O dólar disparou nas últimas duas semanas. O que está acontecendo? Os indicadores mostram que o dinheiro estrangeiro está saindo do Brasil. São diversos dados que apontam a saída de dólares. E isso impacta a performance do câmbio.
Vamos aos exemplos. O fluxo cambial encerrou em junho com o pior resultado para o mês na série histórica (desde quando começou a ser calculada em 1982), totalizando uma saída de US$ 8,28 bilhões. No dado mais recente, até meados de julho, o fluxo ficou negativo em US$ 4,75 bilhões.
Na Bolsa de Valores, o fluxo voltou a registrar a maior saída no ano até o primeiro pregão desde a crise de 2008. A posição líquida negativa ultrapassa os R$ 11,2 bilhões até o dia 1º de agosto. São dados nada animadores.
Razões do fluxo cambial negativo
Há algumas razões para essa saída de dólares do Brasil. Podemos começar com o cenário internacional conturbado. EUA e China estão longe de um acordo ou trégua mais prolongada quanto à guerra comercial travada entre os dois países.
Além disso, nesta semana tivemos um capítulo a mais: uma possível guerra cambial. Não é segredo que o gigante asiático, vez ou outra, atua no câmbio. E na segunda-feira (05), retaliou Trump mexendo no seu câmbio e desvalorizando a sua moeda. Neste cenário, há uma fuga do capital internacional por ativos seguros, como o dólar e ouro.
Ademais, não é só este fator que pesa na decisão do investidor internacional, temos ainda um fator interno. O carry trade deixou de ser tão vantajoso devido a nossa taxa de juros estar tão baixa.
Carry trade são empréstimos captados em uma moeda de taxa de juros baixa (EUA), para ganhar tanto na conversão do valor em outra moeda (real), quanto em aplicações em títulos que forneçam uma taxa de juros mais alta (Brasil). É uma especulação financeira, na qual se ganha com a diferença dos juros.
Com os EUA no patamar entre 2% a 2,25%, e aqui a 6% ao ano, o grande atrativo começa a ser perdido a cada vez que os nossos juros são reduzidos (que tem perspectivas de cair ainda mais). Portanto, quem é que vai colocar dólares aqui? Perde-se mais uma forma de trazer dólares ao nosso país, o que não deixa com que o Real se desvalorize.
Ações do Banco Central
Com o dólar nas alturas e a Selic nas mínimas, todo mundo quer mesmo é saber o que Campos Neto, presidente do Banco Central brasileiro, e a sua equipe irão fazer para estancar a saída de dólares.
Como o mandato é de que a inflação seja mantida sob controle, se o dólar perder a linha e subir muito, os preços internos podem ser afetados. Por isso, apesar de não ser uma incumbência do BC controlar o dólar, ele acaba fazendo isto indiretamente, pois deve controlar a inflação.
Nesta semana, o BC anunciou que irá colocar todos os 11.000 contratos de swap em rolagem de outubro – que já mais do que vinha sendo feito. Mas além da liquidez com oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, há quem diga que o BC possa ir um pouco adiante.
Esse segundo passo, diz respeito às reservas cambiais que estão a níveis bem altos. Por isso, o BC pode interferir com a oferta efetiva de moeda estrangeira das nossas reservas cambiais (algo em torno de 10%).
Daqui em diante, não teremos um padrão. O dólar deverá seguir pelo seu caminho randômico, enquanto investidores internacionais sabem não para onde ir e encontram no dólar o seu porto seguro. Agora, devemos acompanhar como que o BC se posicionará diante de tal mudança. Acompanharemos.
Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira