O relatório Focus do Banco Central mostra que o mercado prevê que o dólar vai ficar acima de R$ 4,00 até o final do ano. Entenda o que isso significa para a economia
Pela primeira vez no ano, o relatório Focus do Banco Central revisou a projeção para o dólar no final de 2019, para R$ 4. É a nova realidade de patamar da moeda. Com a taxa Selic mais baixa, a inflação sob controle, os economistas já passaram a acreditar que o câmbio mais elevado não irá influenciar os preços e essa, então, será a nova prática: dólar forte e Selic baixa.
Neste contexto, os questionamentos passam a ser de quando veremos o crescimento e o fluxo externo de volta às terras tupiniquins. Ainda que alguns números estejam ajustados, ainda patinamos no mesmo lugar e não conseguimos ver o tão aguardado desenvolvimento econômico, nem o investimento estrangeiro que, por ora, está abaixo do esperado para o ano.
O questionamento que se faz é se a aprovação da Reforma da Previdência é suficiente para vermos o crescimento de volta e um maior fluxo de dinheiro estrangeiro chegando. Seria o ponto ideal para termos como consequência um dólar mais barato com a retomada da confiança em nosso país e vinda de capital para cá (entra dólar, cai a sua cotação)?
Expectativas dos investidores estrangeiros
Aparentemente, a reforma da Previdência não será suficiente para reanimar os investidores. Ao que tudo indica, o fluxo estrangeiro mais forte está mesmo aguardando avanços concretos em nossa economia ainda debilitada.
O cenário internacional não está dos mais favoráveis. Ainda há receios por todos os lados, e os questionamentos sobre o crescimento global persistem. Com isso, os possíveis investidores estão mantendo o seu dinheiro em caixa, ou seja, estão cautelosos e aguardando mais definições.
Por exemplo, no próximo ano há eleições nos EUA. Como ninguém sabe qual será o novo presidente do país e quais os possíveis desfechos da guerra comercial, como arriscar investir em um país emergente com tanta instabilidade?
Por isso o fluxo de investimentos estrangeiros pode demorar a reagir.
Exportação de produtos e serviços
Por outro lado, o dólar acima de R$ 4,00 favorece alguns setores como os exportadores e profissionais relacionados à área, como de comércio exterior. As exportadoras de carne, laranja, soja, papel e celulose e até fabricantes de sapatos são as que mais lucram, em especial aquelas com baixo endividamento em dólar ou com as suas dívidas protegidas.
Além disso, há profissões no Brasil com salários estipulados na moeda americana. As mais comuns são funções em navios atracados e em plataformas offshore de gás e petróleo. Quem vive aqui e ganha em dólares, comemora. E com esses movimentos, temos a entrada de mais moeda forte por aqui.
O que esperar daqui para frente?
Para as instituições financeiras pesquisadas no relatório Focus, esses dois pontos e outros mais, poderão ser os catalisadores de um dólar levemente mais fraco no médio prazo. O relatório fala em uma cotação do dólar a R$ 3,91 no final de 2020, sinal de que se espera uma leve valorização do real. Afinal de contas o que precisamos para vermos a sua cotação cair é que mais dólares entrem em nosso país. Vamos ver se o cenário se confirma.
Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira