A última semana foi fortemente marcada pela reforma da previdência. Os avanços na Câmara encheram o mercado de otimismo, puxando o Ibovespa para sua máxima histórica e colocando o Real em uma forte trajetória de valorização. Dados externos fortaleceram a trajetória de valorização do Real, com um breve revés na quinta (11/7). Acompanhe a seguir.
Real x Dólar
Na semana que passou, a votação da Reforma da Previdência na Comissão Especial catalisou forte otimismo no mercado. Combinado ao otimismo interno, a perspectiva de queda dos juros nos EUA trouxe mais dólares para o Brasil, jogando mais peso a favor da valorização do Real.
O Real ganhou novo impulso frente ao Real com o avanço da previdência no plenário da Câmara, após uma vitória com 369 votos em primeiro turno, 61 votos a mais do que o necessário para passar.
Paralelamente, a previsão inicial para a votação em segundo turno era no sábado. Líderes e demais deputados indicaram que a votação do segundo turno deve ser antecipada para sexta-feira (12).
Nos EUA, o presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, falou aos congressistas americanos no Senado, nos dias 10 e 11, sobre a situação da economia norte-americana e as perspectivas para a política monetária.
A expectativa geral era de fortalecimento da perspectiva de queda dos juros. Tal perspectiva se confirmou em seu discurso no dia 10. Contudo, a Sabatina do dia 11 trouxe uma breve inflexão após a divulgação do núcleo do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) referente ao mês de junho, que registrou alta de 0,3%, levando o índice aos 2,1% em 12 meses.
Desde o dia 05 de julho, o Dólar saiu de R$ 3,8221 e, até o dia 10, bateu R$ 3,7539, uma apreciação do Real de 1,82%. No momento que esta análise foi realizada, o dólar se fortalecia com relação ao Real por volta de 0,15%, sendo negociado na casa do R$ 3,7590.
Real x Euro
Após registrar oito leituras negativas nos últimos doze meses, a produção industrial mensal da Alemanha registrou uma leve alta no mês de maio na comparação com o mês de abril. Relatório preliminar de novas ordens à indústria manufatureira indicava recuo de 2,2% com relação ao mês de abril.
Os recentes movimentos da produção industrial alemã poderiam ser explicados, em parte, pelo aumento de importações de produtos manufaturados, evidenciando uma possível perda de competitividade da indústria alemã em relação à chinesa, por exemplo.
Essa constatação seria de alívio geral para aqueles que querem que se dissipe logo a ideia de uma crise no biênio 2019-20. Contudo, as importações totais alemãs estão em queda há quatro meses consecutivos, tendo registrado variação negativa de 0,2% em maio. Isso reforça a perspectiva de crise na maior economia da União Europeia.
Combinado ao fortalecimento desta perspectiva de crise, os dados dos EUA e a recente ofensiva Trump contra a União Europeia colocam mais incertezas em torno do Euro.
De forma similar ao Dólar, o Euro saiu de R$ 4,2903 e, até o dia 10, foi negociado a R$ 4,2263, uma depreciação do Euro de 1,5%. Enquanto esta análise era realizada, o Euro também se fortalecia com relação ao Real por volta de 0,12%, sendo negociado na casa do R$ 4,2312.
Real x Libra Esterlina
A produção industrial britânica avançou 1,4% em maio em comparação ao mês de abril. O dado foi superior às projeções, que indicavam alta de 1,2%. Na comparação anual, a indústria britânica aumentou sua produção em 0,9%.
O dado poderia ter um impacto mais positivo, caso a perspectiva do Banco da Inglaterra (BoE) não trouxesse certo pessimismo ao mercado. O presidente do BoE, Mark Carney, continua disseminando preocupações acerca da trajetória de sustentabilidade da economia britânica, em torno do Brexit e os side effects da Guerra Comercial com a Zona do Euro.
Um evento político também trouxe problemas à Libra Esterlina. O embaixador britânico Kim Darroch que atuava em Washington renunciou ao cargo vazamento de mensagens confidenciais de 2017 nas quais chamava o presidente Donald Trump de “inepto” e sua administração de “disfuncional”.
As mensagens eclodiram uma crise diplomática entre Estados Unidos e Reino Unido em um momento delicado para a economia britânica. Nesse contexto, a Libra perdeu valor para o Real partindo de R$ 4,7866 no dia 5 de julho e sendo cotada a R$ 4,6946, quase 2% de depreciação.
Perspectivas
As perspectivas que se desenham é de uma trajetória de fortalecimento do Real frente às principais moedas de países desenvolvidos e emergentes, devido aos avanços da previdência.
Contudo, uma nova âncora começa a ser formar. Uma nova agenda de reformas estruturais, incluindo a reforma tributária, está sendo elaborada pela equipe do Ministério da Economia.
A agenda, apelidada pelo mercado de “Day After”, deve trazer um impulso aos investimentos no Brasil e retomar o crescimento econômico no médio prazo.
André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.