Categorias: Economia e mercado

O momento decisivo para o Real

Apesar das turbulências políticas, fiscais e sanitárias, a moeda brasileira passou por uma relativa valorização em relação ao dólar americano ao longo do mês de abril. Tal fenômeno não acontecia, em termos mensais, desde dezembro do ano passado.

Um abrandamento, também relativo, da pandemia no país, poderia colaborar para a valorização da moeda brasileira, no entanto, tal como tem acontecido nos últimos anos, o cenário político deve jogar contra nas próximas semanas.

Apesar de estarmos a cerca de uma ano e meio das eleições presidenciais, esta variável já deve compor a análise. A disputa do ano que vem pode deixar a CPI da Covid-19 no chinelo no que diz respeito às pressões sobre o câmbio.

Acompanhe nossa análise a seguir.

Política cambial e ambiente político precisam ser propositivos nos próximos dias

Em primeiro lugar, é importante ressaltar o porquê do momento ser decisivo para a moeda brasileira. 

Se a disputa presidencial deve trazer forte desvalorização do real em relação ao dólar estadunidense e outras divisas, é de fundamental importância que encontremos mecanismos capazes de fazer a moeda brasileira ganhar força em relação ao dólar. Quanto maior for a valorização do real nos próximos meses, maior será a “margem” que teremos para enfrentar o pleito eleitoral.

Se a moeda americana chegar no final do ano cotada próximo aos R$ 6,00, as turbulências causadas pelas eleições seriam capazes de levar o preço do dólar a patamares nominais nunca antes vistos por aqui. 

Por outro lado, se conseguirmos criar um ambiente propositivo para a valorização da nossa moeda, haveria espaço para uma desvalorização que poderia, hipoteticamente, ficar dentro da faixa que vimos durante a pandemia, por exemplo.

É evidente que a potência do Banco Central em relação à taxa de câmbio tem sido muito reduzida em função do ambiente político nacional e isso não deve mudar muito daqui até outubro do ano que vem. No entanto, a autoridade monetária continua sendo um prevalente instrumento de controle.

A moeda brasileira continua perdendo valor em relação às principais moedas do mundo

O SDR (Special Drawing Rights) é uma espécie de cesta de moedas do Fundo Monetário Internacional (FMI) composta por cinco das mais relevantes moedas globais: dólar americano, libra esterlina, euro, yuan e iene.

Avaliar o comportamento da moeda brasileira em relação a essa cesta de moedas é de fundamental importância, porque nos permite compreender o desempenho do real no mundo, inclusive em relação às moedas que apresentam menor volatilidade mensal. 

De janeiro a abril deste ano, a moeda brasileira já perdeu, em média, cerca de 4% do seu valor em relação ao SDR. Parte desta perda está ligada ao forte processo de desvalorização do real visto em janeiro e dezembro deste ano. Em março e abril, houve certa recuperação da divisa brasileira.

Ainda há muito o que caminhar, é verdade, afinal de contas entre janeiro de 2020 e abril deste ano a moeda brasileira perdeu cerca de 39% do seu valor em relação às principais moedas estrangeiras.

Os emergentes estão à frente do Brasil

Ser parte do grupo de países em desenvolvimento coloca outros entraves à cotação da nossa moeda, além daqueles fatores domésticos já destacados anteriormente. Nossa política monetária está condicionada à política monetária empreendida pelos países centrais, como Estados Unidos, membros da Zona do Euro e Japão. 

Isso significa que caso ocorra algum movimento em favor de uma política monetária mais restritiva nos Estados Unidos (aumento da taxa de juros), o Banco Central do Brasil tem que “compensar” estes aumentos por meio do aumento das taxas de juros por aqui também.

Na última terça-feira (04), a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse publicamente que existe a possibilidade de o Federal Reserve aumentar, marginalmente, a taxa de juros, antes do esperado, para evitar um sobreaquecimento da economia americana.

Essa possibilidade pode expor ainda mais o Brasil e os demais países em desenvolvimento a uma desvalorização do câmbio, o que seria extremamente nocivo ao Brasil, haja vista o processo crônico de desvalorização do real mesmo com a taxa de juros nos países desenvolvidos estarem próximas de zero.

Entre janeiro e abril, a moeda brasileira perdeu cerca de 4,3% do seu valor em relação às dez maiores moedas de países emergentes. Apesar de a moeda brasileira ter apresentado alguma reação no mês de abril, o saldo no primeiro quadrimestre é ainda bastante desfavorável ao país.

O mês de maio mal começou e a moeda brasileira já está apresentando perda de dinamismo em relação a algumas divisas importantes emergentes como o rublo russo, a rúpia indiana, o rand sul-africano e o ringgit malaio. 

Prognóstico

O começo do segundo quadrimestre deste ano marca um momento decisivo para a moeda brasileira. As pressões inflacionárias e monetárias vindos do ambiente externo e presente nas questões domésticas continuam atuando pela desvalorização do real que, a despeito disso tudo, teve um bom momento em abril.

Driblar as adversidades internacionais e domésticas será um grande exercício ao país, pois nos preparará para eventos de grande estresse previstos para no âmbito da corrida presidencial do ano que vem.

O comportamento do câmbio nos próximos meses será decisivo para sabermos se o real alcançará patamares nunca antes vistos ou se conseguiremos, apesar de tudo, manter a cotação do dólar nos níveis atuais.

Veremos.

André Galhardo

Economista-chefe da Análise Econômica, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, e é autor do livro “O Salto do Sapo: a difícil corrida brasileira rumo ao desenvolvimento econômico.”

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