Na última segunda-feira (1º), completamos 25 anos da implementação do plano Real. O maior vilão da época, uma hiperinflação crônica, foi finalmente vencido após cinco tentativas fracassadas de planos econômicos.
Não eram apenas os preços nas gôndolas dos supermercados que eram remarcados todos os dias, os impostos também eram hiperinflacionários e ajudavam a financiar os gastos públicos, que estavam nas alturas.
Para contornar a situação, foi implementado o tripé macroeconômico, composto pela meta de inflação, meta fiscal e pelo câmbio flutuante.
O diferencial para que este objetivo fosse alcançado foi como este processo foi feito: com muita cautela para que a mensagem de confiança e estabilidade pudesse ser passada.
O projeto foi bem comunicado e buscou restaurar a capacidade de planejamento do empresário através de etapas simultâneas para desinchar a economia, transmitindo confiança no país e moeda.
Passado todo esse tempo, ainda temos mais outros desafios para superar: colocar o Brasil de volta em direção ao crescimento e deixar o Real mais estabilizado.
A situação atual
De lá para cá, muita coisa mudou. Contudo, não significa que não temos desafios na condução da política monetária. Vamos aos principais pontos.
Para começar, este ano foi marcado pela mudança na gestão do Banco Central: sai Ilan Goldfajn e entra Roberto Campos Neto como presidente.
Sempre que temos uma passagem de bastão, é preciso que o novo comandante conquiste a confiança do mercado financeiro, das pessoas e empresários. Há todo um processo e necessidade de comunicados claros para que a credibilidade seja confirmada e que nenhuma surpresa ocorra no meio do caminho.
Com isso, além da própria alteração de gestão, há uma série de outros desafios que devem ser conduzidos pela equipe econômica. Um exemplo, quando olhamos os últimos dados como o Índice de Confiança Empresarial (ICE), percebemos essa fragilidade. O índice subiu 0,6 ponto em junho ante maio, chegando aos 92,6 pontos. É a primeira alta no ano, mas ainda assim, é apenas uma estabilização das seguintes quedas dos meses anteriores.
Olhando cada setor, tivemos queda de confiança em junho na Indústria, que recuou 1,5 ponto. Enquanto isso, o setor de Serviços avançou 2,2 pontos, o Comércio cresceu 1,2 ponto e a Construção subiu 2,1 pontos. Números muito fracos, apesar de leve melhora.
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O que realmente falta para vermos uma inversão de cenário é a redução da incerteza e recuperação gradual da confiança. O BC está empenhado em garantir essa retomada, porém, sozinho, nenhum feito é conquistado.
Atualmente, o pilar que sustentará a reconquista da confiança nos mais diferentes meios, além da estabilização do Real e salvação das contas públicas, é a reforma da Previdência. Com a sua aprovação, um longo caminho de crescimento econômico e o Real dentro de um patamar aceitável poderão ser vistos.
Este deverá ser o primeiro passo, como vimos durante a implementação do Plano Real – comunicados claros e o governo demonstrando confiança em seus atos. Caso contrário, todo um caminho inverso é traçado: déficit se torna risco, aumento de juros, de dívidas, inflação e câmbio. Não há segredo.