Corta para a realidade. Fim de maio, a Bolsa subiu pouco mais de 4% no ano, o dólar insiste em ficar coladinho nos R$ 4 e o dinheiro gringo só sai.
O alvoroço todo por aqui e a razão de estarmos tão distantes do que foi idealizado no início do ano tem nome e sobrenome: espera pela aprovação da reforma da Previdência. É claro que nós sabíamos dos percalços no meio do caminho e da dificuldade de articulação do novo governo, mas os estrangeiros não. E por isso, os recursos externos custam tanto a vir para cá.
Flashback
Em meados de janeiro, o fluxo estrangeiro chegou a colocar um pé aqui. Seja na Bolsa brasileira, seja via investimento externo. Afinal de contas, a confiança dos investidores nacionais estava tão alta, com os ativos se valorizando, que alguns até toparam acreditar que as reformas estruturais viriam.
Aqui abro uma explicação. De fato, ninguém acredita que a reforma da Previdência fará o Brasil se tornar um país de primeira. Mas é sim um primeiro passo que demonstra um compromisso fiscal do país, e um gatilho para aumento da confiança que desencadeará crescimento nos mais variados setores.
Agora, retornando. De lá para cá, tanto o investidor brasileiro como estrangeiro, recuaram. Por mais que o sentimento de que teremos reforma e outros avanços, o crescimento previsto para 2019 já está praticamente perdido e apenas teremos melhorias depois. Com isso, a festa foi adiada.
Rebaixamentos nos rankings de investimento
Para piorar a nossa situação, há poucas semanas foi divulgado que o Brasil saiu do ranking dos 25 melhores países para investir. Foi a primeira vez em 21 anos, de acordo com a lista da consultoria empresarial norte-americana A.T. Kearney, que é elaborada com a opinião das maiores multinacionais.
O fluxo já estava difícil nos últimos anos, quando olhamos os dados do IED (investimento estrangeiro direto – destinado para ampliar a produção de empresas, com aumento de negócios, geração de empregos…). Imagine agora com mais essa perda de selo de confiança.
No Brasil, o fluxo passou de US$ 68 bilhões, em 2017, para US$ 59 bilhões no ano passado. É um fluxo menor do que em 2016, por exemplo, e abaixo da expectativa de movimentação de US$ 75 bilhões.
Em 2018, caímos para a nona posição dos principais destinos de investimento estrangeiro no mundo. É claro que o fluxo internacional caiu como um todo, mas nosso país foi penalizado até quando comparamos com outros países emergentes. E o que veremos neste ano, não será diferente do que foi acompanhado nos últimos anos.
O cenário na Bolsa tampouco é animador. A nota de investimento concedida pelas principais agências de rating, como a S&P, Fitch e Moody’s, funciona como um balizador. Ainda que o sentimento geral seja que as notas sempre estejam atrasadas, alguns fundos de investimentos nem podem investir no país se a nota não estiver dentro de um padrão estabelecido. E o nosso patamar segue lá embaixo, além da imagem que o investidor estrangeiro tem do Brasil é de que é preciso esperar um pouco mais, para chegar em meio a um ambiente mais estável.
Apesar dos pesares
Apesar de todo o cenário catastrófico traçado aqui, ainda há motivos para confiança. Acredito que teremos a aprovação da reforma da Previdência este ano, um aumento gradual da confiança de empresários e consumidores e retomada do crescimento econômico. De forma geral, creio em uma maior estabilidade política e econômica.
Com tudo isto, 2019 ainda tende a ter o dólar além do patamar que seria o ideal para nós, rondando os R$ 3,70 a R$ 3,80. Isso porque para que o câmbio possa cair de vez, é preciso que o dinheiro gringo venha para cá. Sem ele, a conta não fecha. Não adianta apenas a atuação do Banco Central, por exemplo. O câmbio ainda é balizado pela quantidade de dinheiro que entra e sai daqui. Por isto, os mais ansiosos deverão esperar mais definições e clareza em nosso país.
Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante e acabou de inaugurar um canal no YouTube sobre finanças pessoais, Glenda Mara.