Com a aproximação das eleições americanas, fica cada vez mais claro o que tem por trás do imbróglio entre Republicanos e Democratas a respeito de um novo pacote de estímulo fiscal.
Os Democratas, sob o comando da presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, querem um pacote de estímulo substancialmente maior que o que o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin e o presidente Trump gostariam.
Estão em jogo o discurso prudente do presidente sobre o controle das contas de estados e municípios endividados e a situação social e econômica que se encontram os cidadãos americanos após os efeitos da pandemia.
Tanto o resultado das eleições, em 3 de novembro, quanto os pacotes de estímulo, trarão mais volatilidade ao mercado cambial
Acompanhe nossa análise a seguir.
O pacote de estímulo fiscal
É consensual entre republicanos e democratas que um novo pacote de estímulo fiscal seja necessário neste momento aos Estados Unidos.
Tal como aconteceu em outros países afetados pela pandemia, a propagação do novo coronavírus trouxe um profundo desequilíbrio econômico que, a princípio, só pode ser parcialmente resolvido pelo Estado.
Apesar de já ter apresentado alguma melhora, as estimativas mais otimistas não apostam em retorno ao patamar pré-crise antes de 2022. De modo geral, a economia só está de pé em função dos esforços do Banco Central americano e dos estímulos fiscais que já foram aplicados em março.
São quase trinta milhões de cidadãos recebendo algum tipo de auxílio relacionado à perda de emprego. A taxa de desemprego que em janeiro era a menor desde 1969 (3,5%), fechou o mês de agosto deste ano em 7,9%.
A despeito da melhora do mercado de trabalho desde o mês de abril, o entendimento geral é de que as coisas só alcançarão patamares semelhantes aos vistos antes da pandemia quando a população dispor de uma vacina ou quando as autoridades locais conseguirem diminuir sensivelmente o número de casos e mortes.
As eleições
Quando falamos em retorno à normalidade dos Estado Unidos, estamos falando de uma economia de cerca de US$ 21 trilhões de dólares, mais ou menos um quarto do PIB global de 2019. Que representa cerca de 9% de todas as transações de comércio exterior do mundo.
Então, para o mundo todo, é de fundamental importância que os Estados Unidos voltem ao patamar pré-crise. No caso do Brasil, a situação é realmente urgente. A economia americana é a segunda maior parceira comercial do Brasil, atrás apenas da China.
Pode parecer apenas uma questão de tempo, afinal, o mundo se recuperou dos efeitos da peste negra, da gripe espanhola, da primeira e segunda guerras mundiais, da guerra fria, portanto, em breve a Covid-19 terá sido superada e tudo voltará ao normal.
Essa é apenas uma parte da história, a outra, se assemelha ao que ficou conhecido como guerra fria. Pelo menos é assim que estamos tratando a guerra comercial, empreendida pelo presidente Donald trump desde 2017.
É de fundamental importância precificar a vitória de Donald Trump e os efeitos desse acontecimento sobre os negócios com a China, Europa e o resto do mundo.
Nas transações comerciais estrangeiras acontece o que chamamos de soma zero. Países que constroem superávits comerciais, ou seja, exportam mais que importam, assim o fazem em “desfavor” de outro país. É simples, o superávit de um país é o déficit de outro.
Portanto, para fazer a América grande novamente, Trump pretende mudar a dinâmica do balanço de pagamentos americano. Trocar os volumosos e crônicos déficits na balança comercial por produção local. O que mudaria sensivelmente a dinâmica de reciclagem de capitais, chama de Minotauro Global pelo ex-ministro da Economia da grécia, Yanis Varoufakis.
Não é certo que a vitória de Biden cessaria, por completo, a guerra comercial, afinal de contas não é só uma guerra comercial, é uma disputa geopolítica cujo prêmio é a hegemonia da economia global. Mas uma alternância de poder poderia trazer algum alívio momentâneo, importante no processo de retomada pós-pandemia.
Impactos no câmbio
O ponto importante aqui é: a vitória de Donald Trump pode significar a renovação dos ataques comerciais em relação à China. Uma vitória de Joe Biden poderia trazer algum alívio momentâneo nas relações comerciais dos Estados Unidos com o resto do mundo.
Nós já vimos ao longo dos últimos quatro anos o potencial da guerra comercial sobre o valor das moedas dos países emergentes. Uma intensificação deste problema pode trazer uma taxa de câmbio mais elevada por um período muito mais prolongado, ou seja, uma situação conjuntural se transformaria em estrutural.
A vitória de Biden pode significar um alívio momentâneo. Ainda não sabemos. O que é quase certo é um clima de incerteza cada vez maior até que chegue o dia 3 de novembro.
Até lá, a promessa de volatilidade é grande, a depender do jogo político de Trump e das pesquisas de intenção de votos.
Veremos!