O mercado de câmbio abriu o ano influenciado por indicadores econômicos frágeis no Brasil e Europa, o ataque norte-americano ao Irã e o Brexit caminhando para a conclusão.
Acordo comercial se materializando, mas Trump complicando o cenário ao ordenar um ataque ao aeroporto de Bagdá. Brasil e União Europeia começam o ano com dados econômicos fracos, enquanto Reino Unido lida com os próximos passos para o Brexit. Acompanhe os desdobramentos desses acontecimentos sobre as principais moedas globais.
Preocupação com a economia brasileira valoriza Dólar
Se no último pregão de 2019 (30/12), o Dólar fechou cotado a R$ 4,0195, no primeiro pregão de 2020 (02/01), a moeda norte-americana chegou a valer R$ 4,0413, mas fechou ligeiramente acima do pregão anterior, aos R$ 4,0251.
O movimento é ambíguo, uma vez que reflete preocupação com a economia brasileira após o ano começar com o resultado negativo do índice de gerente de compras industrial, calculado pela consultoria IHS Markit.
Segundo a IHS Markit, a produção industrial brasileira recuou de 52,9 pontos em novembro para 50,2 pontos em dezembro.
Complementarmente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que a primeira fase do acordo comercial entre EUA e China deve ser assinado no dia 15 de janeiro. A notícia aliviou o mercado.
Contudo, na noite de quinta-feira (2), Trump autorizou um ataque que levou a óbito o equivalente ao ministro da justiça do Irã, Qasem Soleimani. As consequências ainda são incertas, mas os reflexos no câmbio são garantidos.
Isso posto, sem grandes novidades e com as festividades de ano novo desta semana, a moeda americana saiu dos R$ 4,0484 na abertura do pregão de segunda-feira (30) e fechou o ano cotado a R$ 4,0195.
Na abertura do pregão desta sexta-feira (3), o Dólar americano foi negociado a R$ 4,0254, mas rapidamente atingiu a cotação de R$ 4,0588, uma depreciação de 0,27% do Real.
Câmbio do Euro reflete momento de fragilidade da economia europeia
A Zona do Euro finda o ano de 2019 e abre 2020 com dados preocupantes, mas com a manutenção da perspectiva de economia fraca e devagar.
A exemplo do Brasil, dados da Markit registraram retração da atividade industrial de 46,9 pontos para 46,3 pontos.
O resultado, apesar de sutil, coloca mais uma vez em evidência a fragilidade da economia europeia neste momento.
Isso posto, a moeda europeia abriu a semana cotada a R$ 4,5202. Na abertura desta sexta-feira (3), a cotação foi de R$ 4,4964, uma apreciação de 0,52% do Real frente à moeda europeia.
Construção de acordo comercial entre Reino Unido e UE estabiliza Libra Esterlina
Com a vitória dos conservadores no Reino Unido, o Brexit foi aprovado. Conforme apontamos semana passada, os desafios que se colocam pós-Brexit dizem respeito ao acordo comercial entre Reino Unido e União Europeia, a fim de manter suas trocas comerciais.
E esse ponto pode ser um calcanhar de Aquiles tanto para a União Europeia, quanto para o Reino Unido.
Se o Brexit for bem sucedido e a economia britânica começar a registrar bons resultados, este poderá ser o início do fim da UE.
Por outro lado, caso o Brexit não traga o crescimento econômico esperado para o Reino Unido, a UE deve ganhar força e poder de barganha.
Na esteira do Brexit e dos desafios que se colocam para 2020, a Libra Esterlina abriu a semana cotada a R$ 5,2854. Nesta sexta (3), o Real seguiu trajetória de apreciação do câmbio em relação à Libra, registrando, na abertura, a cotação de R$ 5,2916, uma variação semanal de 0,12%.
Perspectivas
O Real conseguiu se manter levemente fortalecido frente às principais moedas. De todo modo, em termos mais práticos, os desafios que se abrem para 2020 estão dados e não são de simples resolução – especialmente agora, com o conflito iraniano no radar.
Exigirão grande esforço e o câmbio deve responder a altura. Isso significa que, manteremos o patamar de R$ 4 por tempo prolongado.
Seguimos de olho.
André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.