fechou o mês de julho com variação acumulada em doze meses de 33,83%, ainda o terceiro maior registrado desde 1994.
Acontece que nem só das pressões das commodities tem vivido a inflação brasileira. Por aqui temos mais (e perigosos) componentes que podem atiçar os preços ao consumidor nos próximos meses.
Além dos dois problemas enfrentados pelos países centrais, o Brasil ainda terá que lidar com:
- Crise hídrica;
- Distúrbios ambientais que trouxeram fortes ondas de frio ao país e provocaram quebras de safras – especialmente na região sul;
- Inflação no setor de serviços;
- E, claro, o câmbio.
O que vem por aí?
A lista de possíveis coisas que podem afetar a inflação é mais longa para o Brasil, o que poderia transformar uma inflação passageira em um evento mais distendido.
O próprio Banco Central tem olhado para este problema e disse que tem trabalhado para evitar que a inflação atual ganhe componentes de inércia, ou seja, o aumento pelo aumento, quando empresas reajustam seus preços de forma automática com base na percepção de que a inflação continuará aumentando.
Mas antes que se concretize esse quadro de inércia ainda temos problemas reais muito importantes. Um dos principais contributos para a inflação brasileira dos últimos meses está ligada ao intenso movimento de desvalorização cambial registrado em 2020.
Com o dólar mais caro, há um estímulo às exportações e o encarecimento das importações, o primeiro diminui a quantidade de bens disponíveis para a população brasileira e o seu correspondente aumento de preços, enquanto o segundo torna insumos, matérias primas e produtos mais caros aos consumidores domésticos.
E se o câmbio é peça-chave na explicação da inflação brasileira, nós temos muitos motivos para ficarmos preocupados.
Impactos no câmbio… E na inflação!
Note que as principais explicações para a inflação brasileira estão ligadas a componentes de oferta, em outras palavras, podemos fazer pouca coisa para combater essa “chama” no curto prazo.
Você ainda poderia chamar a atenção para o fato de que o problema cambial seria parcialmente resolvido, uma vez que o Banco Central do Brasil está no meio de um ciclo de aperto monetário (aumento dos juros), mas não conte com isso.
Se encerramos o ano com a Selic entre 7,5~8,0% ainda teremos, pelo andar da carruagem, uma inflação anual que tocará os 9,5% no mês que vem e encerrará o ano próximo dos 8%.
Em outras palavras, o esforço do Bacen em atrair recursos estrangeiros e melhorar a cotação da moeda norte-americana teria que ir muito além do patamar que esperamos atualmente.
Além disso, uma Selic muito maior que 8% teria que competir com o desgaste político em curso e com as eleições presidenciais do ano que vem, o que, convenhamos, não é pouca coisa.
O que temos até aqui é que a inflação no Brasil pode ser muito mais duradoura que o esperado inicialmente e que o dólar pode alcançar patamares muito mais elevados que os registrados no último decêndio de agosto.
Veremos.