O horizonte de eventos brasileiro

Visão Geral 

Horizonte de eventos é uma alusão ao ponto teórico próximo a um buraco negro a partir do qual nenhum corpo celeste pode escapar da sua força gravitacional.

Neste ponto, a teoria nos diz que até mesmo as leis da física que conhecemos são violadas e o contato com o mundo externo é quebrado.

Mas afinal, o que o horizonte de eventos tem a ver com o comportamento do câmbio?

Acompanhe nossa análise a seguir.

O famoso horizonte de eventos 

Fazendo uma analogia com a política, definiremos o nosso horizonte de eventos à formalização das candidaturas dos postulantes ao cargo de presidente da República a partir de 2023.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, os partidos devem apresentar o requerimento de registro de candidato até o dia 15 de agosto de 2022.

É a partir deste ponto que os desdobramentos da política nacional devem influenciar em maior medida não só a cotação do dólar em relação ao real, mas também o mercado de capitais e o volume de investimento em ativos fixos, por exemplo.

É evidente que parte do movimento cambial esperado para o ano que vem deve ser precificado de forma gradual ao longo das divulgações das pesquisas de intenção de voto, mas é a partir de agosto que a coisa ficará um pouco mais séria.

As leis da física não funcionarão mais 

Mesmo com o desejo de um grupo de pensadores econômicos em tornar a economia em uma ciência exata, economia e física não têm nada a ver uma com a outra.

Apesar disso, em nossa analogia, trataremos essa “quebra” das leis da física como conhecemos, os esforços empreendidos pelo governo brasileiro que não devem funcionar diante da disputa eleitoral do ano que vem.

Em primeiro lugar, parte destes eventos já pode ser sentida em 2021. 

O Banco Central do Brasil decidiu realizar leilões extras de swap cambial diante do aumento da procura por parte dos bancos brasileiros pelo desmonte do overhedge.

Os leilões extras ocorrem sempre às segundas e quartas-feiras.

E o que aconteceu nesta segunda-feira (04)?

Uma das maiores desvalorizações diárias da moeda brasileira registrada em 2021.

Ou seja, nem mesmo o aumento das intervenções do nosso Banco Central no mercado de câmbio está garantindo menos desvalorizações do real.

Pode não sobrar nem a China

Não vou dizer que a quebra da Evergrande é o fim do robusto ciclo de crescimento chinês iniciado décadas atrás.

Nem tampouco especularei sobre a capacidade dos chineses de enfrentar, com êxito, o aumento da concentração de renda no país. Pode não parecer muito relevante para quem mora em um dos países mais desiguais do mundo, o Brasil, mas na China isso é muito importante para a imagem do Partido Comunista.

Apesar disso tudo, são inegáveis os impactos da pandemia e do default da Evergrande sobre o ritmo da economia chinesa.

Essa notável desaceleração pode produzir efeitos adversos indiretos sobre o Brasil, que tem a China como principal parceiro comercial.

Menos atividade econômica chinesa se traduzirá em menor volume de exportações por parte do Brasil. 

A diminuição do fluxo de recursos estrangeiros produzidos pelas exportações podem criar problemas importantes no nosso balanço de pagamentos e, consequentemente, exercer mais pressão pela desvalorização da nossa moeda.

Luz por trás de um buraco negro

Há muito pouco a ser feito para impedir esses movimentos.

Não há nenhuma ação do Banco Central ou do Ministério da Economia que diminua o impacto das eleições do ano que vem.

Também não há nada que possamos fazer para impedir a volatilidade cambial produzida pela quebra da construtora chinesa.

E não, essa não é o fim melancólico de um país gigante em todos os aspectos como o Brasil.

Quando falamos de câmbio, é importante lembrar que já passamos por outros momentos complicados como em 2002 e 2015, por exemplo, e aqui estamos nós. Vivos!

No entanto, é importante dizer que estamos sendo atraídos para um ambiente/momento muito relevante da nossa história e esse ambiente pode produzir fortes desvalorizações cambiais, mesmo presumindo amplas medidas de contenção por parte do Banco Central.

Descobertas recentes mostram que é possível ver luz por trás de um buraco negro. Aguardemos..

Seguimos de olho.

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