Agora é oficial. Contamos com um novo presidente no Banco Central: Roberto Campos Neto.
Nesta semana (13), ele fez o seu primeiro discurso oficial na cerimônia de transmissão de cargo. E, como eu já havia comentado neste espaço, a sua indicação já havia sido aprovada pelo Senado no último dia 26. Além dele, outros dois novos diretores foram empossados para a nova configuração do Banco Central.
Quem manda aqui?
Essa exigência de aprovação pelo Senado é necessária porque, aqui no Brasil, o BC ainda não é independente. Quando olhamos lá fora, estamos bem atrasados, já que a maioria dos países conta com essa autonomia em suas decisões. Por exemplo, na Nova Zelândia, o BC é independente desde 1989. Os Estados Unidos são outro exemplo clássico, a exemplo do que vimos recentemente, na discussão entre Trump e o Fed (banco central norte-americano).
Além disso, quando analisamos o nosso próprio passado recente, acompanhamos o BC como alvo de ingerência política, resultando em políticas monetárias irresponsáveis e consequente perda de confiança. Apenas após o impeachment de Dilma, e com novas nomeações do governo Temer, foi possível reconquistar a sua confiança no mercado.
Isso, por si só, é um ponto que faz a independência ser tão importante. É fundamental que o BC não sofra ingerência em suas decisões.
Fala sem novidades
O lado positivo é que Campos Neto está comprometido em defender a autonomia da instituição. Tanto que reafirmou tal posição em discurso ontem e afirmou que terá como foco estabilizar o poder de compra da população (inflação controladíssima) e assegurar um sistema financeiro sólido e eficiente.
Ainda, não deixou de repetir o clássico mantra de “cautela, serenidade e perseverança” em relação aos próximos passos para a taxa de juros, a Selic.
E, em linhas gerais, optou por manter o mesmo tom de comunicação que vinha sendo proposto pelo antigo comando do BC. Por enquanto, nada novo.
E o dólar com isso?
Tudo bem, eu sei que neste espaço você está preocupado com as questões macroeconômicas, mas também em saber quais serão os impactos para o dólar e as suas possíveis flutuações.
A questão é que, possivelmente, veremos sim um impacto em nosso câmbio relacionado com as nossas reservas internacionais.
Como o BC atua no câmbio?
A forma mais utilizada pela instituição para manter o câmbio mais estabilizado, é por meio da oferta de contratos de “swap cambial” (uma venda de dólares no mercado futuro), o que faz com que as pressões de alta no mercado a vista sejam reduzidas.
Além dessa possibilidade, o BC pode vender dólares com o compromisso de recompra em uma data determinada – é o que chamamos de “leilões de linha”.
O leilão de linha implica venda de dólares das reservas internacionais do país ao mercado financeiro. Essas operações foram muito utilizadas no Brasil na crise financeira internacional de 2008 e 2009, quando o BC se tornou o provedor de última instância de divisas. E, mais do que isso, sobreviveu à crise sem impactos na reserva internacional.
Como o BC também administra as reservas internacionais, que estão atualmente acima de US$ 380 bilhões (um valor bem alto), é possível vermos a sua utilização para proteger o real de ataques especulativos.
Fora essa possibilidade, o custo de carregamento das reservas é muito alto. Por isso, faz sentido alguma alteração sim. O próprio super ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que poderia optar por vender parte das reservas no futuro para abater da dívida pública.
As reservas são fundamentais para nos proteger em momentos de turbulência. Mas quando colocamos na balança o seu tamanho atual e custo que temos, acredito que veremos alterações em sua configuração.
Um dos possíveis resultados disso tudo é um real mais atrativo.
Calma, não é para achar que voltaremos a ter o dólar a hum real, mas sim que – após a aprovação da reforma da Previdência e alguns meses de atuação do novo presidente – uma taxa mais atrativa é bem factível. Vamos acompanhar a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana se teremos sinais ou quaisquer deixas. Eu te manterei informado.
Enquanto isso, por ora, o patamar em torno dos R$ 3,75 parece bem confortável.